Conheça a Bototerapia, técnica assistida por botos-cor-de-rosa no Amazonas

Luiz Felipe, durante a sessão da bototerapia, com o fisioterapeuta Igor Andrade (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS – As águas da Amazônia criam um ambiente favorável para acolher crianças e adolescentes com deficiência. É nas margens do Rio Negro que acontece a bototerapia, uma prática terapêutica que usa o mamífero aquático da região para criar um vínculo com a criança.

Os exercícios são realizados com o auxílio de um coterapeuta e ajuda a melhorar o condicionamento respiratório e cardiovascular dos pacientes. O contato com o golfinho da Amazônia conforta, diminui o estresse e ajuda a combater a depressão. A sessão é realizada uma vez por mês.

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A prática foi criada pelo fisioterapeuta Igor Andrade, que alinhou técnicas profissionais e a interação com o animal. A bototerapia ou o rolfing assistido por golfinhos de rio é uma técnica utilizada com sucesso na reabilitação de seres humanos em diversos países, e em centros de pesquisa e tratamento da saúde humana. A bototerapia trabalha com os princípios físicos da água como: empuxo, pressão hidrostática e flutuação.

A bototerapia é um método de interação ou terapia assistida com os botos livres da Amazônia, desenvolvida pelo fisioterapeuta Igor Simões de Andrade, que realiza a atividade de forma totalmente voluntária. As atividades proporcionam às crianças e aos adolescentes uma maior integração com a natureza e a melhoria da qualidade de vida.

Glenda Neves durante a sessão da bototerapia (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

A Glenda Neves tem paralisia cerebral e desde os quatros anos de idade faz sessões de bototerapia. Hoje, aos 14 anos, a mãe conta os benefícios que a terapia proporciona para a filha.

“É gratificante. Ela já está há uns 10 anos fazendo tratamento e toda vez que ela vem é melhora no convívio, né? Para mim, se esse tratamento fosse regular para todas as crianças, seria um benefício bem amplo, independente da patologia”, disse Jéssica Neves, mãe de Glenda.

Luís Felipe pratica a bototerapia há dois anos (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Para cada tratamento existe um benefício diferente. O método é utilizado para melhorar o desempenho de pacientes com autismo, paralisia cerebral e Síndrome de Down.

“Por exemplo, no autismo, a criança tem atenção mais difusa, tem dificuldade de foco, então, o trabalho na água com o animal entra como coterapia. Então, o autista tende a ficar mais concentrado, coisa que não consegue no consultório por conta daquele ambiente entre 4 paredes. Então, aqui, ele quebra barreiras e se reintegra mais com o ser humano.

O programa da bototerapia é feito gratuitamente, com o apoio da comunidade, e atende crianças e adolescentes com deficiência que não possuem condições de pagar um tratamento como este. Em 15 anos, já deu suporte a mais de 300 famílias.

Autorização do Ibama

Para realizar a bototerapia com os animais subaquáticos foi necessário pedir autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “Sim, é o único parecer técnico que existe na interação com o ser humano, com o golfinho de rio, ou boto, é o da bototerapia, da interação terapêutica. Existe o ordenamento do turismo, só que a bototerapia passa por fora do turismo, a gente, justamente, quer é trazer o grupo de crianças sozinhas” afirmou o fisioterapeuta.

Tese de Mestrado

A bototerapia, inclusive, já foi tema da dissertação de mestrado de Tarciano Batista e Siqueira pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). No estudo científico foi avaliado os “Impactos socioambientais potenciais da terapia assistida com o boto-cor-de-rosa (Inia Geoffrensis), no município de Iranduba, no Amazonas”.

A partir do estudo dos impactos socioambientais da terapia assistida com o boto-cor-de-rosa, é possível identificar seus aspectos positivos e negativos. Um dos principais pontos positivos é inerente à percepção do boto, a bototerapia parece haver potencial para prover mudanças na forma de ver esse animal. Ao ver um animal dócil em companhia de crianças, capaz de melhorar sua saúde e seu bem-estar, a figura cultural de animal traiçoeiro e gerador de conflitos pode ser deixada por trás, o que pode contribuir como estratégia de conservação do Inia Geoffrensis.

Doações

O projeto bototerapia busca parcerias para dar continuidade às atividades de interação ou terapia assistidas com os botos livres da Amazônia. Desde novembro do ano passado, o projeto, que atende crianças e adolescentes com deficiência, do Abrigo Moacyr Alves, está suspenso devido ao período de chuvas e, também, por causa dos gastos com o transporte via fluvial.

Wallace Araújo tem paralisia cerebral e foi pela primeira vez na bototerapia (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

As sessões de bototerapia que unem Yoga Rolfing e Botos da Amazônia acontecem uma vez por mês, na Praia Amigos do Boto, nas proximidades da Vila de São Tomé, e no Flutuante Boto Amazônico, próximo a Acajatuba. Os dois locais necessitam de uma travessia, no rio, tornando dispendioso o transporte, que custa em média o valor de mil reais por viagem.

“Se conseguirmos apoiadores que possam custear os valores do transporte, podemos levar mais vezes as crianças e incluir mais pessoas na terapia. Podemos ajudar uma criança a permitir ter mais contato com as pessoas, ter mais movimento e equilíbrio, melhorar a respiração, dentre muitos outros benefícios”, afirmou Ygor.

Os interessados podem entrar em contato nos telefones: (92) 99363-4484 ou 99142-6764 que também funcionam como WhatsApp.

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