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Militante do movimento negro, João Jorge toma posse na Fundação Palmares
Para João Jorge, o momento é de renascimento da fundação, a partir de investimento financeiro em políticas públicas e apoio a projetos da área (Fernando Frazão/Agência Brasil)
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27 de abril de 2023
Da Revista Cenarium*
BRASÍLIA – A Fundação Cultural Palmares (FCP), do Ministério da Cultura, empossou, nesta quinta-feira, 27, o novo presidente da entidade, João Jorge Rodrigues, produtor cultural e militante do movimento negro, no Brasil, nomeado em 21 de março.
A data da posse foi escolhida por ser o Dia da Liberdade (Freedom Day) na África do Sul, instituído em 1994, quando ocorreram as eleições democráticas na nação sul-africana, marcando o fim de mais de 300 anos de colonialismo e segregação racial (apartheid), naquele País.
A solenidade, realizada no Palácio do Itamaraty, em Brasília, contou com a presença de mães de santo de religiões de raízes africanas, indígenas, autoridades, familiares e representantes de blocos afro que dançaram, oraram e cantaram.
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Na cerimônia, o líder indígena brasileiro Marcos Terena relembrou as lutas dos tempos de ditadura militar e da visita que fez, ao lado de lideranças negras, ao Parque Memorial Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, como forma de combate ao racismo. Ao destacar a força do nome da fundação, Terena apontou, ainda, que o Ministério da Cultura contribui, efetivamente, para o resgate da ancestralidade e da identidade cultural. “É a riqueza dos novos valores que só o Ministério da Cultura vai conseguir produzir com força, emoção e com o coração, como nesta manhã.”
Ao sediar a cerimônia de posse, o secretário de Promoção Comercial, Ciência, Tecnologia, Educação e Cultura, do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Laudemar Gonçalves, disse que pretende, cada vez mais, mostrar a diversidade do povo brasileiro ao mundo.
“A valorização das nossas raízes africanas e a preservação de nossa ancestralidade afro-brasileira não constituem um compromisso acessório do Brasil. Em um País que sofreu e ainda sofre os perversos efeitos do falso mito da democracia racial, defender a tradição cultural do povo negro brasileiro é um ato de resistência incontornável que justifica o poderoso nome da Fundação Cultural Palmares”, disse Gonçalves.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, após ser celebrada como a intérprete da música Faraó Divindade do Egito, do grupo bloco afro Olodum, disse, em seu discurso, que a posse da fundação marca a retomada da valorização da instituição e o compromisso do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a proteção e a promoção da cultura afro-brasileira. “Empossar João Jorge é dar uma resposta ao que aconteceu na gestão anterior, do desrespeito ao legado do povo afro, à falta de consciência pelos que passaram os nossos antepassados”, classificou a ministra. “Ser carrasco dos desvalidos é a pior covardia que se pode praticar pelas pessoas racistas”, disse a ministra.
Margareth Menezes repudiou falas do antecessor de João Jorge, o ex-presidente da fundação Sérgio Camargo. “É repugnante lembrar que uma pessoa negra teve a ‘pachorra’ de dizer que a escravidão foi boa para o nosso povo. A ignorância, a falta de respeito, de humanidade, a falta de consciência, a perversidade que a escravidão revelou, torna-se mais dolorida quando uma pessoa negra tem o sadismo de dizer essas palavras”.
Novo presidente
No discurso de posse, o presidente da fundação, João Jorge, exaltou nomes de ativistas da causa negra e, em especial, das mulheres que lutaram pela negritude.
Emocionado, João Jorge recordou as perseguições sofridas contra a entidade, desde sempre, e homenageou os ’empregados’ da casa. “Estamos reconstruindo e com o árduo e intenso trabalho de uma pequena equipe. Uma equipe de funcionários que resistiram à opressão, ao arbítrio e à perseguição moral”.
O novo presidente prometeu continuar a defender a entidade, desde o nome Palmares, como referência ao movimento quilombismo, até a volta do símbolo do machado do orixá Xangô à logomarca da entidade, ocorrida na quarta-feira.
O presidente da Palmares enfatizou que lutar é preciso. “Em muitos países, dizem que são democráticos, falam em oportunidades, mas, na realidade, a população pobre, a população negra, as mulheres, a população indígena, os que são de outras orientações sexuais sabem muito bem que [as oportunidades] não existem”.
Para João Jorge, o momento é de renascimento da fundação, a partir de investimento financeiro em políticas públicas e apoio a projetos da área. Ele concluiu com um balanço dos primeiros meses do governo do presidente Lula. “A Palmares não é minha, é nossa. É do povo brasileiro. Nós vamos fazer a Palmares de novo”.
“O Estado brasileiro se abriu para nossa gente. Em quatro meses, uma lei contra intolerância religiosa, uma atenção especial com o Cais do Valongo e a Pequena África. Em 4 meses, uma parceria para um programa de combate ao racismo, nos Estados Unidos, e uma presença na China para um programa de audiovisual que pode nos ajudar muito. Em 4 meses, uma Fundação Palmares se reinventando.”
Biografia
João Jorge Rodrigues é fundador e diretor do bloco afro carnavalesco Olodum, de Salvador, na Bahia, que completou na terça-feira, 25, 44 anos de existência.
O novo presidente da fundação é militante do movimento negro no Brasil. O advogado João Jorge, graduado em Direito pela Universidade Católica de Salvador (2001) e com mestrado em Direito pela Universidade de Brasília (2005) tem atuação marcada na área de Direito Constitucional, em temas como direitos humanos, cidadania para afrodescendentes, comunicação e cultura negra.
João Jorge foi membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) até 2016, quando o colegiado foi extinto. Recentemente, João foi escolhido como membro consultor da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra, criada em 2016 pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para fazer o resgate histórico do período escravocrata brasileiro e para discutir formas de reparação aos negros.
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