Ministra da Igualdade Racial alerta que negros sofrem racismo ambiental todos os dias

Anielle Franco assumiu o Ministério da Igualdade Racial do Governo Lula. (Bléia Campos/Divulgação)
Da Revista Cenarium*

SÃO PAULO – “Racismo ambiental é as pessoas negras indo para qualquer lugar e, infelizmente, ficando às margens. São elas que sofrem quando acontecem situações como essa.” É assim que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, lembra as diversas enchentes que ocorreram no começo do ano no Rio de Janeiro.

Na época, grupos políticos a criticaram nas redes sociais e afirmaram que o termo “racismo ambiental” havia sido inventado.

Esse conceito não fui eu que criei. É um conceito que vem dos EUA, já está há décadas“, explica. “Racismo ambiental existe e tem um número imenso de pessoas negras que passam por isso todos os dias.

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Retrato de Anielle
Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, em seu gabinete em Brasília – Pedro Ladeira – 20.mar.23/Folhapress

Ela diz, por exemplo, que as pessoas em bairros nobres da capital fluminense não sofrem as consequências de uma chuva forte da mesma forma que aquelas que estão na Baixada Fluminense.

Anielle associa ainda a expressão a problemas enfrentados pelos quilombolas. Para ela, ao mesmo tempo em que eles são afetados pelo racismo ambiental, também são fundamentais contra as mudanças climáticas. “Não só quilombolas, como os povos indígenas, são agentes de conservação ambiental“, destaca.

Nesta entrevista à Folha, a ministra comenta, entre outros desafios, as dificuldades em aumentar o número de quilombos titulados e as medidas para melhorar a proteção de lideranças das comunidades.

Semanas atrás, quando ocorreram enchentes no Rio de Janeiro, a senhora falou sobre racismo ambiental e foi criticada por alguns setores. Essa situação pode ser entendida como racismo ambiental? Qual a sua avaliação sobre as críticas?

Ainda é difícil olharem para nós, pessoas negras, e reconhecerem que somos pessoas humanizadas, estudadas. Pessoas que precisam, merecem e têm condições de estarem em qualquer lugar. Não há nada que a gente fale nesse lugar e que as pessoas não tentem fazer algum uso político para desmerecer.

Assim como foi [quando falei] sobre racismo linguístico, que é uma coisa que eu estudo há muito tempo. Eu sou doutoranda em linguística aplicada.

Esse conceito [de racismo ambiental] não fui eu que criei. É um conceito que vem dos EUA, já está há décadas.

É só olhar o que acontece quando tem uma chuva torrencial no Rio de Janeiro. Copacabana, dificilmente acorda no dia seguinte inundada. As áreas nobres que têm historicamente sistemas já construídos não sofrem com aquilo.

As pessoas negras historicamente estão onde? Racismo ambiental é a falta de estrutura para que as pessoas tenham condições de sobreviver. O calor que você sente em Copacabana, não é o calor que você sente em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.

Racismo ambiental é as pessoas negras indo para qualquer lugar e, infelizmente, ficando às margens. São elas que sofrem quando acontecem situações como essa [das chuvas].

Não só quilombolas, como os povos indígenas, são agentes de conservação ambiental. A gente faz parte disso, e o racismo ambiental está inserido. A ministra [do Meio Ambiente] Marina Silva, que é uma unanimidade do tema, falou e reiterou. Esse também foi o nosso maior debate na COP [28, conferência da ONU sobre mudanças climáticas, em Dubai, no fim de 2023].

O governo federal titulou 11 comunidades em 2023, e lideranças quilombolas dizem esperar que o processo acelere a partir de agora. O que pode ser feito para titular mais?

A gente tem o número de 16 [titulações] somando tudo o que foi feito tanto nacionalmente quanto em governos dos estados. Tivemos um avanço acima da média em algo que não foi feito nem no Lula 1 e 2, Dilma, e depois do golpe.

É um processo delicado. Titular é o último passo. Na transição [de governo], quando a gente sentou com a Conaq [Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos], o primeiro pedido deles foi: coloque como objetivo que todo o processo caminhe.

Tem oito passos, e a titulação é o nono. Acho lindo titular, mas são processos que estão há décadas parados. Primeiro que a gente tem que fazer com que todas as etapas do processo, como um todo, andem.

(*) Com informações da Folhapress
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