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Mulheres com mais filhos são mais propícias a se afastarem do mercado de trabalho
No quarto trimestre de 2022, de um total de 1,9 milhão de mães com três filhos ou mais, 40,69% (quase 798,2 mil) estavam fora da força de trabalho por terem de cuidar dos afazeres domésticos, dos filhos ou de outros dependentes (Reprodução/Shutterstock)
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13 de maio de 2023
Da Revista Cenarium*
RIO DE JANEIRO – Apesar do avanço das discussões sobre a divisão das tarefas do lar, nos últimos anos, os afazeres domésticos ainda recaem em larga escala sobre as mulheres e afastam do mercado de trabalho, principalmente, as mães com mais filhos.
No quarto trimestre de 2022, de um total de 1,9 milhão de mães com três filhos ou mais, 40,69% (quase 798,2 mil) estavam fora da força de trabalho por terem de cuidar dos afazeres domésticos, dos filhos ou de outros dependentes.
É o maior percentual para o período de outubro a dezembro em seis anos. Ou seja, desde 2016.
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Enquanto isso, somente 0,62% dos homens em casais com três ou mais filhos (o equivalente a 11,9 mil) estavam fora da força de trabalho, em razão dos afazeres domésticos ou do cuidado dos dependentes no quarto trimestre de 2022.
Trata-se do maior percentual para o período de outubro a dezembro, desde o início da série histórica, em 2012, mas o abismo em relação às mães persiste.
É o que indica um levantamento do laboratório de estudos PUCRS DataSocial, a partir de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A análise abrange homens e mulheres, de 25 a 50 anos, que fazem parte de casais heterossexuais, com ou sem filhos, de 0 a 15 anos.
A população fora da força de trabalho é composta por profissionais que não estão empregados nem procurando oportunidades no setor formal ou informal.
Segundo o levantamento do PUCRS DataSocial, as diferenças também são marcantes entre os casais com menos filhos.
Entre as mulheres com dois filhos de 0 a 15 anos, o percentual fora da força, em razão dos afazeres domésticos ou do cuidado de dependentes, alcançou 28,83% no quarto trimestre de 2022. É o maior patamar desde 2016.
Entre os homens com dois filhos, a marca foi de apenas 0,45% nos três meses finais de 2022. Ainda assim, é a maior da série para o quarto trimestre.
No recorte dos casais com um filho de 0 a 15 anos, o percentual de mães fora da força, por motivos domésticos, foi de 21,89%, o maior desde 2020. Entre os homens com um filho, a marca foi de 0,55%, o maior da série.
André Salata, pesquisador do PUCRS DataSocial e um dos responsáveis pelo levantamento, destaca que a parcela das mães fora da força vinha caindo antes da pandemia de Covid-19. Com a crise sanitária, que paralisou escolas e empresas, esse grupo voltou a subir.
“É um dado bastante chocante. Apesar de algumas mudanças que estamos acompanhando na sociedade, e que são muito positivas, ainda há uma divisão de gênero muito forte. Os resultados expressam isso”, afirma Salata.
Entre os casais sem filhos, o percentual de mulheres fora da força devido a afazeres domésticos ou cuidado de dependentes foi de 14,87% no quarto trimestre de 2022. A proporção entre os homens foi de 0,47%.
O levantamento ainda traz dados sobre mães e pais fora da força de trabalho por motivos diversos, que vão além dos afazeres domésticos e do cuidado de dependentes. As diferenças seguem intensas.
Nesse recorte, o percentual de mulheres que faziam parte de casais com pelo menos três filhos e que estavam fora da força de trabalho, no quarto trimestre de 2022, foi de 50,05%. Entre os homens com três filhos ou mais, a proporção foi de 6,16%.
Em casais com dois filhos, o percentual fora da força, por motivos diversos, foi de 35,88% para as mães e de 4,87% para os pais, no quarto trimestre de 2022.
Em casais com um filho, a porcentagem baixava para 30,18%, entre elas, e 4,72% entre eles. Nos casais sem filhos, a parcela era de 27,41% e de 6,15%, respectivamente.
Para Ely José de Mattos, pesquisador do PUCRS DataSocial e um dos responsáveis pelo levantamento, os dados mostram que a desigualdade de inserção, no mercado de trabalho, tem caráter estrutural.
Na visão de Mattos, o combate a essa disparidade depende de ações de longo prazo. De maneira mais imediata, uma medida recomendada seria a ampliação da licença para os pais, após o nascimento dos filhos, diz o pesquisador.
A iniciativa buscaria equilibrar os afazeres do lar, mas não resolveria, por si só, os problemas, segundo Mattos. “É algo estrutural. Precisa ser pensado para longo prazo”.
Salata vai na mesma linha. Para ele, uma “melhora substantiva” passa por “mudanças geracionais”, que não acontecem do dia para a noite.
“O governo não pode, simplesmente, dar uma canetada e obrigar as pessoas a seguirem determinado estilo de vida, mas existem medidas importantes que podem ser adotadas, como a licença paternidade de maior fôlego”, afirma Salata.
“Expandir a rede de creches e escolas em tempo integral é uma ação que também poderia ser adotada para tornar a situação melhor”, acrescenta.
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