Na Amazônia, Pará lidera lista de violência política e eleitoral nos seis primeiros meses de 2022

O observatório aponta ainda que houve um aumento de 17,4% no número de casos de violência eleitoral no País em 2022 (Ana Clara Moscatelli/Agência Pública)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – De acordo com os dados do Observatório da Violência Política e Eleitoral (OVPE), realizada pelo Grupo de Investigação Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (GIEL/UNIRIO), o Pará destaca quando o assunto é violência em períodos eleitorais. Conforme o documento, dentre os Estados que compõem a Amazônia, o Pará lidera a lista com 13 episódios de violência, sendo 12 casos no primeiro trimestre e um no segundo.

Logo após o Pará, o Estado do Mato Grosso aparece com seis ocorrências, sendo cinco nos primeiros três meses do ano e uma no segundo trimestre; Maranhão e Amazonas estão empatados com cinco ocorrências cada. Rondônia aparece em seguida com quatro casos de violência nos três últimos meses de 2022, seguido por Tocantins com três casos; Roraima e Acre com um caso cada e o Amapá com nenhum caso registrado nos últimos seis meses.

Tabela sobre dados da violência (Thiago Alencar/CENARIUM)

Outros dados

O observatório aponta ainda que houve um aumento de 17,4% no número de casos de violência eleitoral no País, em 2022, se comparado ao segundo trimestre de 2020, ano das eleições municipais. A Região Norte, composta pelos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins é a terceira mais perigosa do País, carregando no segundo semestre de 2022 8,9% dos casos registrados de homicídios contra lideranças políticas e familiares.

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Em 2020, nas últimas eleições municipais, Rondônia e Maranhão lideravam como os Estados mais perigosos da Amazônia com nove ocorrências cada durante os seis primeiros meses do ano; Pará e Mato Grosso tiveram oito registros de violência eleitoral; Amazonas vem depois com 7 ocorrências. A maioria dos casos foi registrado ainda nos primeiros três meses do ano.

O Amazonas registrou sete casos nos seis primeiros meses de 2020; Tocantins teve seis; Roraima registrou três casos; dois casos foram registrados no Acre e o Amapá aparece novamente com nenhuma violência registrada nos seis primeiros meses de 2020.

A Região Norte é a terceira mais perigosa do País, segundo o relatório (Reprodução/UOL)

Partidos

Em relação aos partidos, usando dados nacionais, o Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB era o maior alvo de violência eleitoral nos seis primeiros meses de 2020, seguido pelo Partido Social Democrático PSD – 20, Progressistas – PP (17) e o Partido dos Trabalhadores – PT (12).

Já em 2022, nos seis primeiros meses do ano, a legenda com mais registros de violência eleitoral é a dos Republicados, com 18 ocorrências. Seguido por PT, PSD e o Partido Liberal (PL), com 17 ocorrências cada. Dessas ocorrências, nos três últimos meses, o PSD e o PL foram os partidos com mais coligados atingidos, tendo registrado 12 e 10 ocorrências, respectivamente.

Porte de Armas

Na quarta-feira, 13, representantes de sete partidos estiveram em reunião com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Alexandre de Moraes, para entregar documento onde solicitam ações contra violência política, entre elas a suspensão de porte de arma na eleição.

Assinado pelos partidos PT, PSB, PCdoB, PV, Rede, PSOL e Solidariedade o documento traz o pedido de “medidas administrativas cabíveis para a garantia da segurança e da paz no processo eleitoral”, buscando conservar a “integridade de eleitoras, eleitores, colaboradores da Justiça Eleitoral, autoridades públicas, candidatas e candidatos”.

Após reunião com o ministro Alexandre de Moraes, o senador Humberto Costa (PT-PE) disse à imprensa na tarde de quarta-feira, 13, que a coligação está preocupada com o aumento da violência política no País e os ataques à imprensa que vêm sendo proferidos por Bolsonaro e seus apoiadores.

Reunião de lideranças da oposição com o ministro Alexandre de Moraes (Reprodução)

Em publicação, o senador falou que a preocupação já vem a algum tempo não só ligada à violência contra partidos e filiados, mas também à imprensa. “O problema da liberdade de imprensa durante a eleição, não quero assustar ninguém, mas vocês sabem que está em risco também, dados os fatos que já aconteceram e as ameaças. A mais recente diz respeito ao Congresso em Foco, onde alguns jornalistas foram concretamente ameaçados“, relembrou o senador.

Nós todos saímos daqui com a garantia de que o presidente do Congresso Nacional, e como nós temos dito, é o último ratio de defesa da democracia quando ela é ameaçada, e atuará nesse sentido, na garantia de que teremos eleições, de que os eleitos serão empossados e na garantia de que não terá interferência institucional sobre a democracia brasileira”, afirmou o senador Randolfe Rodrigues (Rede), que também participou da reunião.

‘Armas e eleições não combinam’

Apesar de não fazer parte da coligação que assinou o documento, o deputado federal Marcelo Ramos (PSD) se posicionou também contrário ao porte de armas em período eleitoral. Em conversa com a REVISTA CENARIUM, o parlamentar disse acreditar que o voto é a expressão máxima do povo. “Arma e eleições não combinam. Arma e eleição numa eleição onde os atos de violência são estimulados por discurso de ódio e onde episódios de violência já aparecem combinam menos ainda. A arma das eleições são palavras e voto livres“, disse.

Ao comentar sobre o assunto, o vereador de Manaus Amom Mandel considera que extremismo político é nocivo para a democracia, seja ele qual for. “O debate tem que ser saudável e não violento, um autor anônimo que eu costumo citar diz que numa discussão o melhor a se fazer é melhorar os argumentos e não aumentar a voz. Quem aumenta a voz ou parte para a violência no debate político, admite, de forma aberta à sociedade que, simplesmente, não tem argumentos, porque se tivesse, os usaria“, declarou à CENARIUM.

Leia o relatório 2022:

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