‘Não há o que comemorar’, diz presidente de sindicato dos jornalistas do AM sobre Dia Nacional da Imprensa

Para Wilson Reis, é necessário de mais reconhecimento à classe jornalística no País (Samuel NKF/Revista Cenarium)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Neste 1º de junho, em que é celebrado o Dia Nacional da Imprensa, as demissões em massa, a falta de valorização profissional, o aumento de violência contra comunicadores e as condições alarmantes de trabalho são temas que, em meio à pandemia da Covid-19, chamam a atenção para a atividade jornalística no País. Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Amazonas (SJPAM), Wilson Reis, não há o que comemorar com a data.

“Não tem o que comemorar nesse momento, infelizmente. Não é ser pessimista, mas é uma realidade. Temos uma redução no número de profissionais nas chamadas grandes redações, e isso não é um fenômeno de 2021, é um processo em que, há pelo menos uma década, vem se acentuando, ao mesmo tempo em que temos o surgimento de blogs e portais que pode vir a ser uma grande alternativa a essa redução, na medida em que se muda as bases de produção da informação no País”, declarou.

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O Dia da Imprensa foi instituído pelo governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso, por meio da lei nº 9.831/99, e visa destacar a importância da imprensa na prestação de informação para a sociedade. Para Reis, no entanto, é preciso de reconhecimento à categoria.

O jornalista é o entrevistado desta terça-feira, 1º, do programa “Cenarium Entrevista”, com Andréia Vieira, da TV CENARIUM. O programa vai ao ar às 21h, nas redes sociais (Facebook, YouTube e Instagram) e no site da Revista Cenarium.

Segundo Wilson Reis, a atividade do profissional da comunicação no Amazonas e no Brasil sofreu com ações severas nos últimos 15 anos, em meio às mudanças provocadas pela revolução tecnológica do século XXI, que não se refletiram nas melhorias de condições tanto de trabalho como salarial da classe.

“Essa situação faz com que a gente tenha que, não só refletir sobre essa realidade enquanto profissional, mas faz com que esse profissional e, inclusive, a própria direção da entidade, pense em formas alternativas, conversando com as empresas e os novos profissionais, sobre qual é o melhor caminho para produzirmos jornalismo e resgatar a credibilidade necessária para quem produz notícia diária”, salientou.

Retrocesso

À REVISTA CENARIUM, o presidente da SJPAM lembrou a realidade da categoria evidenciada no relatório anual da ‘Violência Contra Jornalistas’, em que mostrou que o ano de 2020 foi o mais violento para os jornalistas brasileiros. De acordo com o estudo da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), foram 428 casos de violência no ano passado, o maior desde o início da série histórica dos registros dos ataques à liberdade de imprensa feitos pela entidade, iniciada na década de 1990. Em relação as 208 ocorrências registradas em 2019, o aumento é 105,77%.

“Grande parte dessa violência vem da figura que não gosta do exercício jornalístico, que é o presidente. Ele figura com mais de 100 agressões verbais, desde a época do cercadinho [cercado no Palácio da Alvorada, em Brasília, onde o presidente conversa com apoiadores]. Se a principal figura da República faz isso, imagine a situação com outra pessoa”, comentou Wilson Reis.

Segundo o relatório, a ação de tirar a credibilidade da imprensa foi a violência mais frequente, 152 (35,51%) do total. Somente Bolsonaro respondeu por 145 dos casos de descredibilização da imprensa, em atos de ataques genéricos e generalizados a veículos de comunicação e a jornalistas. O presidente também foi responsável por 26 agressões verbalmente a jornalistas, um caso de ameaça direta a jornalistas, uma ameaça à TV Globo e dois ataques à Fenaj.

Mesmo com os ataques à imprensa, Wilson Reis destaca que o jornalismo continua cumprindo um papel fundamental e a pandemia acentuou a importância desse trabalho. “Sem o jornalismo sério, sem a participação dos bons profissionais, questões importantes de esclarecimento à sociedade sobre a Covid-19 não seriam entendidas e, possivelmente, o número de mortes pelo vírus seria maior”, concluiu.

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