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‘Não tem como ter cidadania plena sem inclusão’, diz RP com Síndrome de Down
‘A gente quer um mundo de um para o outros, de todo mundo junto, com respeito e consciência’, diz Luísa Foto: Alice Camargos
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13 de agosto de 2022
Com informações Estadão
MANAUS – Foi no dia 25 de setembro de 1993 que Luísa Camargos nasceu, em Belo Horizonte. E foi nesse mesmo dia que seus pais descobriram que ela tinha síndrome de Down (T21). “Já nos primeiros dias de vida, comecei a fazer fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional e a ser atendida por psicóloga”, conta ela, em entrevista ao Estadão por e-mail.
Em 2014, aos 20 anos, ela fez a prova do Enem e foi aprovada na Faculdade Pitágoras. Formada em 2019, ela se tornou a primeira relações-públicas com Down no Brasil. “Sou muito comunicativa, queria um curso de humanas e me apaixonei por Relações Públicas”, diz ela, que hoje trabalha na Agência de Iniciativas Cidadãs (AIC) e tem o projeto Inclusive Luísa, para inclusão de pessoas com deficiência. “Amo minha profissão.”
“Todo mundo cabe no mundo, e o mundo fica melhor quando todos cabem nele.” É assim, antes de qualquer vinheta, que começa o podcast da iniciativa Inclusive Luísa, na voz da própria, Luísa Camargos. Criado em 2020, em Belo Horizonte, o projeto tem como objetivo promover ações em prol de uma sociedade mais inclusiva – e tem como apresentadora a relações-públicas com síndrome de Down.
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Defensora do empoderamento, da autonomia e integração das pessoas com deficiência na sociedade, Luísa também atua como influenciadora digital e palestrante da causa, em parceria com a Agência de Iniciativas Cidadãs (AIC). Luísa conta que decidiu criar esse laço profissional no ano em que se formou, 2019, por causa do trabalho da empresa com temáticas da cidadania e educação. “Tem tudo a ver associar isso com a causa da inclusão. Não tem como ter cidadania plena sem inclusão”, diz. Já no ano seguinte, a equipe lançou Inclusive Luísa.
Todo mundo cabe no mundo, e o mundo fica melhor quando todos cabem nele
Para ela, inspirar e mobilizar pessoas são lutas cotidianas. “Inclusão é permitir que todos vivam bem, felizes e livres. Diferentemente do que disse aquele ex-ministro, segregar não é o caminho”, afirma, se referindo à fala do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, a respeito da participação de crianças com deficiência nas escolas. “A gente quer um mundo de um para o outro, de todo mundo junto, com respeito e consciência, com espaço para todos.”
O objetivo da plataforma é compartilhar histórias e visões de mundo que mostrem como a escola, a educação, o trabalho, ou mesmo as festinhas precisam ser inclusivas. “Pessoas com T21 e com deficiência em geral querem viver suas vidas com plenitude, e nós precisamos dizer isso muitas vezes.”
Luísa conta que, nessa trajetória, recebeu muito apoio da família. Para ela, uma das conversas mais marcantes de seu podcast foi quando entrevistou a mãe, Marisa Camargos, como convidada especial de maio. “Ela trabalhou 46 anos em um espaço de atendimento a pessoas com deficiência. Quando eu nasci, ela me levava para todo lado”, conta. “Ela sempre repetia, ‘Luísa vai fazer faculdade’, e eu fiz. Ela me ensinou muito.”
Agradecendo à filha pelo convite para participar do podcast, Marisa revela um pouco das singularidades na criação da menina. “O seu contato com o mundo foi muito importante. Sua vida social começou com você ainda bebê. Tudo que a gente fazia, você estava junto”, reforça. “Aos 5 anos você foi matriculada numa escolinha regular, e foi muito bem recebida. A diretora já tinha a ideia de inclusão.” Luísa fala com muito orgulho de suas conquistas. O fato de ter publicado artigos e participado de congressos está entre seus momentos mais marcantes.
Em coautoria com outras pesquisadoras, o artigo Diversidade na Escola, no Trabalho, na Bagaceira, na Vida: a História de Luísa e a Mobilização pela Sociedade Inclusiva foi apresentado em 2021 no 14.º Congresso da Abrapcorp (Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas). Bagaceira é um outro projeto de Luísa, criado com a irmã Alice: a ideia é reunir um grupo de pessoas com Down para irem juntas, sozinhas, a baladas de Belo Horizonte – uma forma de se divertir e também de mostrar a importância da inclusão em todos os espaços da sociedade.
A busca por mobilização social e o enfrentamento do capacitismo pela inclusão, aliás, são temas explorados por Luísa em suas produções. Entre elas está Por um Mundo Aberto à Diversidade: Aprendendo com a História da Primeira Relações-Públicas com Síndrome de Down no Brasil, apresentada na 9.ª Conferência Latino-americana e Caribenha de Ciências Sociais (2022).
“Tive a honra de ter meu artigo aprovado e ser a primeira pessoa com síndrome de Down a ter um artigo científico internacional. Sou a primeira, mas não quero ser a única, quero que todos nós possamos ocupar nossos espaços.”
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