‘Ninguém está imune aos efeitos psicológicos provocados pelo isolamento social’, alerta psicanalista

A psicofobia é a discriminação e o preconceito contra pessoas com transtornos mentais. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – O isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus tem afetado psicologicamente até mesmo quem nunca apresentou transtornos mentais, segundo a avaliação da terapeuta e psicanalista Samiza Soares. De acordo com a especialista, ninguém está imune aos sintomas característicos desses transtornos, como irritabilidade, alterações repentinas de humor e fobias, por exemplo.

À REVISTA CENARIUM, a especialista destacou que o indivíduo é impactado de maneira diferente com a situação em que o mundo vive, por conta da Covid-19, e tudo depende do estado emocional de cada pessoa, além também do modo em que a pandemia tem lhe afetado.

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“Por exemplo, profissionais da linha de frente, pessoas que perderam entes queridos ou até que se infectaram e ficaram muito doentes, os efeitos são de um jeito. Eu, inclusive, tenho pacientes que são da área médica, infectologistas, enfermeiras etc. e estão na linha de frente do combate à Covid-19. Eles estão exaustos com tristezas no coração, pois não conseguiram salvar todos os seus pacientes e vejo o impacto que a luta diária contra a doença causa a eles”, salientou.

Para a especialista, mesmo para quem está um pouco mais distante dessa realidade, ainda que esteja isolado, longe dos amigos e familiares ou dentro de casa, sente o impacto do isolamento social. Além disso, de acordo com a Samiza Soares, cada um demonstra de uma maneira. “Alguns podem desenvolver uma forma intensa de depressão ou estresse elevadíssimo, enquanto outros têm picos de nervosismo, variação de humor, fadiga mental e até pensamentos suicidas, já atendi um paciente que estava indo cometer o suicídio aqui na ponte do Iranduba, mas eu consegui intervir via telefone”, detalhou.

Conforme um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em outubro de 2020, 93% dos serviços de saúde mental foram prejudicados ou encerrados por causa da pandemia, o que, para Samiza Soares, acende um alerta para a necessidade de se repensar em outras formas de se cuidar dos aspectos psicológicos e a usar a tecnologia a favor da ciência e apostar em alternativas, como as terapias online.

“Sem dúvidas, o apoio psicológico neste momento é fundamental. Os problemas, quando não tratados, vão crescendo dentro de nós, e os desconfortos emocionais vão se agravando e todo o resto da nossa saúde emocional e física se abala. Então, devemos pedir ajuda para lidar com os problemas emocionais, e não tentar enfrentá-los sozinhos, a terapia é um excelente aliado nessa caminhada”, salientou.

Sintomas

De acordo com a pesquisa da OMS, o luto, o isolamento, a perda de renda e o medo durante a pandemia do novo coronavírus revelaram novos problemas de saúde mental e agravaram os que já existem. Embora o relatório não apresente resultados por País, o estudo mostra que a interrupção em ao menos algum serviço de atendimento à saúde mental atingiu 100% entre os países das Américas.

Em meio ao agravamento da pandemia no País, onde mais de 340 mil vidas foram perdidas, a terapeuta e psicanalista Samiza Soares ressalta que o acompanhamento de um profissional da saúde mental é de extrema importância para auxiliar no enfrentamento aos transtornos da mente.

Segundo ela, os pacientes com transtorno apresentam sintomas característicos que vão desde pesadelos, terrores noturnos, medo de sair de casa, irritabilidade, hipersensibilidade emocional, nervosismo e dificuldade de concentração, além de alterações repentinas do humor, choro e depressão.

“Nosso desafio é cuidar da saúde do corpo e da mente. Infelizmente, hoje não podemos nos relacionar presencialmente como antes, o risco de nos infectarmos é iminente, além, é claro, de ser irresponsabilidade contrariar as medidas de segurança para conter o avanço da doença. Sendo assim, nossa alternativa é usar a tecnologia a favor da ciência e apostar em alternativas, como as terapias online”, concluiu.

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