No AM, refinaria da Petrobras é privatizada, gás de cozinha aumenta e empreendedores sentem os impactos

O aumento no preço do gás de cozinha se deu um dia após o grupo Atem comprar a Refinaria Isaac Sabbá, única localizada na região Norte (Reprodução/ Internet)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – Empreendedores no Amazonas que dependem do preço do gás de cozinha para comercializar seus produtos e adquirirem renda estão sentindo no bolso o impacto do reajuste anunciado na semana passada pelo Grupo Atem, compradora da Refinaria Isaac Sabbá (Reman), a única localizada na região Norte do País. Com o aumento anunciado um dia após a conclusão da venda, quem depende do insumo para trabalhar terá que repassar a diferença ao consumidor final para não sair no prejuízo.

É o caso de Jander Souza, que administra um café regional localizado na zona Leste de Manaus. Ele explica que, antes do reajuste, comprava uma botija de gás, com desconto, por R$ 106. Agora, o valor já chega a R$ 114.

Sou necessariamente obrigado a fazer um reajuste nos alimentos que saem mais. Por exemplo, as fatias de bolo que vendíamos a R$ 2, agora estamos vendendo a R$ 3. A gente que trabalha com alimentação, com todo esse aumento, somos obrigados a aumentar nossos preços ou então temos que fechar“, diz ele.

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Leia também: Especialistas do setor petroleiro são unânimes sobre prejuízos da venda de refinaria no AM: ‘Monopólio regional’

No café regional administrado por Jander Souza, o aumento no valor do gás de cozinha acaba repassado aos clientes. (Arquivo Pessoal)

A cozinheira autônoma Maria Gomes também explica que todo preço que é reajustado, é embutido no valor do produto final ou não se tem lucro. Ela lembra que o preço dos alimentos feitos por ela já foi alterado há dois meses, e agora terá que ser novamente.

Tudo que sobe eu, obrigatoriamente, preciso agregar no valor final da minha mercadoria”, conta. “E me prejudica, porque tudo se torna mais caro aos meus clientes, que também se queixam do aumento. Planejava uma parceira para fornecer ceia de Natal neste final de ano, mas as coisas sobem tanto que eu desisti“, lamenta.

Reajuste

No dia 30 de novembro, data da conclusão da venda da Reman, a empresa Ream, do Grupo Atem, anunciou, por meio de comunicado, que o preço do GLP (gás de cozinha) aumentaria R$ 0,93 já no dia seguinte, 1ª de dezembro. O acréscimo vale para revendedores e clientes nos Estados do Amazonas e Roraima, e a justificativa foi a necessidade de suprir custos de transporte na base da Petrobras, em Coari, a quase 400 quilômetros de Manaus.

O preço do produto em Manaus na modalidade LPA é vendido a R$81/tonelada (oitenta e um reais por tonelada) acima do preço da origem do produto em Coari/AM, porém, esse valor não representa o custo total de transporte (fretes e custos portuários) entre Coari e Manaus, demonstrando assim uma clara defasagem de preço“, diz o comunicado.

Veja o comunicado na íntegra:

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Foi previsto

O aumento no preço de insumos produzidos pela Reman, caso a privatização fosse concluída, já tinha sido previsto pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) e o Sindicato dos Petroleiros do Amazonas (Sindipetro-AM). Em audiências públicas e entrevistas, representantes dessas entidades alertaram para o reajuste e também para o risco de desabastecimento.

O presidente do Sindipetro-AM, Marcus Ribeiro, afirmou que está se concretizando o que já havia sido informado. “Quero reforçar aqui que a venda da refinaria não simboliza a redução dos preços combustíveis, relacionada principalmente a essa questão da concorrência. Primeiro que não vai ter concorrência porque ela é única refinaria da região Norte. Como consequência disso, vamos ter aumento do preço dos combustíveis, como está tendo agora“, disse.

O presidente do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Amazonas (Sindipetro-AM), Marcus Ribeiro (em pé), discursa em audiência pública na Câmara dos Deputados. (21.06.2022 – Marcela Leiros/ Revista Cenarium)

Ele ainda se referiu à justificativa dada pelo Grupo Atem como contraditória. “A refinaria, sendo da Petrobras, e a Petrobras sendo uma empresa integrada, os preços dos combustíveis aqui da nossa refinaria é o mesmo preço praticado no Sul e no Nordeste porque a empresa é integrada e isso acaba dissolvendo todo o custo dela de logística. Como foi privatizada, o Grupo Atem vai embutir no preço o que ele gasta com logística“, concluiu.

A refinaria tem capacidade de atender o mercado consumidor dos Estados do Pará, Amapá, Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima. A Petrobras afirmou, durante o processo, que a venda da refinaria vai resultar no aumento da concorrência e redução do preço dos combustíveis, porém, especialistas pontuaram que há risco, ainda, de monopólio regional.

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