OMS vai discutir se Covid-19 ainda é uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional

Profissional de saúde segura um QR Code em uma estação de testes de Covid-19 em Pequim (Noel Celis/AFP)
Da Revista Cenarium*

SÃO PAULO – A Organização Mundial de Saúde (OMS) discute na sexta-feira próxima se a Covid-19 ainda é uma “Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional” (ESPII), o maior nível de alerta e, em tese, de engajamento legal e dedicação mundiais na lida com um desastre sanitário, entre eles, epidemias. Foi no 30 de janeiro de 2020 que a Covid-19 se tornou uma ESPII.

Cientistas dizem, pelo mundo, que seria cedo decretar o fim da emergência mundial, porque a doença vai fazer uma desgraça na China, que deu cabo de sua política de “Covid zero” e vai ter muita infecção e morte.

Profissionais da saúde equipados envolta de uma cama com paciente intubado
Paciente com Covid-19 recebe atendimento no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (Divulgação)

Caso determine o fim da ESPII, a OMS não quereria dizer que a pandemia acabou, embora tal decisão tivesse algumas consequências práticas. Teria efeito simbólico?

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Talvez não. Como parece intuitivo, o mundo já há algum tempo se adaptou à Covid-19, se fartou de saber do vírus ou de se preocupar com ele. Em países como o Brasil, a doença se tornou, de certo modo, invisível desde meados do ano passado e ainda mais agora. Tornou-se tão invisível quanto os mais velhos e mais fracos.

No último mês, a Covid-19 matou 3.938 pessoas, 131 por dia, pelos registros oficiais. No auge do horror, em abril de 2021, chegou a matar mais de 85 mil pessoas em 30 dias.

Mesmo com esses números reduzidos, a Covid-19 ainda mata tanto quanto assassinos (a média de homicídios, em 2021, dado mais recente, foi de 130 por dia).

A doença pode parecer invisível, menos para os doentes e suas famílias, porque mata, majoritariamente, pessoas mais velhas ou que também já padecem de outro mal, ainda e sempre doenças do coração e diabetes, na maior parte (em São Paulo, 73% dos mortos tinham comorbidades).

No último trimestre, 81% dos mortos de Covid no Estado de São Paulo tinham mais de 60 anos (65% tinham mais de 70 anos). Cerca de 85% dos mortos por gripe/pneumonia, em 2019 e 2020, tinham mais de 60.

Como já se escreveu nestas colunas, é como se a Covid-19 tivesse se tornado uma grande gripe assassina, em especial, de velhos, que se dá de barato que morram, tal como um Bolsonaro o faria. Em São Paulo, a Covid-19 matou mais de 1 em cada 40 indivíduos com mais de 70 anos.

A vacinação tornou a morte de pessoas mais jovens muito improvável, é verdade. Apesar de Jair Bolsonaro e de generais e coronéis do Exército, que comandaram a ocupação bolsonarista do ministério da Saúde, a vacinação avançou graças ao SUS e à maioria de Estados e cidades.

Na aplicação das duas primeiras doses ou equivalente, o Brasil foi tão bem quanto França, Alemanha, Itália e Espanha (ou melhor), por exemplo. Mas fica bem abaixo na dose de reforço (57% da população, abaixo dos países europeus grandes). O caso dos Estados Unidos é uma vergonha.

Vacinar, pois, ainda é necessário, até como parte de uma grande campanha de regeneração nacional, de informação e de atendimento de saúde, de divulgação de qualquer tipo de vacina, programas prejudicados por causa dos bolsonaristas.

Além dessa obviedade, há outras três, esquecidas ou aceitas como um dado da natureza.

Quase 60% das pessoas que tiveram Covid-19 continuam a ter sintomas um trimestre depois da infecção aguda. Muitas delas, nem temos ideias de quantas, ficaram com sequelas incapacitantes ou graves de outra maneira. Famílias estão dilaceradas também porque perderam quem as sustentasse, mães, pais ou avós. É preciso cuidar dessa gente.

A outra desgraça é a da educação. Parece assunto tão velho, cediço, tedioso de tão repetido. É novíssimo, porém, pois quase tudo está por fazer.

Ainda nas prioridades, é preciso desbolsonarizar a saúde e levar Bolsonaro e seus generais e coronéis à Justiça. Sem anistia.

(*) Com informações da Folhapress
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