Organizações anunciam boicote a edital da Cargill, líder do agronegócio no País
Lideranças indígenas realizaram protesto contra Cargill (Reprodução/Daleth Oliveira)
Raisa Araújo – Da Revista Cenarium
BELÉM (PA) – Um manifesto de boicote ao edital “Semeia Fundação Cargill 2024”, lançado pela americana Cargill, líder do setor de agronegócio no País, foi assinado, nesta semana por mais de 50 entidades, incluindo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Associação Indígena Pariri, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Instituto Raoni e Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Mato Grosso (Fepoimt).
O edital, de acordo com a Fundação Cargill, tem o objetivo de reconhecer, fomentar o desenvolvimento e dar suporte a projetos socioambientais e negócios de impacto conduzidos por cooperativas, empresas e organizações da sociedade civil, incluindo entidades sem fins lucrativos como fundações e associações, além de cooperativas sociais. Paralelamente, a empresa está entre as principais apoiadoras do projeto da Ferrogrão, ferrovia que, se construída conforme o plano original, pode afetar terras indígenas, unidades de conservação e povos isolados.
Para os indígenas, quilombolas, extrativistas, pescadores e demais comunidades tradicionais da Amazônia e Cerrado, que assinaram o documento de boicote, esse edital se trata de uma tentativa da Cargill de “limpar a imagem”, através do financiamento de projetos socioambientais comunitários e a negócios de impacto. Para o grupo, a Cargill semeia a “violação de direitos e a morte”.
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“Essa mobilização é necessária, porque não podemos aceitar que empresas que destroem a floresta e ignoram a nossa existência se vendam como amigas do meio ambiente. Eles oferecem dinheiro a projetos socioambientais, enquanto por trás impulsionam projetos que podem destruir a Amazônia, como a Ferrogrão”, declara a liderança indígena do povo Munduruku no Pará e presidenta da Associação Indígena Pariri, Alessandra Korap.
As organizações denunciam, ainda, que a gigante do agronegócio faz lobby pela Ferrogrão. Em março de 2024, a REVISTA CENARIUM acompanhou a plenária “Tribunal Popular: Ferrogrão no banco dos réus”, sobre o julgamento simbólico da Ferrogrão, que reforçou a urgência do debate sobre os impactos socioambientais do empreendimento. Durante a programação, a “acusação do júri” apontou uma série de violação de direitos e sentenciou a extinção imediata do projeto.
Indígenas pressionam
Ainda em março, durante a visita do presidente francês Emannuel Macron e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Belém, o líder indigena Cacique Raoni Metuktire pediu o fim do projeto da ferrovia e entregou ao presidente da França uma carta com os resultados da plenária, apontando as violações ambientais que a construção da ferrovia irá causar ao meio ambiente e às comunidades que vivem na região.
Segundo o secretário executivo do GT Infraestrutura e Justiça Socioambiental (GT Infra), Sérgio Guimarães, “a Ferrogrão, é um projeto mal feito, que sequer considera alternativas e que se implantado, causaria fortes impactos na floresta e em todas as comunidades indígenas da região e que só se viabilizaria pela expansão da área plantada ao longo do trajeto causando desmatamento e inúmeros conflitos socioambientais”.
O assessor de campanhas da Amazon Watch – organização participante do movimento de boicote, Pedro Charbel, afirma que não há propaganda capaz de lavar a imagem da Cargill das violações diárias dos direitos dos povos e comunidades da Amazônia e do Cerrado. “A Cargill é um dos principais elos da cadeia de destruição desses biomas e, se depender de sua vontade de mais e mais lucro, projetos como a Ferrogrão agravarão ainda mais esse quadro”, defende.
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