Pai de aluna ferida em escola particular de Manaus diz que alertou o colégio há seis meses

O pai conta que foi, pelo menos, quatro vezes ao colégio para exigir medidas em relação ao aluno (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – “Ele foi matar minha filha, a coleguinha e a professora. Ele mesmo disse aos policiais, hoje, quando foi contido“. O relato é do advogado Adroaldo Arruda da Silva, pai de uma das vítimas feridas por um colega de classe que cometeu um atentado na tarde desta segunda-feira, 10, no Colégio Adventista de Manaus, escola particular localizada na Zona Sul da capital. O pai afirma que há, pelo menos, seis meses a escola já tinha ciência dos problemas comportamentais que o aluno vinha demonstrando em sala de aula.

Segundo Adroaldo, a filha, de apenas 12 anos, mesma idade do agressor, foi ferida a golpes de cutelo (instrumento cortante com lâmina curva) nos braços e poderia ter morrido se não fosse a intervenção da professora, que também foi atingida.

“Eles estudam na mesma sala, sentam perto, inclusive. Em resumo, desde o ano passado que, toda semana, tínhamos relatos de problemas sérios criados por esse garoto. Das duas últimas vezes, ele deu um murro no colega de sala, sem motivo nenhum, foi levado para a coordenação e voltou rindo dizendo que não dava em nada. Passaram os dias, ele quebrou a sala toda e, nessa ocasião, minha filha o segurou para que ele não batesse em outra colega de sala de aula, e imagino que, desde aí, ele guarda essa raiva“, relembra o pai.

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Advogado Adroaldo Arruda da Silva, pai de uma das vítimas feridas (Jander Souza/Revista Cenarium)

O pai conta que foi, pelo menos, quatro vezes ao colégio para exigir medidas em relação ao aluno. Na ocasião, a escola alegou que providências já tinham sido tomadas. “A escola informou, então, que a família estava acompanhando o menino junto ao psicólogo. Mas o tempo mostrou que a escola não tomou nenhuma providência“, disse o advogado.

Conforme Adroaldo, o aluno alega ter sofrido bullying na escola, o que teria resultado no atentado desta segunda. Para o advogado, a ação violenta não justifica. Questionado se teve algum contato com os pais do autor do atentado, o advogado responde: “Soube que a mãe dele deu uma entrevista dizendo que ele fez isso por conta de situações de bullying. Quer dizer, então, que se eu sofri algum tipo de bullying, eu tenho carta-branca para matar? E depois que ele vitimar alguém, como fica os pais dessas crianças?“, indaga Adroaldo Arruda.

Medo e revolta

De acordo com o pai da aluna, para cometer o ataque, o menino estaria com três coquetéis molotov (arma química incendiária, geralmente, utilizada em protestos e guerrilhas urbanas), um cutelo, uma faca e isqueiro escondidos na mochila. Adroaldo fala sobre o medo de perder a filha. “Se ele tivesse com a faca e o cutelo na mão, ao mesmo tempo, não tenho dúvidas que ele teria matado minha filha. Estamos diante de um absurdo. Ele atingiu minha filha. Ele foi para matar, sim, ele mesmo disse aos policiais“, conta o pai da vítima.

Revoltado com o episódio de violência, o advogado destaca que vai tomar providências para que as ações focadas no reforço da segurança dos alunos e professores, dentro das escolas, sejam colocadas em prática.

Alguns dos itens que o aluno colocou na mochila (Reprodução/Divulgação)

“Como pai, vou procurar o governador do Estado, pois esse fato não é algo isolado, começou nas escolas públicas e, agora, nas escolas particulares. Vou buscar a Secretaria de Segurança, os responsáveis pelo sindicato da educação particular, no Amazonas, vou exigir providências da própria instituição Adventista e exigir que ela coloque detectores de metal nas suas unidades. E como vou fazer isso? Buscando o Judiciário para compelir a escola a dar garantia de vida para nossos filhos, pois, ninguém deixa um filho na escola para receber facadas”, ressalta o advogado que complementa:

“Não queremos mídia, não precisamos disso, o que queremos é que algo seja feito. Ninguém me falou, eu estive lá e pedi providência para a expulsão e tratamento desse aluno. Por que minha filha teve que ser ‘esfaqueada’ para, agora, a escola dizer que vai tomar as medidas necessárias? (..)”.

Sobre o atentado

O Colégio Adventista de Manaus, escola particular localizada na Rua Professor Marciano Armond, bairro Cachoeirinha, Zona Sul de Manaus, foi alvo de um ataque no início da tarde desta segunda-feira, 10. Em comunicado, a escola informou que um “aluno agrediu outros dois estudantes em sala de aula (… ) As vítimas sofreram lesões superficiais e foram atendidos e liberados pelo Samu no local”.

O instituto também afirmou que está ofertando suporte aos estudantes e familiares. No momento da ocorrência, estiveram no local, além do Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o Conselho Tutelar, Polícia Militar e Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam). O aluno foi apreendido e encaminhado para a Delegacia Especializada em Apuração de Atos Infracionais (DEAAI), onde será ouvido, junto com os familiares.

A REVISTA CENARIUM tentou ouvir a coordenação do Colégio Adventista, via celular, mas até a publicação desta matéria não conseguiu contato.

Ataque ocorreu no início da tarde desta segunda-feira, 10 (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Medidas

Ainda nesta segunda-feira, 10, o Governo do Amazonas realizou uma coletiva para anunciar a criação de um comitê interativo que irá reunir secretarias de Estado para o enfrentamento à violência nas escolas. O anúncio aconteceu no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC). Na ocasião, a secretária de educação do Estado, Kuka Chaves, declarou sobre a violência: “Temos que enfrentar com coragem”.

Governo do Estado também anunciou outra ferramenta de apoio para o combate à violência nas escolas. Trata-se de um “disk denúncia” ancorado na rede social WhatsApp, cujo número é: 99414-0480. “Temos que ter a percepção, porque, uma vez ocorrido, não temos como reverter, por isso, peço aos pais que fiquem atentos às atividades diárias de seus filhos, porque, por meio de um desenho no caderno, podemos ter indícios de algo que não está bem”, observou a secretária de educação.

Leia também: ‘Temos que enfrentar com coragem’, diz secretária de Educação do AM sobre violência nas escolas

Secretários anunciam a criação do Comitê Interinstitucional e o lançamento do Disk Denúncia do Núcleo de Inteligência e Segurança Escolar (Nise) (Mencius Melo/Revista Cenarium)

De acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria de Educação do Estado do Amazonas (Seduc), o comitê será lançado em regime de urgência e passará a operar assim que promulgado no Diário Oficial do Estado (DOE).

Em nota, o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Privado do Estado do Amazonas (Sinepe-AM) fez uma série de recomendações para o reforço nas unidades de ensino particulares do Estado. Campanhas de conscientização, detecção de metais, estudos para identificação de pontos vulneráveis de invasão à escola, punições severas relacionadas à pauta, são alguns dos pontos destacados.

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