Pandemia provoca revolução doméstica e cria hábitos que vieram para ficar

João Marco Luz começou a cozinhar na pandemia (Reprodução/O Globo)

Com informações do InfoGlobo

RIO — Lá para o final de março do ano passado, boa parte do Brasil se viu recluso em casa por causa de um vírus recém-chegado ao País. Para quem estava acostumado a uma vida agitada, com deslocamentos rotineiros, a quebra de rotina — carregada pelo medo da pandemia — causou um choque.

Aqueles que puderam se beneficiar do isolamento enfrentaram questões que partiram do tédio (já arrumei todos os meus armários, e agora?), passando pela solidão (tenho saudades dos meus amigos, e agora?) até chegar às dúvidas existenciais (acho que estou com depressão, e agora?). Depois de muitos divórcios, videochamadas, novos hobbies, sessões de terapia e uma crise sanitária que dura muito mais do que o esperado, as coisas foram se assentando.

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O que era compulsório ganhou tons voluntários. Parte da turma que torcia o nariz para um modo de vida mais caseiro acabou se acostumando: redescobriu o valor do lar e pretende seguir na toada doméstica. A casa virou um palco onde os conflitos aparecem com mais frequência, pois não foi possível adiar as soluções de algumas questões internas, analisa o terapeuta Arnaldo Cheixas.

“No começo fiquei meio doida, o dia todo em casa, lidar com a família, mas agora estou mais tranquila”, diz a artista visual Gabrieli Gama.

Ela deixou a criatividade aflorar. Começou a fazer cliques de si mesma para treinar a fotografia, a praticar exercícios aeróbicos com vídeos no YouTube e a assar pães, este um clássico pandêmico. “Fico uns 15 minutos sovando a massa, desestressando.

Passar a preparar a própria comida foi um dos hábitos adquiridos nesse período de transformações drásticas que vieram para ficar. O bibliotecário carioca João Marco Luz, de 29 anos, se considera um “crítico” de feijão, mas dos outros, porque nunca havia tido coragem de usar a panela de pressão para preparar o prato.

Aventurando

Com o contrato de trabalho suspenso, João, que sabia “no máximo fazer um macarrão”, aproveitou o tempo livre para se aventurar na cozinha. O feijão saiu saboroso. Depois, o rapaz se arriscou na picanha na cerveja, no peixe de forno.

“Achei maneiras de ocupar meu tempo, e isso fez bem para minha saúde. Assistir a séries e jogar videogame acaba enjoando, então busquei algo que me desafiasse”, conta.

Assim, surgiu também o interesse por aprender a tocar violão, encostado desde 2018. “No começo da quarentena foi difícil, sempre tive muitos amigos. Mas me conheci melhor e aprendi a apreciar minha companhia. Coloco uma música, pego uma cerveja e aproveito”.

Homens, mulheres, jovens e velhos passaram, enfim, a ter mais tempo para a olhar para si mesmos nos mais variados aspectos da vida, provocando grande e rápido impacto na saúde mental e física.

“Percebemos que tínhamos arestas para aparar internamente, tanto no ambiente físico da casa, do trabalho, quanto nas condições psicológicas, morais e espirituais. Pessoas ficaram com medo de estar consigo mesmas, de olhar para dentro e não encontrar nada. Mergulharam, por exemplo, em uma vida virtual para fugir”, afirma a filósofa Lúcia Helena Galvão, que complementa:

“Já outros aproveitaram para repensar seus propósitos e imprimiram melhorias. Pararam para observar os detalhes, ouvir a música de que mais gostavam, se reconectaram com as mais belas leituras. Assim, desenvolveram capacidades que não vão perder depois e pavimentaram o caminho para uma vida equilibrada e feliz”, declara. Leia a matéria completa em O Globo.

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