Papa pede desculpas por omitir termo, cita genocídio de indígenas no Canadá e fala sobre renúncia

O papa Francisco no avião que o levou de volta do Canadá para o Vaticano - Guglielmo Mangiapane/AFP
Com informações da Folha de S.Paulo

ROMA – O papa Francisco usou neste sábado, 30, a palavra “genocídio” para qualificar o que aconteceu nos internatos católicos para crianças indígenas no Canadá ao longo de décadas.

O pontífice fez o comentário enquanto voava de volta a Roma após uma viagem de uma semana ao país da América do Norte, na qual fez um pedido histórico de desculpas pelo papel da igreja nesses episódios —mas sem falar que havia sido um genocídio.

O papa Francisco no avião que o levou de volta do Canadá para o Vaticano – (Guglielmo Mangiapane/AFP)

Questionado por um repórter indígena canadense que estava no avião sobre por que ele não usou a palavra durante a viagem, Francisco respondeu:

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“É verdade que não usei a palavra porque não me veio à mente, mas descrevi um genocídio. Pedi desculpas, pedi perdão por esse processo, que foi um genocídio.”

“Condenei tudo isso. Sequestro, mudança de cultura, mudança de mentalidade, mudança de tradições, mudança de uma raça, digamos, de toda uma cultura. Sim, genocídio é uma palavra técnica. Não usei porque não pensei nisso. Eu descrevi, é verdade, é genocídio”, reiterou.

Entre 1881 e 1996, mais de 150 mil crianças indígenas foram separadas de suas famílias e levadas para internatos no Canadá. Muitas delas passaram fome, foram espancadas e abusadas sexualmente em um sistema que a Comissão de Verdade e Reconciliação do Canadá chamou de “genocídio cultural”.

Ao longo de sua visita, o papa pediu em várias ocasiões “perdão” pelo papel desempenhado por “muitos cristãos” naquele sistema estabelecido pelos governos da época, mas administrado principalmente pela Igreja Católica.

Na segunda-feira passada, Francisco visitou a cidade de Maskwacis, local de dois antigos internatos, onde se desculpou e chamou a assimilação forçada de “um mal” e um “erro desastroso”.

Ele também se desculpou pelo apoio cristão à “mentalidade colonizadora” da época.

Saúde frágil

Acometido por fortes dores no joelho que o obrigam a se locomover em cadeira de rodas, o papa de 85 anos disse que deve reduzir o ritmo de suas viagens, mencionando inclusive a possibilidade de “se colocar de lado”.

“Não acredito que possa manter o mesmo ritmo de viagens de antes. Acredito que na minha idade, e com esses limites, devo me poupar para poder servir à Igreja, ou pelo contrário pensar na possibilidade de me colocar de lado”, declarou.

Sobre uma possível renúncia, como seu antecessor Bento 16, o papa repetiu neste sábado que a porta está “aberta”.

“Mas até hoje eu não empurrei essa porta. Como dizem, não senti isso, de pensar nessa possibilidade. Mas isso não significa que depois de amanhã eu não vá começar a pensar”.

Em 2014, o próprio Francisco contribuiu para alimentar a hipótese de uma possível renúncia, considerando que Bento 16 “abriu uma porta” ao renunciar ao cargo. Mas negou rumores no início de julho de que poderia desistir de seu cargo por causa de seus problemas de saúde.

Durante a visita de seis dias ao Canadá, sua 37ª viagem internacional desde sua eleição em 2013, ele se locomoveu principalmente em cadeira de rodas e pareceu debilitado. Mesmo assim, cumprimentou a multidão a bordo do “papamóvel”.

“Esta viagem foi uma espécie de teste: é verdade que não podemos viajar neste estado, talvez tenhamos que mudar um pouco o estilo”, afirmou, mas disse também que “tentaria continuar a viajar, estar perto das pessoas, porque é uma forma de servir, de proximidade”.

“Com toda a sinceridade, não é uma catástrofe. Podemos mudar papa. Não é um problema. Mas acho que tenho que me limitar um pouco, com esses esforços”, acrescentou.

Desde o início de maio, o argentino se locomove em cadeira de rodas ou bengala, enfraquecido por dores no joelho direito. Para aliviar o sofrimento, ele recebe regularmente infiltrações e faz sessões de fisioterapia, segundo o Vaticano.

A saúde de Francisco —que já teve parte de um pulmão removido na juventude e sofre de dor ciática crônica— já havia alimentado especulações durante sua operação no cólon em julho de 2021.

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