Pesquisa da FGV afirma que indígenas sofreram maior queda de emprego e renda na pandemia

Ofício obtido pelo GLOBO confirma a indicação do “kit Covid” feita pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde (Edgar Kanaykõ Xakriabá Etnofotografia/antropologia)

Da Revista Cenarium*

MANAUS – Os indígenas foram os mais afetados pelos impactos da pandemia no mercado de trabalho, de acordo com estudo do FGV Social (Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas). A pesquisa usa dados do IBGE relativos ao segundo trimestre deste ano em comparação com o primeiro.

“Os indígenas, de todos os grupos, são os que mais perderam. Perderam 28,6% de renda, o desemprego aumentou mais do que o dos outros grupos, a participação no mercado de trabalho caiu bem mais do que dos outros grupos, e a jornada caiu tanto quanto a de pardos, por exemplo”, afirma Marcelo Neri, diretor do FGV Social.

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Informalidade pode ser uma das causas

Oiara Bonilla, professora de antropologia da UFF (Universidade Federal Fluminense), afirma que é muito difícil determinar a causa desse impacto maior da crise para os indígenas em geral, porque as atividades e o modo de vida variam de acordo com os povos e regiões do país. Ainda assim, ela acredita que o alto índice de trabalho informal, sem carteira assinada, pode ser um fator fundamental nisso

Artesanato e pesca

A professora estuda os Paumari, indígenas do sul do Amazonas. “Muitos povos da região dependem em parte da venda de artesanato, da pesca, do comércio, quando o dinheiro circula na aldeia”. Ela também cita que professores ficaram sem receber.

“Os professores das áreas indígenas (do Amazonas) são terceirizados. Não só eles não trabalharam, como não receberam. O que eu não sei é a proporção que isso representa dentro de uma economia indígena da região”, afirma.

Confinamento impediu atividades

Outro ponto que pode ter afetado a população indígena foi o próprio confinamento e o fato de que certos grupos foram mais atingidos pela pandemia.

“Alguns povos se confinaram, preferiram adentrar a floresta, evitar idas para cidade. Outros, às vezes mais dependentes do dinheiro, não puderam parar de circular entre aldeias e cidades, e outros não puderam se isolar porque vivem em áreas cercadas por fazendas ou estradas. Não tiveram onde se refugiar. E finalmente há aqueles que vivem em áreas urbanas, como os Kokama, do Parque das Tribos de Manaus, que foram fortemente afetados pela pandemia.”

“Está bem explicado” diz professora do MS

A professora indígena Dyna Vanessa Duarte Vera trabalha na aldeia Paraguassu, na terra indígena Takuaraty/Yvykuarusu, no município de Paranhos (MS), a 45 km da fronteira com o Paraguai. Ela também faz pesquisa na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) sobre as mulheres da comunidade que trabalham na colheita de maçã em estados do Sul.

Ela conta que o trabalho com a maçã era o único disponível. Quase todos os homens da comunidade e cerca de 30% das mulheres deixam a aldeia durante parte do ano para trabalhar na colheita em Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

“Mas, com a pandemia, está totalmente parado. Ninguém sai, ninguém entra para trabalhar, por causa do perigo. Não há serviço aqui perto, no estado ou no município. Só tinha isso mesmo (a colheita da maçã)”.

Auxilio ajuda, mas não resolve

A professora diz que alguns indígenas do local recebem o auxílio emergencial, além de cestas básicas do governo e ajudas de ONGs, mas que, ainda assim, isso não atende totalmente a necessidade da população local. “Está bem complicada a nossa situação em relação a trabalho”, diz.

“Eles [moradores] estão mexendo com roça, cada um está fazendo a sua rocinha, mas não atende totalmente a necessidade. [O trabalho com a maçã] é o sustento de onde tiravam para comprar roupas, alimentos e o material escolar”

(*) Com informações da Uol

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