No AM, PF detém dois suspeitos de estarem envolvidos no desaparecimento de indigenista e jornalista inglês

Bruno Araújo Pereira, da Funai, e o jornalista inglês Dom Phillips desapareceram na Amazônia (Reprodução)
Com informações do InfoGlobo

MANAUS — A Polícia Federal (PF) deteve dois suspeitos de estarem envolvidos com o desaparecimento do indigenista Bruno Araújo Pereira, da Fundação Nacional do Índio (Funai), e do jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian. Os agentes capturaram os pescadores identificados apenas por “Churrasco” e “Jâneo” no início da noite dessa segunda-feira, 6. Ambos foram levados para a cidade de Atalaia do Norte para prestar esclarecimentos à Polícia Civil e já foram liberados.

O indigenista tinha uma reunião agendada com o comunitário apelidado de “Churrasco”, com o objetivo de consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do território, bastante afetado pelas intensas invasões. O encontro seria na Comunidade São Rafael, no Vale do Javari, e Bruno Pereira compareceu acompanhado do jornalista, mas Churrasco não apareceu. Bruno e Dom seguiram para Atalaia, então, e desde a saída do local não foram mais vistos e nenhum contato foi feito.

Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram quando faziam o trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte. A informação foi confirmada pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). O Ministério Público Federal, a Polícia Federal e o Exército já foram acionados para realizar as buscas. Bruno Araújo era alvo constante de ameaças pelo trabalho que vinha fazendo juntos aos indígenas contra invasores na região, pescadores, garimpeiros e madeireiros. O Vale do Javari é a região com a maior concentração de povos isolados do mundo.

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“Enfatizamos que, conforme relatos dos colaboradores da Univaja, essa semana a equipe recebeu ameaças em campo, além de outras que já vinham sendo feitas à equipe técnica da Univaja, além de outros relatos já oficializados para a Polícia Federal e ao Ministério Público Federal em Tabatinga — afirmou Beto Marubo, membro da coordenação da Univaja, entidade composta por indígenas Marubo, Mayoruna (Matsés), Matis, Kanamary, Kulina-Pano, Korubo e Tsohom-Djapá.

Os dois desaparecidos viajavam com uma embarcação nova, com motor de 40 HP e 70 litros de gasolina, o suficiente para a viagem, e sete tambores vazios de combustível.

De acordo com lideranças da Univaja, os dois se deslocaram com o objetivo de visitar a equipe de Vigilância Indígena que se encontra próxima à localidade chamada Lago do Jaburu (próxima da Base de Vigilância da Funai no Rio Ituí), para que o jornalista visitasse o local e fizesse algumas entrevistas com os indígenas.

O indigenista Bruno Pereira (ao centro) em missão realizada pela Funai , no Vale do Javari — Foto: Divulgação/Funai/Arquivo
O indigenista Bruno Pereira (ao centro) em missão realizada pela Funai , no Vale do Javari — Foto: Divulgação/Funai/Arquivo

“Às 16h, outra equipe de busca saiu de Tabatinga, em uma embarcação maior, retornando ao mesmo local, mas novamente nenhum vestígio foi localizado. Vale ressaltar que o indigenista Bruno Pereira é uma pessoa experiente e que conhece bem a região, pois foi coordenador regional da Funai de Atalaia do Norte por anos — afirma o advogado da Univaja, Eliésio Marubo.

Os dois chegaram no local de destino (Lago do Jaburu) no dia 3 de junho de 2022, às 19h25. No dia 5, os dois retornaram logo cedo para a cidade de Atalaia do Norte. No entanto, antes eles pararam na Comunidade São Rafael, para que Bruno Pereira conversasse com “Churrasco”. Depois da parada eles não voltaram a ser vistos.

Local entre a comunidade ribeirinha São Rafael e Atalaia do Norte, onde Bruno Araújo e Dom Phillips desapareceram. — Foto: O Globo
Local entre a comunidade ribeirinha São Rafael e Atalaia do Norte, onde Bruno Araújo e Dom Phillips desapareceram. — Foto: O Globo

Bruno Pereira é considerado um dos indigenistas mais experientes da Funai e é profundo conhecedor da região, onde foi coordenador regional da Funai de Atalaia do Norte por cinco anos. Foi também por quase três anos coordenador-geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Funai.

Dom Phillips é um jornalista freelancer britânico que se mudou para o Brasil em 2007, com passagens por São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Além do The Guardian, Phillips já colaborou para o Financial Times, New York Times, Washington Post, Bloomberg, Daily Beast, revista de futebol Four Four Two e o jornal de energia Platts, entre outros. Phillips é atualmente bolsista da Alicia Patterson Foundation e 2021 Cissy Patterson Environmental Fellow.

Em nota, o jornal britânico manifestou preocupação com o desaparecimento do jornalista e afirma que já está em contato com a Embaixada no Brasil. “O Guardian está muito preocupado e busca urgentemente informações sobre o paradeiro e a condição de Phillips. Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e autoridades locais e nacionais para tentar apurar os fatos o mais rápido possível”.

Procurada, a Funai afirma que acompanha o caso, está em contato com as forças de segurança que atuam na região e colabora com as buscas. “Cumpre esclarecer que, embora o indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira integre o quadro de servidores da Funai, ele não estava na região em missão institucional, dado que se encontra de licença para tratar de interesses particulares”, diz a nota.

Localizada no Oeste do Amazonas, na fronteira com o Peru, a Terra Indígena Vale do Javari teve seu processo de demarcação finalizado no Governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001, e possui uma extensão territorial equivalente a quase dois Estados do Rio de Janeiro (85,4 mil km²). É considerada a segunda maior demarcação depois da Terra Yanomami (96, 6 mil km²), homologada em 1992, pelo ex-presidente Fernando Collor.

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