Polícia para quem precisa de polícia!

As universidades, principalmente as públicas, devem ser o palco da livre manifestação do pensamento e do debate civilizado e esclarecido de ideias. Elas surgiram justamente para se contrapor às instituições medievais incapazes de aceitar o pensamento alternativo, o novo, o racional, o crítico e o ambiente democrático. Os que desejam estudar, trabalhar, administrar ou eventualmente participar de atividades em um ambiente universitário precisam entender sua natureza libertária e diversa. Precisam entender que eventuais divergências de pensamento não podem ser resolvidas ou silenciadas pelo uso do aparato policial, e sim pelo diálogo baseado no respeito mútuo.

No último dia 10 de agosto, durante o 1º Simpósio Ajuricaba de Liberdade na Amazônia, realizado na UFAM, um estudante de pós-graduação foi detido por policiais federais, em um episódio que compreendeu ainda trocas de agressões físicas e verbais envolvendo servidores daquela instituição e manifestantes. O evento ocorreu na Faculdade de Estudos Sociais e teve como palestrante o cientista político André Lajst. Estudantes se manifestaram contra a presença do convidado, acusando-o de defender o regime do apartheid e limpeza étnica em Israel. Após o evento, o convidado usou suas redes sociais para negar as acusações e afirmar que sua participação se limitou ao tema do empreendedorismo.

Aqui não discuto a motivação do protesto ou quem estava com a razão. Pondero apenas que os princípios do ambiente universitário e da democracia precisavam estar em primeiro lugar na condução da crise. Lutamos muito para superar a ditadura no Brasil, pelo Estado de Direito e também pela autonomia das universidades. O direito à manifestação é a garantia à livre manifestação do pensamento, disposto no art. 5º da Constituição Federal de 1988. Apesar de livre, é importante ressaltar que a manifestação não pode infringir outros direitos, que também são assegurados pela Carta Magna. Como podemos ver, tanto a organização do evento quanto os manifestantes estavam amparados legalmente. O erro grave foi chamar a Polícia Federal, fortemente armada, para “conduzir” a situação.

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As universidades são o campo do saber. Isso pressupõe as liberdades no pensar e no expressar de ideias. Historicamente interferências externas são tão indesejadas quanto desastrosas para a autonomia universitária. Os policiais, sejam militares ou federais, sempre serão vistos como uma força opressora externa a macular o espaço libertário da universidade. Não se pode optar por ações repressivas em casos como este, mas sim investir na busca do diálogo e do entendimento. Como membro da comunidade universitária da UFAM, só me resta repudiar a presença do aparato policial no Campus, suas consequências e evocar um refrão do grupo Titãs muito cantado nos meus tempos de movimento estudantil: “Polícia para quem precisa de polícia!”.

Allan Soljenítsin Barreto Rodrigues é jornalista, escritor, professor do Curso de Jornalismo da Ufam, mestre e doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia e líder do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Cultura e Amazônia (Trokano).

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(*)Allan Soljenítsin Barreto Rodrigues – jornalistas, escritor, professor do Curso de Jornalismo da UFAM, mestre e doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia e líder do Grupo de Pesquis em Comunicação, Cultura e Amazônia (Trokano).

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