Prêmio Nobel de Economia é dado a americanos por suas pesquisas sobre setor bancário e crises financeiras

Evento de anúncio do Nobel de Economia, com retratos dos três premiados no telão - (Anders Wiklund/TT News Agency/Reuters)
Com informações do Folhapress

MANAUS – O prêmio Nobel de Economia de 2022 foi dado aos americanos Ben Bernanke, Douglas Diamond e Philip Dybvig, por suas pesquisas sobre o setor bancário e as crises financeiras.

O anúncio foi feito nesta segunda (10). “Os laureados criaram uma base para nosso entendimento moderno sobre por que os bancos são necessários, por que eles são vulneráveis e o que fazer sobre isso”, disse John Hassler, integrante do comitê que organiza o prêmio.

Ben Bernanke, ex-presidente do Fed, durante evento em 2018 – Win McNamee/Getty Images/AFP

“As ações tomadas por bancos centrais e reguladores financeiros ao redor do mundo para confrontar duas grandes crises recentes, a grande recessão [de 2008] e a gerada pela pandemia, foram em grande parte motivadas pela pesquisa dos premiados”, prosseguiu.

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Bernanke, 68, foi presidente do Fed, o banco central americano, entre 2006 e 2014, e enfrentou a crise de 2008. Diamond é pesquisador de crises financeiras e liquidez e professor da Universidade de Chicago desde 1979. Já Philip Dybvig, 67, é professor de bancos e finanças na Universidade Washington, em St. Louis.

“Nós não sabíamos na época, mas, há 15 anos, boa parte do mundo estava à beira de uma crise econômica devastadora. A maioria de nós estava despreparada para isso. No entanto, alguns economistas estavam preparados e preocupados”, disse Hans Ellegren, secretário-geral da Real Academia Sueca de Ciências, que organiza o prêmio.

“Eles tinham estudado a teoria de corridas bancárias, acreditavam em suas evidências e suspeitavam que a possibilidade de corridas bancárias estava sendo considerada irrelevante. Conforme os eventos se desenrolaram em 2008, nove de cada dez evidências se mostraram em favor da teoria”, prosseguiu Ellegren.

Em resumo, a teoria das corridas bancárias aponta que os bancos só estão seguros se estiverem regulados adequadamente. Em momentos de crise profunda, é comum que as pessoas corram aos bancos para tentar sacar seus recursos. Este movimento pode levar à falência deles, algo capaz de gerar efeitos em outros setores da economia.

Evento de anúncio do Nobel de Economia, com retratos dos três premiados no telão – Anders Wiklund/TT News Agency/Reuters

A pesquisa dos economistas premiados trata de como fortalecer o setor bancário para evitar crises assim e de como recuperá-lo após falhas. Em um estudo publicado em 1983, Bernanke apontou que a falência de bancos pode gerar crises econômicas profundas, como a depressão americana dos anos 1930, e que a quebra dessas instituições acaba sendo um fator gerador de crises, em vez de apenas ser consequência de problemas econômicos.

Diamond mostrou que uma função importante dos bancos é monitorar os tomadores de empréstimo. Se fizerem isso bem, essas instituições reduzem o custo do crédito e facilitam investimentos que beneficiam a sociedade.

No entanto, quando os bancos quebram, este conhecimento sobre o comportamento dos devedores se perde, pois não é transferido facilmente para os novos bancos que sejam criados. Isso faz com que uma crise gerada por falências bancárias demore a passar.

Uma das formas de evitar falências bancárias é fortalecer as garantias sobre o dinheiro depositado. Ao saber que seus recursos serão devolvidos mesmo que o banco quebre, diminuem as chances de que correntistas tentem tirar suas reservas em um momento de pânico.

Em resposta à crise de 2008, muitos governos agiram para evitar a falência de grandes bancos, o que gerou críticas de parte da sociedade, pois muitas pessoas perderam suas casas ou suas economias no mesmo período. “Mesmo que esses resgates tenham problemas, eles podem na verdade serem bons para a sociedade”, disse Diamond, em entrevista coletiva após ser premiado.

Diamond disse que se a quebra do banco americano Lehmann Brothers, em 2008, tivesse sido evitada, a crise da época teria sido menor.

Naquele momento, no entanto, Bernanke era presidente do Fed e disse que não havia forma legal de salvar o Lehmann. Em seguida, usou recursos públicos para evitar a quebra de outros bancos que estavam em risco. A recuperação dos EUA foi lenta e levou em torno de dois anos, mas depois foi seguida por uma expansão longa, que deixou indicadores positivos, como desemprego abaixo de 4%.

Perguntado se teria conselhos para os bancos e governos hoje, Diamond disse que as crises financeiras se tornam piores quando as pessoas perdem a fé na estabilidade da economia. “Quando as coisas acontecem de modo inesperado —como, eu acho que muitas pessoas estão surpresas como as taxas de juros estão subindo rápido pelo mundo— isso pode ser algo que desperta medos sobre o sistema”, disse Diamond.

“O melhor conselho é estar preparado, para garantir que a sua parte no setor bancário é vista como saudável e está saudável, e responder de forma calculada e transparente às mudanças na política monetária”, acrescentou.

Concedido desde 1901, o prêmio Nobel foi criado a partir da fortuna deixada por Alfred Nobel (1833-1896), químico e inventor sueco que criou a dinamite. Inicialmente, eram cinco categorias: pazliteraturaquímicafísica medicina. O de economia foi lançado depois, em 1969, e já premiou 92 pessoas desde então.

CONFIRA OS OUTROS VENCEDORES DO NOBEL EM 2022:

  • Literatura: A escritora francesa Annie Ernaux.
  • Química: Carolyn Bertozzi, Morten Meldal e Barry Sharples, pelo desenvolvimento de uma ferramenta para construção de moléculas.
  • Física: Alain Aspect, John F. Clauser e Anton Zeilinger, por pesquisas sobre física quântica.
  • Medicina: Svante Pääbo, por estudos sobre a evolução humana.
  • Paz: O ativista Ales Bialiatski, da Belarus, o Memorial, grupo de direitos humanos da Rússia, e o Centro para Liberdades Civis da Ucrânia.

RELEMBRE OS VENCEDORES DO PRÊMIO DE ECONOMIA

2022 – Ben Bernanke, Douglas Diamond e Philip Dybvig, por suas pesquisas sobre o setor bancário e as crises financeiras.

2021 – David Card (Canadá e EUA), Joshua D. Angrist (Israel e EUA) e Guido W. Imbens (Holanda); Card “por suas contribuições empíricas à economia do trabalho”, e Angrist e Imbens, “por suas contribuições metodológicas para a análise das relações causais”.

2020 – Paul Milgron e Robert Wilson (EUA), “por melhorias na teoria do leilão e invenções de novos formatos de leilão”

2019 – Abhijit Banerjee (Índia e EUA), Esther Duflo (França e EUA) e Michael Kremer (EUA), “por sua abordagem experimental para aliviar a pobreza global”

2018 – William Nordhaus e Paul Romer (EUA), por revelarem fatores que impulsionam o crescimento sustentável e o papel de políticas públicas na determinação de seu impacto

2017 – Richard H. Thaler (EUA), por estudo do comportamento na tomada de decisões

2016 – Oliver Hart (Reino Unido e EUA) e Bengt Holmström (Finlândia), por estudos na área de contratos

2015 – Angus Deaton (Reino Unido e EUA), por estudos sobre consumo, pobreza e bem-estar social

2014 – Jean Tirole (França), devido a pesquisas sobre o poder de mercado de grandes empresas

2013 – Eugene Fama, Robert Shiller e Lars Peter Hansen (todos dos EUA), por estudos de análise sobre preços de ativos

2012 – Alvin Roth e Lloyd Shapley (ambos dos EUA), por trabalhos sobre como otimizar oferta e demanda

2011 – Thomas J. Sargent e Christopher A. Sims (ambos dos EUA), por pesquisa sobre causas e efeitos na macroeconomia

2010 – Christopher Pissarides (Chipre) e Peter Diamond e Dale T. Mortensen (ambos dos EUA), por estudos sobre demandas dos mercados e a dificuldade em correspondê-las

2009 – Elinor Ostrom e Oliver Williamson (EUA), pela demonstração de como propriedades podem ser utilizadas por associações de usuários e pela teoria sobre resolução de conflitos entre corporações, respectivamente

2008 – Paul Krugman (EUA), pela análise dos padrões do comércio e da localização da atividade econômica

2007 – Leonid Hurwicz (Polônia e EUA), Eric S. Maskin e Roger B. Myerson (ambos dos EUA), pela aplicação das bases da teoria do desenho dos mecanismos

2006 – Edmund S. Phelps (EUA), “por sua análise dos tradeoffs intertemporais na política macroeconômica”

2005 – Robert J. Aumann (Israel e EUA) e Thomas C. Schelling (EUA), por estudos sobre conflito e cooperação em negociações por meio da análise da teoria dos jogos

2004 – Finn E. Kydland (Noruega) e Edward C. Prescott (EUA), por pesquisa sobre o desenvolvimento da teoria da macroeconomia dinâmica e seus estudos sobre os ciclos de negócios

2003 – Robert F. Engle 3º (EUA) e Clive W.J. Granger (Reino Unido), “por métodos de análise de séries de tempo econômicas”

2002 – Daniel Kahneman (EUA e Israel) e Vernon L. Smith (EUA), “por ter integrado insights da pesquisa psicológica na ciência econômica, especialmente em relação ao julgamento humano e tomada de decisão sob incerteza”, no caso de Kahneman, e “por ter estabelecido experimentos de laboratório como ferramenta de análise econômica empírica, especialmente no estudo de mecanismos alternativos de mercado”, no caso de Smith

2001 – George A. Akerlof, A. Michael Spence e Joseph E. Stiglitz (todos dos EUA), “por suas análises de mercados com informações assimétricas”

2000 – James J. Heckman (EUA) e Daniel L. McFadden (EUA), “por seu desenvolvimento de teoria e métodos para analisar” amostras seletivas, no caso de Heckman, e escolha discreta, no caso de McFadden

1999 – Robert A. Mundell (Canadá), “por sua análise da política monetária e fiscal sob diferentes regimes de taxas de câmbio e sua análise das áreas monetárias ótimas”

1998 – Amartya Sen (Índia), “por suas contribuições para a economia do bem-estar”

1997 – Robert C. Merton e Myron S. Scholes (ambos dos EUA), “por um novo método para determinar o valor dos derivados”

1996 – James A. Mirrlees (Reino Unido) e William Vickrey (EUA), “por suas contribuições fundamentais para a teoria econômica de incentivos sob informação assimétrica”

1995 – Robert E. Lucas Jr. (EUA), “por ter desenvolvido e aplicado a hipótese de expectativas racionais, e com isso ter transformado a análise macroeconômica e aprofundado nosso entendimento da política econômica”

1994 – John C. Harsanyi (EUA), John F. Nash Jr. (EUA) e Reinhard Selten (Alemanha), “por sua análise pioneira de equilíbrios na teoria dos jogos não cooperativos”

1993 – Robert W. Fogel e Douglass C. North (EUA), “por terem renovado a pesquisa em história econômica aplicando a teoria econômica e métodos quantitativos a fim de explicar a mudança econômica e institucional”

1992 – Gary S. Becker (EUA), “por ter estendido o domínio da análise microeconômica a uma ampla gama de comportamento e interação humana, incluindo comportamento fora do mercado”

1991 – Ronald H. Coase (Reino Unido), “por sua descoberta e esclarecimento da importância dos custos de transação e direitos de propriedade para a estrutura institucional e funcionamento da economia”

1990 – Harry M. Markowitz, Merton H. Miller e William F. Sharpe (EUA), “por seu trabalho pioneiro na teoria da economia financeira”

1989 – Trygve Haavelmo (Noruega), “por seu esclarecimento sobre os fundamentos da teoria da probabilidade da econometria e suas análises de estruturas econômicas simultâneas”

1988 – Maurice Allais (França), “por suas contribuições pioneiras à teoria dos mercados e utilização eficiente dos recursos”

1987 – Robert M. Solow (EUA), “por suas contribuições para a teoria do crescimento econômico”

1986 – James M. Buchanan Jr. (EUA) – “por seu desenvolvimento das bases contratuais e constitucionais para a teoria da tomada de decisão econômica e política”

1985 – Franco Modigliani (Itália e EUA), “por suas análises pioneiras da poupança e dos mercados financeiros”

1984 – Richard Stone (Reino Unido), “por ter feito contribuições fundamentais para o desenvolvimento de sistemas de contas nacionais e, portanto, melhorado muito a base para a análise econômica empírica”

1983 – Gerard Debreu (França e EUA), “por ter incorporado novos métodos analíticos à teoria econômica e por sua reformulação rigorosa da teoria do equilíbrio geral”

1982 – George J. Stigler (EUA), “por seus estudos seminais de estruturas industriais, funcionamento dos mercados e causas e efeitos da regulação pública”

1981 – James Tobin (EUA), “por sua análise dos mercados financeiros e suas relações com as decisões de despesas, emprego, produção e preços”

1980 – Lawrence R. Klein (EUA), “para a criação de modelos econométricos e a aplicação à análise de flutuações econômicas e políticas econômicas”

1979 – Theodore W. Schultz (EUA) e Sir Arthur Lewis (Santa Lúcia/Reino Unido), “por sua pesquisa pioneira em pesquisa de desenvolvimento econômico, com particular consideração dos problemas dos países em desenvolvimento”

1978 – Herbert A. Simon (EUA), “por sua pesquisa pioneira no processo de tomada de decisão em organizações econômicas”

1977 – Bertil Ohlin (Suécia) e James E. Meade (Reino Unido), “por sua contribuição inovadora à teoria do comércio internacional e dos movimentos internacionais de capital”

1976 – Milton Friedman (EUA), “por suas realizações nos campos da análise do consumo, história e teoria monetária e por sua demonstração da complexidade da política de estabilização”

1975 – Leonid Vitaliyevoch Kantorovich (Rússia) e Tjalling C. Koopmans (|Holanda e EUA), “por suas contribuições para a teoria da alocação ótima de recursos”

1974 – Gunnar Myrdal (Suécia) e Friedrich August von Hayek (Áustria e Reino Unido), “por seu trabalho pioneiro na teoria do dinheiro e das flutuações econômicas e por sua análise penetrante da interdependência dos fenômenos econômicos, sociais e institucionais”

1973 – Wassily Leontief (EUA), “pelo desenvolvimento do método de insumo-produto e por sua aplicação a problemas econômicos importantes”

1972 – John R. Hicks (Reino Unido) e Kenneth J. Arrow (EUA), “por suas contribuições pioneiras à teoria do equilíbrio econômico geral e à teoria do bem-estar”

1971 – Simon Kuznets (EUA), “por sua interpretação empiricamente fundada do crescimento econômico que levou a uma visão nova e aprofundada da estrutura econômica e social e do processo de desenvolvimento”

1970 – Paul A. Samuelson (EUA), “pelo trabalho científico através do qual desenvolveu uma teoria econômica estática e dinâmica e contribuiu ativamente para elevar o nível de análise na ciência econômica”

1969 – Ragnar Frisch (Noruega) e Jan Tinbergen (Holanda), “por terem desenvolvido e aplicado modelos dinâmicos para a análise dos processos econômicos”

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