Prioridade de cirurgia reparadora para vítimas de agressão pode virar lei no Pará

Violência doméstica aumentou 25% no Pará, no primeiro semestre deste ano (Marcos Santos/USP)
Daleth Oliveira – Da Revista Cenarium Amazônia

BELÉM (PA) – A prioridade de cirurgia reparadora para mulher vítima de agressão, da qual resulte dano a sua integridade física ou estética, poderá ser lei no Pará. Esta semana, o deputado Torrinho Torres (Podemos) protocolou o Projeto de Lei 681/2023 propondo a mudança que, se aprovada, deverá ser executada pelo Sistema de Saúde estadual.

O texto apresentado à Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) explica que o dano em questão caracteriza-se por qualquer deformidade ou deficiência em relação aos parâmetros físico e estético. Com a promulgação da lei, hospitais e centros de saúde estaduais deverão informar às vítimas de violência sobre a possibilidade de acesso gratuito e prioritário a procedimentos cirúrgicos de reparação, bem como as providências necessárias para realizá-los.

Na justificativa do projeto, o deputado diz que a iniciativa tem como base o alarmante aumento dos índices de violência contra a mulher no Pará, salientando as graves repercussões psicossociais que afetam as vítimas.

PUBLICIDADE
Deputado Torrinho Torres na Alepa (Celso Lobo/AID/Alepa)

Por isso, a violência doméstica requer tratamento diferenciado quanto à abordagem, sendo necessário atendimento cauteloso e prioritário às vítimas que, em sua maioria, se veem sozinhas e perpetuam o convívio com seu abusador por não possuírem apoio e nem proteção. Por esse motivo é que se pretende abarcar um tratamento prioritário dada à urgência de tratamento em que uma mulher vítima de violência doméstica se encontra, reduzindo os riscos de possível retorno à convivência com o agressor, com intenso e facilitado apoio psicológico e, em caso de agressão física, que sejam adotadas medidas cirúrgicas prioritárias às vítimas“, argumenta Torres.

Violência doméstica

A violência doméstica no Estado do Pará aumentou 25% neste ano, aponta dados da Secretaria Pública e Defesa Social do Pará (Segup). Os números são referentes ao período de janeiro a julho. Ano passado, foram registradas 5.168 ocorrências, já neste ano, 6.473.

Nos últimos três anos, o Pará registrou um aumento de 100% nas concessões de medidas protetivas destinadas a resguardar vítimas de violência doméstica, conforme dados divulgados pelo Tribunal de Justiça do Pará (TJPA). Só em 2022, mais de 15.500 medidas protetivas foram concedidas.

Paralelamente, o primeiro semestre de 2023 revelou um aumento no número de feminicídios no Estado. Enquanto de janeiro a julho de 2022 foram registrados 28 casos, no mesmo período deste ano, o número ascendeu para 30, representando uma variação de 7,1%, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgado nesta segunda-feira, 13.

Superação

A professora do curso de Psicologia da Faculdade Serra Dourada de Altamira, Jackeline Lemos, reconhece a importância de dar urgência à cirurgia reparadora de mulheres vítimas de violência. Para ela, o procedimento é imprescindível para a recuperação da vítima.

A mulher vítima de violência passa por vários traumas, físicos e psicológicos. E os traumas psicológicos podem ser tratados por meio da psicoterapia, que já é um processo longo. Mas quanto aos traumas físicos, é indispensável que ela tenha a oportunidade de priorizar esse atendimento, pois as marcas contribuem para que, ao olhar uma ferida, uma cicatriz, ela lembre da violência sofrida“, declara.

Psicóloga Jackeline Lemos aprova projeto de lei (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Jackeline destaca que a reparação pode até não fazer desaparecer a dor, mas ameniza. “Reparando essas marcas da violência, a mulher consegue melhorar também sua autoestima, o que também é importante para esse processo de superação“, finaliza a especialista.

Agressão é crime

A Lei Maria da Penha (Lei N° 11.340) foi sancionada no dia 7 de agosto de 2006 e representa grande avanço na garantia dos direitos humanos das mulheres no Brasil. O texto estabelece que todo caso de violência doméstica e intrafamiliar é considerado crime e deve ser apurado mediante inquérito policial, com remessa ao Ministério Público.

No Pará, a Defensoria Pública do Estado do Pará (DPE-PA) é um canal que vítimas podem procurar para se protegerem de agressores. O telefone do Núcleo de Prevenção e Enfrentamento à Violência de Gênero (Nugen) da DPE é (91) 32429035.

Diante de qualquer ato de violência doméstica e de gênero contra a mulher, as Delegacias Especializadas da Polícia Civil podem ser procuradas, de forma imediata, para o registro da ocorrência. Contudo, as denúncias também podem ser feitas em qualquer delegacia.

As denúncias também podem ser realizadas por meio do 190, em casos de urgência e emergência, 181, por meio do Disque-Denúncia, e no aplicativo WhatsApp, por meio da Iara, no número 98115-9181.

Leia mais: Vítima de agressão de jogador do Amazonas FC alega medo de denunciar atleta
Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga
PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.