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Radicalismo da extrema-direita no Brasil vai depender do desempenho de Lula no governo
O sucesso ou fracasso do próximo governo são creditados pelos estudiosos como os principais fatores para frear ou reacender a radicalização de extrema-direita (Tercio Teixeira/AFP)
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12 de dezembro de 2022
Luciano Falbo – Da Revista Cenarium
MANAUS – Sem força para ocasionar a ruptura desejada, os atos antidemocráticos em frente aos quartéis são, hoje, uma forma que o bolsonarismo encontrou para se manter em evidência e com força eleitoral, embora o líder-mor, o presidente Jair Bolsonaro (PL), tenha ficado recluso desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O sucesso ou fracasso do próximo governo são creditados pelos estudiosos como os principais fatores para frear ou reacender a radicalização da extrema-direita no Brasil.
O cientista político Pedro Santos Mundim, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), avalia que o cenário de polarização, com um dos polos capitaneados pelo bolsonarismo, ainda se manterá, pelo menos a médio prazo. Já o nível da radicalização vai depender de como as elites políticas vão se comportar e, obviamente, dos resultados do novo Governo Lula.
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“Se for um governo que vai conseguir entregar, realizar muita coisa e tiver uma aprovação alta, essa radicalização vai se arrefecer, de fato, na opinião pública. Se não conseguir entregar tanta coisa assim, as críticas podem começar a crescer e aí pode ser que a gente volte a observar, de fato, essa radicalização na opinião pública também. Mas, tudo leva a crer que, vai ter um período de calmaria aí”, disse Mundim em entrevista à CENARIUM.
O cientista político Ludolf Waldmann Júnior, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), também acredita que o radicalismo ainda continuará tendo uma força razoável nos próximos anos, pois representa uma quantidade expressiva do eleitorado. “Entretanto, a tendência é de declínio”, projeta.
“O radicalismo extremado, visto nas manifestações recentes, afastou parte dos eleitores conservadores mais moderados de Bolsonaro, considerando os distúrbios provocados e a própria ridicularização a que se expuseram os manifestantes golpistas”, ressaltou Waldmann Júnior.
O pesquisador considera que, ao sair da máquina pública, o bolsonarismo perde recursos valiosos para manter a sua mobilização, pautar a agenda política ou assegurar a cooptação de setores da estrutura do Estado para seus projetos autoritários. “Além disso, Lula tem um perfil, tradicionalmente, bastante conciliador, algo reforçado até pela sua aliança com Geraldo Alckmin”.
Assim como Santos Mundim, ele avalia que, se o próximo governo tiver sucesso na “reconstrução nacional”, o bolsonarismo vai arrefecer ainda mais.
“O perfil do Lula é do negociador, algo que ele mantém desde sua atuação sindical e, apesar da rejeição à sua figura e ao PT ele, provavelmente, é uma das poucas figuras políticas, hoje, se não a única, que tem o prestígio e a habilidade necessários para frear a radicalização”, analisa.
Waldmann Júnior afirma que esse processo de mitigar a radicalização passa tanto pela capacidade de fazer um pacto de reconstrução nacional que vise revisar os retrocessos da gestão Bolsonaro, como também na capacidade de conseguir atender aos anseios da população em termos de melhorias na economia e condições de vida “que foram muito afetadas pela pandemia e pelas desastrosas políticas tomadas pelo atual governo”.
“Se Lula tiver sucesso nesta empreitada, certamente, o radicalismo tende a diminuir, caso contrário, a tendência é do retorno, talvez com ainda mais força, destes grupos extremistas”, alerta.
O ensaísta João Cezar de Castro Rocha, professor titular de literatura comparada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), avalia que, nas próximas semanas, nesses atos, restará apenas um núcleo radicalizado de fanáticos. “Muitos tornaram o radicalismo um negócio próspero: lacres, lucros e likes que crescem na exata proporção em que defendem uma ditadura”, publicou o professor em sua conta no Twitter.
Segundo ele, o “mercado” de fanáticos diminuirá. “Por isso, serão ainda mais radicais e lunáticos — especialmente, os que vivem no exterior”, observa. O estudioso defende que as instituições “ajam à altura do enorme e o inédito desafio”. “Quem defende ditadura comete crime e precisa ser processado. É isso ou nunca teremos uma democracia sólida”.
Em relação aos que, segundo ele, voltarão envergonhados para casa, Rocha diz que será preciso lançar pontes e “trabalhar para que abandonem a prisão da midiosfera extremista, que produziu o pior caso do mundo de dissonância cognitiva coletiva”.
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