Região Norte possui mesmo IDH do Paraguai, mas tem caminho longo e tortuoso para desenvolvimento

Apesar de longo e tortuoso, caminho para melhoria no processo de desenvolvimento não é impossível (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – A região Norte do Brasil tem um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) com média de 0.730, o mesmo do Paraguai, que, por muitos anos, foi considerado como o “primo pobre” da América Latina. No entanto, assim como o País vizinho, que, economicamente, atrai investimentos estrangeiros e figura entre os maiores produtores e exportadores de soja do mundo, a região brasileira precisa enfrentar um caminho longo e tortuoso para atingir o mesmo patamar de desenvolvimento.

De acordo com a vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Denise Kassama, o estímulo às atividades econômicas e potencialidades regionais, além de infraestrutura e logística podem fazer a diferença no levantamento feito pelo Brasil em Mapas sobre o IDH das regiões brasileiras. “O caminho para melhoria do processo de desenvolvimento como um todo é longo e tortuoso, mas não é impossível”, afirma a economista Denise Kassama.

Dados

Dados do Brasil em Mapas levam em consideração o estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) de 2019, da Organização das Nações Unidas (ONU), e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a pesquisa, a região Sul do Brasil tem o maior índice por região, com 0.789, e é similar ao da ilha caribenha Trinidad e Tobago. O Sudeste do País aparece na segunda posição do ranking, com 0.794, e pode ser comparado ao índice da Albânia.

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O Centro-Oeste está em terceiro na lista, com 0.789, o que correspondente ao índice de Cuba. O menor IDH por região é o Nordeste, com 0.715, similar ao índice de desenvolvimento humano da África do Sul. Nenhuma região possui índice considerado elevado, ou seja, maior que 0.800, mas todas possuem índice alto, entre 0.700 a 0.799.

Região Norte do Brasil possui quarto maior IDH do País (Bruno Pacheco/Revista Cenarium)

O índice varia de 0 a 1 e quanto mais perto do número um, maior o IDH do País. De acordo com a economista Denise Kassama, considerando que o líder deste ranking é a Noruega, com IDH de 0,954, e o último da lista é o Nigéria, com 0,394, um IDH de 0,730 aparenta não ser tão ruim.

“O índice é um indicador utilizado para medir o nível de desenvolvimento da população de uma região a partir da educação, renda e saúde. Como se trata de um comparativo mundial, possibilita comparar a qualidade de vida, assim como nível de pobreza e com isso nortear políticas públicas”, explicou Kassama.

Para Denise, o que ocorre é que o Norte é extenso territorialmente, com realidades muito diferentes entre os municípios. “Ao fazer o cálculo, levando em consideração essa totalidade, como há uma concentração da população nas metrópoles, onde a qualidade de vida pode ser maior pela facilidade de acesso à educação, empregos formais etc., portanto, com IDH maior, o indicador acaba na média ficando mais alto, mas acaba não refletindo a realidade de boa parte dos municípios”, reforçou.

Dificuldades

Dentro do Norte, conforme defende Denise Kassama, cabem vários Paraguais. Apenas o Estado do Amazonas, por exemplo, possui uma área de 1.571.000 Km² e uma população de 3,874 milhões de habitantes, sendo mais da metade residente em Manaus (2,02 milhões), em contrapartida aos 406.752 km² de área do Paraguai, que tem uma população de sete milhões. Mas com a dimensão, contudo, leva a uma realidade de vida completamente diferente para a economista.

“As dimensões reduzidas [no Paraguai], assim como a alta densidade demográfica, facilitam o acesso da população aos serviços públicos e a implementação de políticas públicas em benefício da qualidade de vida da população. Opostamente está o Norte, onde há uma população que vive em comunidades distantes das sedes de município, e muitas vezes o acesso se dá somente via fluvial, e onde ainda existem deficiências no abastecimento da rede elétrica, condições sanitárias e acesso à saúde e educação. Estas dificuldades podem ser ampliadas, conforme movimento de cheia e vazante dos rios”, concluiu.

Queda

De acordo com o mais recente Relatório de Desenvolvimento Humano, do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud), divulgado em dezembro do ano passado, o Brasil caiu cinco posições no ranking de IDH em 2019, quando comparado ao ano anterior, mas apresentou uma leve melhora no desempenho.

Segundo a pesquisa, o Brasil aparece na posição 84, numa lista de 189 países analisados. Em 2018, o País ocupava a posição 79. A queda ocorre mesmo com o índice subindo de 0.762 para 0.765. A média brasileira é menor do que a de países como Chile, Argentina, Uruguai, Peru e Colômbia, mas é maior de que Suriname, Paraguai, Bolívia Venezuela e Guiana.

Os dados da pesquisa ainda não levam em conta os impactos causados pela pandemia da Covid-19, porque são relativos ao ano de 2019. Com a Covid-19, a ONU estima que todo o mundo terá uma diminuição do IDH, o que seria algo inédito desde a criação do índice, em 1990.

Economia

Em meio à pandemia, a economia do Paraguai foi a que teve a menor queda entre os países latino-americanos, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal). A retração foi de 0,6%. Para comparação, segundo levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado pela BBC News Brasil, a economia do Brasil sofreu contração de 4,1% no primeiro ano de pandemia, em 2020, já Argentina encolheu 10,5%, a do Uruguai, 5,9% e a do Peru, mais de 11%.

O ministro paraguaio da Fazenda, Oscar Llamosas Díaz, em entrevista ao jornal em abril deste ano, explicou que a situação teria sido outra se não fosse o plano de emergência aplicado pelo governo, que consistiu em reforçar o sistema sanitário do País e na distribuição de ajuda, por meio do programa “guarani Pytyvõ (ajuda/ajudar).

Segundo o ministro, o Paraguai diminuiu em 16% o índice de pobreza. Em 2010, recordou, o País tinha cerca de 39% de pobres e, quase dez anos depois, em 2019, o índice foi de 23%. Com a pandemia, a pobreza subiu para 26%. O governo trabalha com a expectativa de melhora com a economia puxada pela agropecuária, agronegócio e obras públicas.

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