‘Resistir para Existir’: Congresso de 50 anos do Cimi reúne lideranças indígenas em Goiás

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Lideranças indígenas brasileiras, missionários, missionárias e ex-dirigentes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) se reuniram em Luiziânia, no interior de Goiás, de terça-feira, 9, até esta quinta-feira, 10, para os 50 anos de existência da entidade.

Entre os participantes estavam presentes lideranças indígenas como Rosa Tremembé, Rodrigo Pataxó, a cacique Hozana Poruborá, Simão Guarani Kaiowá, representando a Aty Guasu – Assembleia Geral do povo Guarani e Kaiowá e a Articulação dos Povos Indígenas no Brasil (Apib) e o secretário executivo da organização, Antônio Eduardo Oliveira, dentre outros.

A memória, a história e o futuro do Cimi foram tema dos debates no congresso de 50 anos da entidade (Maiara Dourado/Reprodução)

Para a cacique Hozana Poruborá, da aldeia Aperoi, em Rondônia, relembrar a trajetória de seu povo e revisitar as memórias de sua infância diz muito sobre a relação com o Cimi. “Nasci e me criei sabendo que era cabocla, minha mãe falava a sua língua escondida, nós não podíamos falar. Esse direito, os invasores nos tiraram. Só depois dos 30 anos pude falar que era indígena, agradeço muito ao Cimi por abrir essas portas para nós”, recordou a indígena.

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Já Rodrigo Pataxó, liderança da Terra Indígena Comexatibá avaliou positivamente a contribuição do Cimi com a luta dos povos originários e a resistência que se fortaleceu ao longo de cinco décadas de entrelaçamento da instituição com a causa indígena no Brasil: “O Cimi tem sido um ponto de equilíbrio entre as comunidades, pois tem sabido articular os povos sem interferir nos modos de vida”, destacou. O Pataxó salientou ser necessária a mobilização e o envolvimento da juventude das aldeias, pois “é preciso resistir para existir”, observou.

Lideranças lembraram as contribuições do Cimi para os povos originários onde a entidade atuou (Maiara Dourado/Reprodução)

Eixos

Durante o congresso de 50 anos do Cimi foram estabelecidos quatro eixos norteadores das linhas de atuação da entidade. O Cimi abraça a “Mística” de que aos missionários e missionárias são também militância; a “Memória”, que foi amplamente discutida na primeira mesa de debates do evento; a “Resistência”, vastamente debatido no segundo dia do evento; e a “Esperança”, que pautou o debate às discussões do terceiro e último dia do encontro. Esses eixos marcam os próximos passos da entidade.

“Há 522 anos que os indígenas vêm mostrando sua resistência e garra, e as parcerias sempre foram fundamentais para a gente”. Afirmou Edinho Macuxi, coordenador-geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR). O indígena ainda destacou que é hora de celebrar a luta ao longo de meio século de caminhada. “Tudo o que enfrentamos nos motiva a ser fortes e ser guerreiros. Reconhecemos que fomos reduzidos, mas nunca vencidos”, triunfou o Macuxi.

Ao término dos trabalhos, Wilson Pataxó Hã-Hã-Hãe, liderança da Terra Indígena (TI) Caramuru Catarina Paraguaçu, no Sul da Bahia, ressaltou: “Temos um desafio muito grande de lutar pela saúde e educação indígena, mas, principalmente, de defender a demarcação dos territórios e, para isso, precisamos existir para resistir e continuar. Portanto, resistência é você persistir, resistir para garantir o seu território”, finalizou.

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