Risco de fraude ou narrativa política? O que dizem especialistas sobre relatório de fiscalização das urnas

Emissão da zerésima (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Alita Falcão – Da Revista Cenarium

MANAUS – Depois de enviar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e disponibilizar ao acesso público o relatório de fiscalização das urnas eletrônicas, proposital ou não, o Ministério da Defesa acabou criando uma narrativa de insegurança e dividindo opiniões sobre a lisura do processo eleitoral brasileiro.

O relatório tem sido fortemente questionado por entidades políticas e pela imprensa nacional, sobretudo após nota divulgada pelo órgão. “O Ministério da Defesa esclarece que o acurado trabalho da equipe de técnicos militares na fiscalização do sistema eletrônico de votação, embora não tenha apontado, também não excluiu a possibilidade da existência de fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022”, traz parte do texto oficial.

Leia também: Sem citar a palavra fraude, relatório do Ministério da Defesa pede correções no sistema eleitoral

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Emissão da zerésima (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Para entender melhor a questão, a REVISTA CENARIUM ouviu dois especialistas em tecnologia e inovação para explicar a necessidade das melhorias apontadas no relatório.

Segundo a presidente do Polo Digital de Manaus, Vania Thaumaturgo, todo sistema, eletrônico ou humano, tem algum risco de falha, e o mais importante, nesse caso, são os processos que previnam a ocorrência dessas falhas.

Não existe sistema eletrônico ou humano que não tenha risco de falha, até os ônibus espaciais, desenvolvidos pela Nasa, já falharam, e é esse tipo de constatação que se evidencia no relatório das Forças Armadas. Portanto, o que realmente importa são os processos que previnem a falha, é isso que gera a segurança de um sistema”, destacou Vania.

Ela também chamou a atenção para o fato de que ao longo da história do desenvolvimento tecnológico, a redução da interferência humana pode minimizar riscos de falha, principalmente em processos repetitivos, como, por exemplo, na contagem de voto em papel.

“Pelo que consta no relatório, todo o processo de segurança estabelecido pelo TSE foi seguido no último pleito eleitoral. Se há melhorias a serem implantadas? Provavelmente sim, pois a tecnologia sempre avança, bem como os crimes cibernéticos. É constante a necessidade de melhorias em sistemas e processos. A tecnologia é dinâmica e não estática, as melhorias fazem parte da evolução”, explicou Vania Thaumaturgo.

Rodrigo Lamas, especialista em inovação, disse que sempre acompanhou a realização das eleições, mesmo após a implantação do sistema eletrônico. Ele questiona o relatório do Ministério da Defesa.

O sistema de urnas eletrônicas existe há mais de 25 anos e vem sendo aprimorado constantemente, inclusive, com a participação das Forças Armadas, que integram a equipe técnica juntamente com outros órgãos de fiscalização e especialistas em segurança da informação. Considero que a atitude do Ministério da Defesa cria uma narrativa política em cima de algo que nunca foi questionado”, defendeu.

Lamas também afirmou que no próprio relatório apresentado ao TSE consta haver modelos distintos de urnas eletrônicas, o que por si já demonstra que o sistema tem sido aprimorado.

Não é tomar partido, trato essa questão com muita tranquilidade. A segurança do pleito nunca foi questionada e todo mundo acompanha o processo de verificação das urnas. Esse é um assunto que nunca foi discutido pela sociedade”, concluiu.

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