Da Revista Cenarium*
MANAUS – Cerca de mil indígenas do povo Enawenê-Nawê participam anualmente do Yaokwa, principal ritual realizado por aldeias dos municípios de Comodoro, Juína e Sapezal (MT). As atividades ligadas ao Yaokwa têm início neste mês de janeiro e duram até a metade do ano.
Os preparativos para o ritual começam com a colheita de milho e mandioca seguida da construção de barragens nos rios para captura de peixes durante a grande pescaria, uma das principais atividades que reúne sete clãs do povo Enawenê-Nawê. Seus integrantes permanecem acampados por volta de três semanas moqueando os peixes coletados durante a pescaria nas barragens. Essas estruturas recebem os nomes de Maxikiawiña, Olowina, Uiakawiña, Tinuliwiyña e Manakawiña.
O objetivo é manter os peixes conservados após a defumação para abastecer as aldeias enquanto perdurar a cerimônia ao longo dos meses. Os peixes também são utilizados como oferenda para as entidades espirituais que integram a cosmologia da comunidade, sobretudo os Yakairiti, espíritos subterrâneos que, na cosmologia Enawenê-Nawê, controlam os recursos naturais.
Patrimônio cultural
De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Ritual Yaokwa é a celebração mais importante e de maior duração realizada pelo povo Enawenê-Nawê. Parte fundamental do ritual ocorre quando os homens saem da aldeia para realizar a pesca coletiva, que é o ponto alto da celebração. Em 2011, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) incluiu o ritual na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial que Requer Medidas Urgentes de Salvaguarda.
Toda a cerimônia estende-se durante o período da seca, “época marcada pelas interações com os temidos seres naturais do patamar subterrâneo, os Yakairiti. Condenados a viver com uma fome insaciável, esses seres espirituais precisam dos Enawenê-Nawê para satisfazê-la. Assim, os Enawenê-Nawê devem estabelecer uma relação de troca constante com esses espíritos para manter a ordem social e cósmica, trocas que ocorrem por meio de um complexo ciclo ritual que se distribui ao longo do ano”, destaca o IPHAN.
(*) Com informações da Funai