Rússia diz que partes do acordo negociado com a Ucrânia estão sendo seriamente discutidas

Socorristas ajudam mulher a sair de prédio residencial bombardeado em Kiev. (Serviço de Emergência da Ucrânia via Reuters)

Com informações da Folha de S. Paulo

RÚSSIA – O chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou nesta quarta-feira, 16, que partes do acordo negociado com a Ucrânia estão perto de serem fechadas e que a neutralidade de Kiev, uma das principais condições apresentadas por Vladimir Putin para acabar com a guerra, está sendo seriamente discutida.

“As negociações não são fáceis por razões óbvias”, disse o diplomata, à frente da chancelaria russa há quase duas décadas, à emissora RBC. “No entanto, há alguma esperança de chegar a um compromisso, e o status de neutralidade está sendo seriamente discutido”, completou.

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As declarações de Lavrov vêm horas após um otimismo comedido também ser demonstrado pelo lado ucraniano. O presidente Volodimir Zelenski afirmou na noite dessa terça-feira, 15, que a negociação, nos últimos dias, tornou-se mais realista.

Antes, Zelenski deu ainda outra sinalização que vai ao encontro dos interesses de Moscou: disse que o país poderia ficar de fora da Otan, a aliança militar de 30 membros comandada pelos Estados Unidos.

O premiê do Reino Unido, Boris Johnson, também fez declaração semelhante. De acordo com o jornal britânico The Guardian, Boris chancelou que “não há como a Ucrânia se juntar à Otan tão cedo”. “Todo mundo sempre disse, e deixamos isso claro para Putin.”

A neutralidade do país, de modo a não se unir à Otan ou à União Europeia (UE), bem como o reconhecimento da Crimeia anexada e da independência das ditas repúblicas separatistas do Donbass são as principais demandas postas na mesa por Putin.

Lavrov voltou a abordá-las quando sugeriu que um acordo pode estar a caminho. O russo disse que a segurança das pessoas no leste ucraniano —de maioria russa étnica—, a desmilitarização do país e os direitos das pessoas de língua russa são questões-chave.

O Kremlin também sugeriu que a Ucrânia poderia seguir modelos de neutralidade semelhantes ao de países como Suécia e Áustria. Com uma política de não interferência em conflitos militares de Estados terceiros, as duas nações estão no escopo geopolítico ocidental —integram a UE—, mas não estão nas fileiras da Otan.

Apesar das sinalizações diplomáticas, os ataques continuaram, especialmente em duas das maiores cidades, Kiev e Kharkiv, na manhã desta quarta-feira, 16, madrugada no Brasil. Na capital, duas pessoas ficaram feridas e 37 foram retiradas do local após um prédio residencial ser atacado.

Serviço de resgate inspeciona prédio atingido por bombardeio (Thomas Petes/Reuters)

Em Kharkiv, na porção leste, ao menos duas pessoas morreram após um ataque a uma área residencial. Equipes de resgate trabalhavam para apagar o fogo, e uma escola também teria sido bombardeada pouco antes, de acordo com as autoridades locais.

Também persistem os ataques em Mariupol, cidade portuária e cuja conquista é estratégica para a Rússia estabelecer uma ponte terrestre ligando a Crimeia ao leste russo da Ucrânia.

A vice-primeira-ministra ucraniana, Irina Vereshchuk, afirmou que um hospital na cidade está sob controle de tropas russas, que mantêm 400 funcionários e pacientes reféns —a informação, no entanto, não pôde ser confirmada de forma independente.​

Zelenski fará um discurso virtual ao Congresso dos EUA ainda na manhã desta quarta-feira, 16, quando deve pedir maior apoio internacional com armamentos para Kiev e sanções a Moscou.

Horas depois, espera-se que o presidente americano, Joe Biden, anuncie uma ajuda adicional de US$ 800 milhões (R$ 4,1 bi) para o país do Leste Europeu, a serem gastos principalmente com segurança.

O conflito está, ainda, na pauta da Corte Internacional de Justiça, mais alto tribunal das Nações Unidas, que deve decidir na tarde desta quarta-feira sobre uma pauta de emergência apresentada pela Ucrânia para interromper a invasão militar russa, hoje em seu 21º dia.

Kiev apresentou a demanda logo após o início da guerra, em 24 de fevereiro, argumentando que a alegação russa de que existe um genocídio no leste da Ucrânia, usada para justificar a ação, é infundada.

Embora as decisões do tribunal sejam vinculantes —com os países sendo obrigados a seguir o que for decidido em seu âmbito—, não existem meios diretos de aplicá-las.

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