Sem equipamentos de segurança, crianças arriscam a vida para estudar no interior do AM

Crianças arriscam a vida para estudar em comunidade de Itacoatiara (Divulgação)
Bruno Pacheco – Especial para Revista Cenarium*

ITACOATIARA (AM) – O relógio marca 4h da manhã, o sol ainda não nasceu, mas as crianças ribeirinhas já estão prontas para mais um dia de aula. De madrugada, arriscam a vida e navegam pelo Rio Amazonas em direção à Escola Municipal João Ramalho, na comunidade Divino São Sebastião, localizada na Ilha do Risco, em Itacoatiara (a 270 quilômetros de Manaus).

O trajeto em busca da educação é feito pelos estudantes em canoas (pequenas embarcações) sem a presença de monitores e em meio à falta de equipamentos de segurança, como os coletes salva-vidas. A rotina insalubre é motivo de preocupação para pais e mães dos alunos. O descaso com os estudantes foi relatado nesta segunda-feira, 19, na Câmara Municipal de Itacoatiara (CMI), pela vereadora Renata Tenório (PCdoB), após as mães procurarem por ajuda.

Segundo a parlamentar, além da falta de coletes, as crianças precisam viajar pelo maior rio do mundo sem um monitor, que seria um profissional responsável por vigiar os meninos e meninas na ida à escola e evitar que eles caiam na água.

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Fachada da Escola Municipal João Ramalho (Divulgação)

Por conta da situação de vulnerabilidade, um requerimento de Renata Tenório aprovado pelos vereadores pede que a Prefeitura de Itacoatiara, por meio da Secretaria Municipal de Educação, adote medidas urgentes e ajude as crianças. A parlamentar afirma que até as mulheres da comunidade se juntaram e estão fazendo uma “vaquinha” entre os moradores para comprar os coletes.

“Recebemos informações de que tem uma lancha que funciona um dia e nos outros quatro dias da semana não. Solicitamos do prefeito que providencie lancha, condutor, monitor e os coletes para evitarmos um desastre em nossos rios com as nossas crianças, porque é preocupante que uma criança pequena, às 4h da manhã, navegando pelo rio, sem ninguém vigiando”, declarou a vereadora.

“A gente tem que dar uma resposta com providências a serem tomadas e com urgência, porque a gente tem noção do que é o perigo [de navegar pelo rio], mas as crianças não têm”, continuou.

Escola fica localizada na Comunidade Divino São Sebastião (Divulgação)
Educação

A Escola Municipal João Ramalho fica localizada na comunidade Divino São Sebastião, na Ilha do Risco, distante a 19 quilômetros da sede do município de Itacoatiara. A unidade educacional foi inaugurada em julho de 2020, na gestão do ex-prefeito Antônio Peixoto, e atende estudantes do Ensino Fundamental I.

No mês de abril deste ano, a região foi uma das comunidades de Itacoatiara nas zonas rurais e ribeirinhas que receberam ações da prefeitura, por meio da Secretaria Municipal do Interior, como a instalação de luminárias com lâmpadas, manutenção de refletores e bocais, que ajudam na segurança da locomoção da população pela localidade.

Em meio às melhorias recém-realizadas na comunidade, de acordo com a vereadora Renata Tenório, a expectativa é que as atenções também sejam voltadas para as crianças ribeirinhas. “O que a gente realmente quer é segurança para as nossas crianças. Eu, como mãe, não poderia fazer vista grossa em relação a isso”, disse.

Distância da escola para a cidade de Itacoatiara é de 19 km (Divulgação)

Navegar sem coletes salva-vidas no Rio Amazonas, especialmente para crianças, apresenta vários perigos significativos. O afogamento é a principal ameaça e, em meio às correntezas fortes e turbulentas, como são conhecidas as águas do Rio Amazonas, para crianças desprotegidas, pode ser fatal.

O colete salva-vidas é um equipamento projetado para manter as pessoas flutuando e facilitar o resgate em caso de emergência. É uma medida de segurança essencial para evitar afogamentos e garantir a proteção dos menores durante atividades no rio.

Para a vereadora Renata Tenório, é dever do poder público adquirir o equipamento. “Existem mães da comunidade que só vivem de Bolsa Família, que já é para elas se sustentarem durante o mês. Como elas vão comprar um colete, que está numa faixa de R$ 200 a R$ 300? Elas vão ter que escolher ou se comem ou a segurança dos filhos? Então, é muito complicado e estamos solicitando que o prefeito tome as providências quanto a isso”, pontuou.

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Itacoatiara e solicitou um posicionamento sobre as condições dos estudantes. Até a publicação deste texto, não tivemos retorno.

Leia também: Moradores de Itacoatiara, no AM, vivem há um ano com estragos de chuva: ‘Nada mudou’

(*) Com informações do portal O Login da Notícia

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