Suspeito de ligação ao tráfico, delegado de repressão a drogas é preso no Amapá

Delegado preso era titular de delegacia de combate ao tráfico de drogas (Reprodução/Olho do Boto)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – O candidato a deputado estadual pelo Amapá delegado Sidney Leite, titular da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes (DTE), foi preso na madrugada de quarta-feira, 14, por suspeita de envolvimento com organização criminosa e envolvimento com tráfico de drogas realizado dentro e fora do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen).

A Operação Queda da Bastilha, feita em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/AP), do Ministério Público do Amapá (MP-AP) e Polícia Federal (PF), cumpriu 22 mandados de busca e apreensão e outros nove de prisão preventiva. Equipes da Força-Tarefa de Segurança Pública (FTSP) e Equipes da Força Tática da PM/AP, Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Grupo Tático Prisional (GTP) ajudaram nos trabalhos.

Delegado preso era titular de delegacia de combate ao tráfico de drogas (Reprodução/Olho do Boto)

Além do envolvimento com o tráfico de drogas, o MP-AP chegou a conclusão que o grupo também cometeu delitos de associação para o tráfico, corrupção ativa e passiva, prevaricação, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

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Seis mandados de busca foram cumpridos dentro da Iapen, quatro em celas de internos, dois em salas de servidores e outros oito mandados de prisão preventiva e um de prisão domiciliar contra servidores públicos, advogados e presos do regime fechado, além do bloqueio de valores em contas bancárias e aplicações financeiras de 21 investigados.

As buscas e prisões preventivas ocorreram em residências e escritórios de advocacia, nos bairros Pacoval, Central, Cidade Nova, Jardim Equatorial, Novo Buritizal, Perpétuo Socorro, Trem, Cabralzinho e Fazendinha.

Investigações

A operação teve início a partir da prisão de uma funcionária da empresa que fornecia alimentos para o Iapen, ocorrida em fevereiro. A funcionária foi flagrada facilitando a entrada de drogas, armas e munições na penitenciária.

A partir desse momento, a PF e Gaeco/AP contataram fraudes e crimes dentro do Instituto, envolvendo outros servidores da Segurança Pública, advogados, presos e policiais penais, que trabalhavam na organização criminosa e recebiam dividendos pelas ações ou regalias dentro das celas.

A PF e Gaeco/AP confirmaram que alguns presos do Iapen estavam recebendo alimentação diferenciada e tinham acesso a celulares e drogas, atestados médicos falsos para concessão de prisão domiciliar, irregularidades no uso da tornozeleira eletrônica, além do próprio delegado Sidney Leite ter oferecido sua casa para abrigar um dos presos em prisão domiciliar, conforme troca de mensagens anexadas pelo MP-AP.

A investigação apurou, ainda, que Sidney intermediou a locação de veículo blindado para que, no caso do esquema da prisão domiciliar dar certo, ser usado pelo preso. O candidato a deputado também teria tratado do aluguel de uma residência. A PF apurou fortes indícios de intenção de fuga com a conivência da autoridade, que não foi concretizada.

Sidney também teria intermediado junto a um integrante do Poder Judiciário a soltura de um dos detentos em troca de “vantagens”, que não foram aceitas pelo membro do judiciário. Na conversa captada pelo MP-AP foi oferecido o pagamento no valor de R$30 mil pelo serviço.

(Reprodução)

“Marmita da liberdade”

A rede criminosa tinha membros em praticamente todos os setores da penitenciária. A investigação identificou a venda diferenciada de alimentos na cozinha do Iapen, supervisionada por membros da organização criminosa, que ajudavam a levar a “marmita da liberdade” para os integrantes do grupo. Os celulares, armas e drogas eram transportados dos pavilhões por um preso que trabalhava como eletricista.

Os celulares transportados ilegalmente para dentro da cadeia tinham entrada facilitada por servidores, que escondiam na bomba d’água. Para aqueles que não faziam parte da organização criminosa era cobrado o aluguel de R$100 por dia para alugar os aparelhos.

A investigação desvendou ainda fraudes na supervisão da tornozeleira eletrônica. O esquema chegou a movimentar R$2 mil por cada interno que estivesse conseguido liberdade para regime domiciliar ou provisória e quisesse fraudar o sistema de monitoramento.

As penas somadas, em caso de condenação, podem chegar a 60 anos de reclusão (Divulgação/MP-AP)

Lavagem de dinheiro

Partindo da organização criminosa que se formou dentro do presídio, as equipes de investigações atestaram ligação do grupo com advogados que ajudavam nas fraudes. Um dos internos, beneficiário do esquema dentro da cadeia, era responsável por captar clientes presos para advogados envolvidos no esquema. Que por sua vez ajudavam a fraudar pagamentos para a entrada dos produtos ilícitos, conseguindo “laranjas” para lavar dinheiro.

A PF e o Gaeco/AP apuraram que esse preso recebia remuneração por cada detento que conseguia como cliente para os advogados. Os serviços incluíam também a obtenção de laudos psiquiátricos ilegais, cobrados no valor de R$5 mil, pagos para dois servidores da penitenciária. Em um caso aponta que o interno pagou R$ 150 mil e outro R$ 20 mil.

Agentes da PF tiveram acesso a documentos com movimentação de dezenas de milhares de reais entre contas bancárias. A Justiça determinou o bloqueio de valores dessas contas bancárias e aplicações financeiras dos investigados. De acordo com o MP-AP, as penas somadas, em caso de condenação, podem chegar a 60 anos de reclusão.

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