‘Também sou sensitivo’, diz delegado da PF sobre informações repassadas por Bolsonaro a Milton Ribeiro

O ex-superintendente da PF, Alexandre Saraiva (Reprodução/Internet)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – Após divulgação da conversa telefônica do último dia 9 de junho entre o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, e a filha, na qual ele relata que Jair Bolsonaro (PL) “pressentiu” operação da Polícia Federal, o ex-superintendente da PF, Alexandre Saraiva, ironizou o lado ‘sensitivo’ do presidente, em um vídeo compartilhado em uma rede social na sexta-feira, 24.

“Nessa onda, aí, de pressentimento, de poderes paranormais, eu acho que também sou sensitivo, porque não é de hoje que eu tenho um pressentimento que existe interferência deste governo na Polícia Federal”, comenta o delegado em vídeo publicado em rede social.

https://twitter.com/DelegadoSaraiva/status/1540510939904196608

Milton Ribeiro foi alvo da operação “Acesso Pago”, na última quarta-feira, 22, e foi preso, juntamente com mais quatro pessoas, incluindo os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, envolvidos no esquema de corrupção do MEC deflagrado em março deste ano, após denúncias de prefeitos.

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De acordo com as denúncias, o grupo era responsável por controlar a agenda do ministério e direcionar os recursos públicos da pasta em reuniões fechadas, das quais eles supostamente pediam propina para liberar mais recursos para construção de creches e escolas.

Após suspeitas de interferência do presidente Jair Bolsonaro (PL), o juiz Renato Coelho Borelli enviou os autos das investigações sobre o ex-ministro Milton Ribeiro e pastores suspeitos de atuarem no Ministério da Educação para análise do Supremo Tribunal Federal (STF).

O magistrado deu a decisão após o Ministério Público Federal (MPF) apontar “indício de vazamento da operação policial e possível interferência ilícita por parte do presidente da República Jair Messias Bolsonaro nas investigações”.

Leia também: Caso Milton Ribeiro é enviado ao STF após suspeitas de interferência de Bolsonaro

Organização criminosa

No vídeo, Alexandre Saraiva afirma também ter pressentimento de que uma organização criminosa que atua na destruição da Amazônia repassa dinheiro para parlamentares. “Também tive pressentimento de que alguns parlamentares são cúmplices da destruição da Amazônia, inclusive, estão no “bolso” da organização criminosa que toma conta da Amazônia, como a Carla Zambelli, Zequinha Marinho, Jorginho Mello, Telmário Mota… tudo pressentimento. Pressentimento de que eles recebem dinheiro de uma organização criminosa que atua na destruição da Amazônia”, afirma o delegado.

Carla Zambelli, Zequinha Marinho, Jorginho Mello, Telmário Mota (Divulgação/Câmara dos Deputados/Senado)

Em entrevista ao GloboNews no dia 14 de junho, Saraiva havia acusado os parlamentares da base aliada de Bolsonaro de fazerem parte da “bancada do crime” e estarem envolvidos com madeireiros, garimpeiros e outas atividades ilegais desenvolvidas na Amazônia. O delegado ainda afirmou que está “disposto a ir até as últimas consequências” em suas acusações.

“Também tive um forte pressentimento, recente, de que esse ouro que foi supostamente negociado pelo pastor, que ele vem de garimpo ilegal da Amazônia. Também tenho pressentimento que 99% da madeira que sai da Amazônia é ilegal”. O delegado faz referência à denúncia realizada pelo prefeito Luis Domingues, do Maranhão, ao jornal Estadão, na qual ele afirmou que um dos pastores envolvidos nas negociações do MEC, Gilmar Santos ou Arilton Moura, teria pedido 1kg de ouro para conseguir liberar verbas de obras de educação para a cidade.

‘País das coincidências’

O desembargador Ney Bello, do Tribunal Federal Regional da 1ª Região (TRF-1), responsável pela liberação do ex-ministro da Educação Milton é o mesmo que em janeiro concedeu uma liminar liberando parte da madeira ilegal apreendida em dezembro de 2020 na “Operação Handroanthus”, da Polícia Federal (PF), na qual Saraiva foi líder.

A madeira tinha origem no desmatamento ilegal e no dia 23 de junho, quando Milton foi liberado da prisão, o delegado Saraiva chegou a apontar a coincidência dos fatos.

“O Brasil é o País das coincidências: desembargador que proferiu decisão para devolver a madeira, da maior apreensão de madeira ilegal da história, agora liberou o pastor que cobrava propina em ouro. Aposto minhas calças que este ouro vinha de garimpos ilegais da Amazônia”, escreveu.

Saraiva foi, durante 10 anos, superintendente Regional da Polícia Federal nos Estados de Roraima, Maranhão e Amazonas. Nesse último, tendo sido exonerado em maio de 2021 por Bolsonaro, após apresentar notícia-crime sobre infrações ambientais cometidas pelo então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, exonerado um mês depois.

Veja vídeo na íntegra:

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