‘Tornar povos tradicionais invisíveis ajuda a tomar suas terras’, diz antropóloga

Indígena da etnia Baré, dona Jeremias de Souza Tavares, moradora da RDS do Tupé. (Reprodução/ Alberto Araújo)

Com informações do Brasil de Fato

MANAUS – Muitos povos tradicionais no Brasil estão “invisíveis” para o poder público e empresas, e isso faz parte de uma estratégia de tomada de seus territórios. O alerta foi feito pela antropóloga Kátia Favila, que explica que muitas vezes são justamente as pessoas que estão fazendo a conservação desses lugares que ameaçam à vida dos povos e comunidades tradicionais.

Flávia explica que não há um registro exato sobre quais são (e quantos são) os povos tradicionais no Brasil atualmente. “É um processo em que a gente não consegue dizer ‘são esses daqui’, e fechar um número ou uma nominação. Eles são vários e ainda estão se identificando”, afirma.

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A lista de povos tradicionais é vasta: indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, vazanteiros, fundo e fecho de pasto, pescadores artesanais, geraizeiros, extrativistas, veredeiros, catingueiros, apanhadores de flores sempre viva e agricultores familiares.

O Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais classifica 28 segmentos que estão representados, no entanto, Favila diz que o número é bem maior.

“Na realidade são tantos, mas fazendo um resumo para as pessoas entenderem do que estamos falando são os extrativistas, pescadores, as marisqueiras. Se a gente vai para o Cerrado, tem os geraizeiros, veredeiros. Enfim, temos uma infinidade de povos e comunidades tradicionais no Brasil e na realidade muitos ainda estão se auto-identificando. Logo, ainda é um processo em que a gente não consegue dizer são esses daqui”, explica a especialista.

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Reprodução Cultural

Dentro da prática que rege, no Brasil, quem são povos e comunidades tradicionais, há elementos como a distinção étnica e identitária. Segundo Favilla, essas comunidades e povos têm formas de viver que são distintas das formas em que a sociedade, de uma forma geral, vive. Eles têm uma reprodução cultural distinta.

“Além disso, tem uma outra questão que é o mais importante e na realidade foi o que moveu a Rede Cerrado da qual eu faço parte, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e o Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN) a fazer campanha, para nós, permanente: a de que os povos tradicionais são extremamente ligados aos seus territórios”, esclareceu.

Ligação Umbilical

De acordo com a Kátia Favilla as comunidades estão ligados ao território de uma maneira umbilical. “Essa questão é tão profunda com a terra que isso também é uma outra questão que define as comunidades tradicionais no país inteiro, sejam esses territórios urbanos ou rurais, até porque muitas vezes eles estão em uma área urbana, porque foram comprimidos na área urbana”, disse afirmando que eles não deixam de serem comunidades ou povos tradicionais, só por estarem em uma área urbana.

Para a especialista, no momento em que ameaçam o território dos indígenas, a primeira ameaça que existe é à vida dos povos e comunidades tradicionais. “Porém, a gente sabe que isso não é uma questão pacífica, ou seja, que o governo ratificou e tem cumprido a Convenção 169, muito pelo contrário, infelizmente várias comunidades entraram no processo de construção do seus próprios Protocolos de Consulta, justamente, para tentar impedir o avanço que tem sido feito dentro de seus territórios”, explicou.

A antropóloga explica ainda que “enquanto não houver entendimento do tamanho que há na diversidade brasileira, sua importância, não estamos entendendo o que é o Brasil”, finalizou.

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