A pior seca na Amazônia é a de políticas públicas

A Amazônia continua a enfrentar secas recordes que abalam não apenas a flora e fauna, mas também têm repercussões significativas sobre as comunidades locais e o ecossistema global. Embora a previsibilidade desses eventos climáticos tenha se tornado mais precisa, a falta de políticas públicas eficazes expõe a inércia dos governos no planejamento e execução de ações estruturantes e de longo prazo. A consequência é a alta vulnerabilidade da população, principalmente interiorana, diante de eventos ambientais extremos, como as grandes secas e cheias.

Ano após ano, a região testemunha secas prolongadas e intensas. Esses eventos não são meras anomalias, mas indicadores claros das mudanças climáticas em curso. O aumento das temperaturas e a alteração nos padrões de chuva não somente ameaçam a biodiversidade única da região, mas também têm sérias implicações para os municípios interioranos, as comunidades tradicionais e os povos indígenas que dependem diretamente desses recursos naturais.

A ciência climática alcançou avanços notáveis na previsão de eventos extremos. Hoje, somos capazes de antecipar com considerável precisão a ocorrência de secas, permitindo tempo suficiente para preparações e respostas adequadas. No entanto, apesar desse progresso, muitas dessas advertências têm caído em ouvidos moucos devido à falta de ações preventivas efetivas por parte das autoridades.

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A ausência de políticas públicas robustas e proativas nas esferas federal, estadual e municipal agrava os impactos das secas na Amazônia. A falta de investimentos em infraestrutura de adaptação, como sistemas de gestão de água e programas de reflorestamento, deixa as comunidades vulneráveis a escassez de recursos essenciais. Além disso, a falta de regulamentações ambientais eficazes permite práticas predatórias, como o desmatamento ilegal, agravando ainda mais a situação.

As secas e as enchentes batem recordes sucessivos e sempre presenciamos os mesmos problemas: isolamento de cidades, falta de água potável, desabastecimento e encarecimento de combustíveis e gêneros alimentícios. Também se repetem as mesmas providências emergenciais, que mais tarde não se desdobram em políticas públicas capazes de mitigar os impactos destes eventos ambientais extremos na próxima estação chuvosa ou de vazante.

As secas recordes na Amazônia não são apenas uma crise ambiental, mas uma crise humanitária que exige ação imediata. A previsibilidade desses eventos deveria ser um chamado à ação para a implementação de políticas públicas efetivas, não apenas em resposta às secas, mas também para abordar os desafios adicionais de saneamento básico, transporte e abastecimento. A proteção da Amazônia e o bem-estar de suas comunidades dependem de um compromisso coletivo em enfrentar esse desafio com determinação e resiliência. Somente assim podemos garantir um futuro sustentável para esta região vital para o equilíbrio global.

*Allan Soljenítsin Barreto Rodrigues é jornalista, escritor, professor do curso de Jornalismo da Ufam, mestre e doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia e líder do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Cultura e Amazônia (Trokano).
Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga
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(*)Allan Soljenítsin Barreto Rodrigues – jornalistas, escritor, professor do Curso de Jornalismo da UFAM, mestre e doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia e líder do Grupo de Pesquis em Comunicação, Cultura e Amazônia (Trokano).

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