Aliado de Bolsonaro, prefeito de Manaus faz ‘evento’ para entrega de cestas básicas e desiste de aparição

O prefeito David Almeida (Avante) foi até o local, mas não desceu do veículo, provavelmente orientado pela assessoria (Reprodução/Ricardo Oliveira)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – A Prefeitura de Manaus promoveu uma aglomeração com centenas de pessoas durante a entrega de cestas básicas a famílias atingidas pela subida das águas na tarde desta terça-feira, 18. Nas imagens capturadas pela REVISTA CENARIUM, no Centro Social e Cultural Zulandio Pinheiro, bairro Educandos, zona Sul da capital, é possível observar mulheres, crianças e idosos próximos uns aos outros e uma quantidade considerável de pessoas sem o uso das máscaras de proteção.

A equipe da reportagem presenciou o momento em que o prefeito David Almeida (Avante), aliado do presidente Jair Bolsonaro, foi até o local, mas desistiu de descer do carro e falar com as pessoas que aguardavam em uma longa fila pelas cestas, ao contrário das famílias, que ficaram por mais tempo no local expostas ao risco real de contrair o vírus, que devastou a vida de milhões de pessoas no mundo. A entrega, sem organização, causou tumulto e revolta da população.

PUBLICIDADE

“Uma bagunça. Estamos aqui há um tempão esperando no sol quente. Ninguém orienta nada. Precisamos de ajuda, mas queremos ser respeitados e não humilhados”, disse a dona de casa Maria de Fátima que estava aguardando com seus dois filhos.

A prefeitura entregou, sem organização e promovendo a disseminação do novo coronavírus, 600 cestas de alimentos às famílias atingidas pela cheia no bairro Educandos e outras 50 no bairro Puraquequara, zona Leste.

O Brasil registra cerca de 440 mortes causadas pelo novo coronavírus. No Amazonas, 379.830 foram infectadas pelo vírus, além de quase 13 mil mortes. Segundo o especialista e pesquisador da Fiocruz, Jesem Orellana, apesar de ter a finalidade de ajudar pessoas, iniciativas como estas são extremamente perigosas, e podem ser consideradas como uma negligência sanitária.

A aglomeração aconteceu durante a entrega de cestas básicas no bairro Educandos em Manaus (Reprodução/Ricardo Oliveira)

“Não estamos falando de nenhuma novidade, é algo recorrente. A prefeitura já promoveu outros eventos este ano e em 2020, que também geraram aglomeração e certamente devem ter contribuído para a disseminação do novo coronavírus. Depois de tudo que Manaus passou e tem passado, é complicado você ver a prefeitura gerando esse tipo de ambiente propício para circulação viral, principalmente agora que estamos na fase de retomada da epidemia. É um momento muito delicado em que este tipo de negligência sanitária por parte do município se torna ainda mais complicado”, analisa o especialista.

Um levantamento feito junto ao Google Notícias (uma ferramenta do sistema Google), divulgado no mês passado, mostrou David Almeida como o pior em desempenho de imagem entre os gestores das capitais da Amazônia nos primeiros 100 dias de gestão. A pesquisa analisou os nomes dos prefeitos e das cidades que eles representam com base nas ações das administrações municipais registradas na internet.

Pontos negativos

Volta e meia, o prefeito de Manaus comete deslizes e tem o nome ligado a polêmicas, principalmente quando o assunto é Covid-19. No final de janeiro, por exemplo, o Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-AM pediu a prisão preventiva de David Almeida, da secretária municipal de Saúde (Semsa), Shadia Fraxe, do secretário municipal de Limpeza (Semulsp), Sabá Reis, e de mais outros 19 servidores.

Na ação criminal, o órgão revelou um esquema fraudulento de contratações de funcionários comissionados e acusou David pelos crimes de falsidade ideológica e peculato. Antes deste episódio, Almeida suspendeu o atendimento nos serviços de urgência e emergência de 40 mil servidores da prefeitura, iniciativa que pode ter contribuído para agravar os casos de servidores e dependentes deles infectados pelo novo coronavírus, no período de janeiro a fevereiro deste ano. A informação dada em primeira mão pela REVISTA CENARIUM foi repercutida pelo Correio Braziliense.

A gestão de David também ficou marcada mundialmente pelo escândalo dos “fura-filas”, ocorrido logo no início da vacinação contra a Covid-19, em Manaus, quando as irmãs Lins foram imunizadas um dia após serem nomeadas por David Almeida e antes de funcionários da Saúde que já atuavam na linha de frente nas unidades de saúde desde o início da pandemia em abril de 2020, segundo órgãos de controle do Amazonas.

Por conta do tempo de exposição, a possibilidade de contaminação pelo vírus é maior (Reprodução/Ricardo Oliveira)

Mortes por Covid-19 no AM

Até a data dessa segunda-feira, 17, de acordo com informações divulgadas pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) os números mostravam 312 novo casos de Covid-19, somando o total de de 379.167 casos de doenças no Estado.

Com relação ao número de mortos, a FVS-AM confirmou 24 óbitos, sendo seis ocorridos somente no último dia 16 de maio, os casos elevam o número de mortes no Amazonas chegando ao total de 12.855 óbitos.

“Sempre temos que lembrar que qualquer tipo de aglomeração, independente da finalidade dela, gera riscos de transmissão interpessoal. Estamos no meio de uma epidemia de Covid-19 e isso é uma situação propícia para a circulação desse vírus e quando esses eventos são realizados por agentes públicos, a situação é ainda mais grave, pois deveria ser ao contrário, bem mais razoável organizar essas filas, fazer agendamentos para evitar cenas como estas”, finaliza o especialista.

Especialistas alertam para o risco da proximidade entre as pessoas durante iniciativas como estas (Reprodução/Ricardo Oliveira)

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Manaus, mas não houve retorno até a publicação da matéria.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.