Municípios em situação de emergência por causa da seca no Amazonas chegam a 60

Imagem aérea do Rio Madeira (Reprodução/CPRM)
Da Revista Cenarium Amazônia*

SÃO LUÍS (MA) – Subiu para 60 o número de municípios em situação de emergência no Amazonas em razão da forte estiagem que atinge o Estado. Até o momento, mais de 600 mil pessoas foram afetadas. Das 62 cidades do Estado, apenas nos municípios de Presidente Figueiredo e Apuí a situação é de normalidade.

As informações constam do mais recente boletim divulgado pela Defesa Civil do Estado, na tarde de quarta-feira, 25.

Segundo a Defesa Civil, 158 mil famílias foram afetadas pela seca deste ano. Em razão da seca no Estado, o governador Wilson Lima decretou, em setembro, situação de emergência em 55 dos 62 municípios.

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Seca no Lago do Aleixo em Manaus (Ricardo Oliveira/26.set.2023/Revista Cenarium Amazônia)

No período de janeiro deste ano a 24 de outubro, foram registrados 18.090 focos de calor no Estado, dos quais 2.500 na Região Metropolitana de Manaus. Somente em outubro, até o momento, foram 3.288 focos, mais do que o dobro do mesmo período do ano passado, quando foram notificados 1.335 focos de calor.

Em Manaus, a seca é a pior em 121 anos. A cota do Rio Negro nesta quinta-feira, 26, está em 12,70 metros (m), a menor já registrada desde 1902, quando começaram as medições do volume do rio. O recorde de alta foi de 30,02m em 16 de junho de 2021.

O cenário coincide com o momento em que se intensifica o fenômeno El Niño, caracterizado pelo enfraquecimento dos ventos alísios (que sopram de leste para oeste) e pelo aquecimento anormal das águas superficiais da porção leste da região equatorial do Oceano Pacífico. Essas mudanças na interação entre a superfície oceânica e a baixa atmosfera ocorrem em intervalos de tempo que variam de três a sete anos e têm consequências no tempo e no clima em diferentes partes do planeta. Isso porque a dinâmica das massas de ar no Oceano Pacífico adota novos padrões de transporte de umidade, afetando a temperatura e a distribuição das chuvas.

Para o géografo Marcos Freitas, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), só o El Niño não explica a situação do Rio Negro. Segundo ele, há indícios de que a estiagem no Amazonas está relacionada com o aquecimento global do planeta. Isso porque as chuvas na região do rio são formadas, sobretudo, pelos deslocamentos de massas de ar provenientes não do Oceano Pacífico, mas do Atlântico.

Em 2010, quando o Rio Negro enfrentou outra seca severa, o pesquisador coordenou um estudo para avaliar a situação. Na época, o rio registrou nível de 13,36 metros, o menor da sua história, até ser superado na estiagem deste ano. Com a experiência de quem analisou de forma aprofundada a situação de 13 anos atrás, Marcos Freitas conversou com a Agência Brasil e avaliou o cenário atual.

“Quando estudei a seca de 2010, mapeei o aquecimento do Oceano Atlântico, do Pacífico e também me debrucei sobre as mudanças no uso do solo com o desmatamento. Naquele ano, as águas do Atlântico tiveram aumento médio de temperatura mais acentuado. Mas o máximo que havia de desvio de temperatura era de 1 a 1,5 grau. Talvez com algum repique a 2 graus”, disse Freitas. 

Leia mais: Seca no Rio Negro: pesquisador mostra como aquecimento global impacta a região
(*) Com informações da Agência Brasil
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