Ao completar 111 anos, cinema mais antigo do Brasil ganha restauração

Após 11 anos sem, o Cine Olympia passará por reforma (Acervo Pessoal)
Michel Jorge – Da Revista Cenarium

PARÁ – O cinema mais querido da cidade de Belém, no Pará, celebra o seu aniversário de número 111 com uma história que atravessa muitos belenenses. O legado cultural do patrimônio histórico permanece imponente no centro da cidade. Após 11 anos sem, o Cine Olympia passará por reforma, conforme anunciou o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (Psol-PA), nessa segunda-feira, 24.

O local, que é a mais antiga sala de cinema do Brasil em funcionamento, passará por reforma e restauro. A obra inicia ainda no primeiro semestre de 2023 e tem previsão de conclusão de um ano, e está sendo garantida por meio do Instituto Pedra que captou a liberação de recursos no valor de R$ 8 milhões, junto ao Instituto Vale.

Fundado em 24 de abril de 1912, o Olympia foi o primeiro cinema de luxo da capital paraense (Divulgação)

“A parceria com o Instituto Pedra, orçada em oito milhões, está em análise no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e em breve a obra de reforma, restauro e modernização do cinema Olympia será iniciada. Nós queremos reinaugurar no próximo aniversário do cinema e assim termos motivos para muitas festas”, disse o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues.

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Segundo o Instituto Pedra, responsável pela captação de recursos para a execução da obra que vai restaurar o Cinema Olympia, o projeto de revitalização do cinema foi realizado na época do PAC das Cidades Históricas, ainda no governo de Dilma Rousseff, mas ficou parado por falta de recursos.

“O Instituto veio até Belém buscando algum monumento que tivesse projeto pronto e conseguimos o do cinema. Nós ganhamos esse edital da Prefeitura e logo em seguida fomos atrás da Vale e ela topou fazer a reforma do Olympia conosco”, explica Beth Almeida, técnica do Instituto Pedra que ficará responsável pela obra.

O anúncio do restauro foi feito pelo prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (Psol-PA)

História

Fundado em 24 de abril de 1912, o Olympia foi o primeiro cinema de luxo da capital paraense. Nasceu em meio a era de ouro do comércio da borracha, no período conhecido como Belle Époque. Originalmente sob posse dos empresários Carlos Teixeira e Antônio Martins, o luxo e o glamour do Olympia seria comprado pelo banqueiro Adalberto Marques ao final dos anos trinta.

O queridinho dos paraenses é detentor de muitos títulos, sendo reconhecido pela sua beleza, pela valorização aos profissionais locais, entre outras qualidades. Sendo considerado o cinema mais antigo do País ainda em funcionamento e também o lugar onde se exibiu o primeiro filme sonoro em Belém.

O Olympia teve outros donos antes de se tornar patrimônio cultural do Estado, efetivamente. Seu último proprietário foi Severiano Ribeiro, responsável por levar o público cativo à loucura com o anúncio do fim das sessões em 2006. Na época, os lucros das bilheterias não eram mais suficientes para custear a manutenção do espaço e Severiano achou boa ideia anunciar a despedida – o que não aconteceu.

De portas bem abertas

Em meio ao clima de despedida e motivado pelas manifestações em defesa do cinema, para que suas atividades não fossem interrompidas, o prefeito em questão, Duciomar Costa, anunciou o cinema como espaço cultural da cidade. O que veio a se concretizar seis anos depois com a aprovação do projeto de lei do vereador Abel Loureiro, que fez do espaço um centro de exibições audiovisuais. A partir de então, a prefeitura de Belém se tornou a responsável por preservar o legado do queridinho da cidade das mangueiras.

Após o tombamento, diversas iniciativas socioeducativas passaram a compor a programação do cinema. A exemplo do projeto “A escola vai ao cinema”, focado em aproximar alunos de escola pública das maravilhas da sétima arte, o cinema também passa a receber festivais com mostras internacionais de filmes, firmando parcerias com consulados de outros países e sendo reconhecido pela qualidade elevada de seus eventos.

Boas lembranças

Para quem trabalhou ou para os que vinham de passagem, o cine Olympia foi o lar de boas lembranças, talvez até tenha criado tradições. A jornalista e professora da Universidade Federal do Pará, Luzia Alvares, diz que: “o Olympia fez parte da memória do convívio das pessoas na cidade e marcou um tempo em que havia a diferença de classes entre os espectadores. Mais do que isso, o Olympia é o marco da minha história afetiva com Pedro Veriano, pois, numa tarde de domingo, em março de 1957, iniciamos nosso namoro”.

Um século de pé, sem nunca ter mudado de endereço, habitando a mesma esquina da Avenida Presidente Vargas, o cinema mais antigo criou raízes nos corações da cidade das mangueiras.

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