Após resgate de tuíte sobre campos nazistas, Gkay deixa Twitter e vira assunto nacional

Internautas resgataram falas preconceituosas da influencer que desativou sua conta no twitter (Thiago Alencar/CENARIUM)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – A influenciadora paraibana Gessica Kayane Rocha de Vasconcelos, mais conhecida como Gkay, desativou sua conta no twitter após resgate de postagens ofensivas, de cunho preconceituoso, racista e conteúdos mencionando o terror nazista. Em um dos tuítes, Gkay fantasiou: “KD OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO QND EU MAIS PRECISO DELES?” A postagem feita em novembro de 2011, precedeu outras de teor agressivo com pretos e gordos.

A polêmica com o nome de Gkay alcançou proporções nacionais após a piada do humorista Fábio Porchat no domingo, 25, no especial “Melhores do Ano”, durante o programa global “Domingão do Hulk”. “Eu olho o Jô (Soares) e fico imaginando o que ele faria com uma Gkay na frente dele, né, Tatá (Werneck)? Foi por isso que ele preferiu nos deixar…”.

A fala não foi bem digerida pela influencer que tuitou: “Você dizer que uma pessoa preferiu ir embora do que me entrevistar, realmente, não tem noção alguma do quanto isso me fere em mil lugares…”.

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A piada não foi bem aceita pela influenciadora (Reprodução/Twitter)

Internautas não tardaram a resgatar “as piadas” de Gkay para confrontá-la naquilo que na linguagem das redes sociais é conhecido como “mimimi”. Para o cientista político Paulo Queiroz, é uma questão de lei. “Não sei qual foi a intenção da influenciadora, mas, é claro que isso tipifica um crime de apologia ao nazismo. Todos nós sabemos o que foi o nazismo, e existem leis específicas que tratam sobre os crimes contra a humanidade. É preciso aprender sobre esses limites”, apontou.

Corredor eletrificado do famigerado campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia. Nele, o Terceiro Reich assassinou mais de um milhão e meio de pessoas (Reprodução/Internet)

Queiroz destaca ainda que existem entendimentos que atravessam décadas, pois nasceram de acontecimentos que marcaram a humanidade. “A história nos mostra acontecimentos terríveis, e o nazismo é um dos maiores deles. Foi uma carnificina covarde que precisa ser combatida de qualquer forma. Se for uma manifestação de três pessoas, precisa ser detida. O nazismo foi tão bárbaro que ainda nos escandaliza, e precisa ser entendido dessa forma. Não cabe fazer piada com a liberdade humana“, pontuou.

Legislação

Para o advogado Christhian Naranjo, o assunto precisa ser entendido à luz das leis que norteiam as liberdades de opinião e expressão. “É bem subjetivo, depende muito do ponto de vista do intérprete. Algumas pessoas defendem que não pode haver restrição, outras entendem que precisa haver moderação. No caso dela, Gkay, penso que existem requisitos que caracterizam crime, uma vez que existe legislação que coíbe a conduta”, avaliou o profissional jurídico.

Crianças judias em um campo de extermínio nazista. Ao todo, foram mais de um milhão assassinadas pelas forças nazistas de Adolf Hitler (Reprodução/UOL)

Na leitura de Naranjo, ainda que pareça inofensivo ou mesmo “engraçado”, certas publicações, como no caso da Gkay, não se pode minimizar. “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa – ou reclusão de dois a cinco anos e multa, se o crime foi cometido em publicações ou meios de comunicação social”, informou. Fora da pele de advogado, o ser humano Christhian Naranjo condenou: “O nazismo foi responsável pelo maior genocídio conhecido na história humana“, finalizou.

Internação e repercursão

Após a fala de Fábio Porchat durante o Domingão e o “cancelamento” sofrido na internet, com os resgates das velhas postagens, na noite de terça-feira, 27, a influenciadora deu entrada em um hospital, em São Paulo. Segundo sua assessoria, em comunicado para a imprensa, Gkay apresentou um “quadro de indisposição”.

Na mesma noite, o humorista Fábio Porchat fez um vídeo no qual afirmou não ter sido agressivo com a colega de profissão. “Não tem nada de agressivo, não tem nada, absolutamente, nada. O que tem é o acúmulo de um monte de coisas, e ninguém sabia que a Gkay estava neste poço para explodir“, reforçou Porchat.

Fábio Porchat fez um vídeo no qual afirmou não ter sido agressivo com a colega de profissão (Reprodução/Instagram)

Outros casos

Não é a primeira vez que as redes sociais reverberam sobre conteúdos carregados de preconceito ou mesmo com viés totalitário. No início de 2022, o influencer Bruno Aiub, conhecido como Monark, soltou uma pérola em uma entrevista no Flow podcast: “A esquerda radical tem muito mais espaço do que a direita radical, na minha opinião. As duas tinham que ter espaço. Eu sou mais louco que todos vocês. Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei“, barbarizou.

Campanhas de aceitação e contra os padrões de beleza tem se multiplicado para debelar posicionamentos contra pessoas gordas, por exemplo (Reprodução/Culturamix)

A declaração causou indignação nas comunidades judaicas brasileiras e, à época, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) soltou uma nota: “A Conib condena, de forma veeemente, a defesa da existência de um partido nazista no Brasil e o “direito de ser antijudeu”, feita pelo apresentador Monark do Flow Podcast. O nazismo prega a supremacia racial e o extermínio de grupos que considera ‘inferiores.'”

Outro episódio foi com a atriz Regina Duarte. Após a vitória de Lula, por meio de seu perfil, no Instagram, a atriz sugeriu a colocação de adesivos para mostrar que você tem orgulho de quem elegeu”. Depois da postagem, Regina sofreu duras críticas de internautas que lembraram que este tipo de identificação é semelhante ao que aconteceu com os judeus durante o nazismo na Alemanha.

A identificação por pichação de estabelecimentos judaicos e a “estrela amarela“, presa às roupas, serviam para denunciar quem eram “os inferiores” na sociedade alemã.

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