Artistas do Boi Garantido ameaçam apreender fantasias por falta de pagamento

Boi-Bumbá Garantido (Michael Dantas/Reprodução)
Adrisa De Góes – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – Após o presidente da Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido, Antônio Andrade, ameaçar não colocar o boi da Baixa do São José na arena para a disputa do 56° Festival Folclórico de Parintins, artistas se organizam para restringir a saída das fantasias, produzidas até o momento, do galpão tribal, em caso da falta de pagamento.

A REVISTA CENARIUM obteve informações nesta segunda-feira, 19, de que os responsáveis pela confecção de fantasias de itens individuais e coletivos sofrem pressão para entregar as produções na próxima semana. A diretoria do boi vermelho, segundo os artistas, não forneceu os materiais necessários para a produção dos figurinos e eles foram custeados com recursos próprios.

“Os artistas só vão entregar as fantasias depois do pagamento, porque eles estão com medo. A pressão está grande. A diretoria quer que os figurinos sejam entregues na semana que vem, mas não tem dinheiro, não foi pago um real desde que os artistas iniciaram as confecções”, afirmou um artista do bumbá, que preferiu não ter o nome revelado.

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Ainda de acordo a fonte, os artistas precisaram arcar com custos de penas e adereços das fantasias deste ano, devido à precariedade da associação. “A diretoria diz que vai repor, mas não se sabe quando”, disse um dos artistas.

Alegorias inacabadas

Fotos de alegorias inacabadas, muitas ainda apenas na estrutura de ferro, e que dão vida aos rituais, lendas, figuras típicas e auto do boi, na arena, circularam nas redes sociais nesta segunda-feira. Apesar de alguns membros da diretoria e integrantes do bumbá divulgarem vídeos das estruturas finalizadas, um integrante da cúpula do Garantido revelou à CENARIUM que há alegorias que ainda precisam de “pastelagem”.

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“Três alegorias ainda faltam fazer a pastelagem, mas em dez dias eles terminam”, garantiu. A pastelagem é o processo feito na estrutura alegórica, após o revestimento, e que antecede a pintura do módulo.

Alegoria do Garantido, na área externa do curral do bumbá, em Parintins (Reprodução)

Repasses em dia

Para a realização do Festival Folclórico de Parintins 2023, o Boi Garantido recebeu, neste ano, mais de R$ 13 milhões em recursos públicos e privados. Dos quais R$ 5 milhões foram repassados pelo Governo do Amazonas e R$ 1,25 milhão pela empresa de concentrados Coca-Cola.

Além disso, a associação vermelha e branca também teria recebido outros R$ 2,9 milhões em bilheteria, da Amazon Best, empresa responsável pela venda de ingressos que dão acesso ao Centro Cultural de Parintins Bumbódromo. Outros R$ 4,5 milhões teriam sido repassados ao Boi Garantido pelos demais patrocinadores.

Os mesmos valores foram repassados, também, ao Boi Caprichoso. A reportagem entrou em contato com a assessoria do bumbá encarnado, para obter mais detalhes sobre os recursos deste ano, mas até o fechamento deste material não houve resposta.

Pressão ao governo

Nesta segunda-feira, a 12 dias da realização do festival, marcado para os dias 30 de junho e 1° e 2 de julho, o presidente do Garantido, Antônio Andrade, informou que a participação da associação folclórica na disputa está comprometida e alegou falta de recursos.

Em ofício enviado ao secretário de Cultura do Amazonas, Marcos Apolo Muniz, o dirigente do Garantido disse que a decisão foi baseada em duas possibilidades e alegou, ainda, não encontrar outras alternativas caso o Executivo não atenda às exigências impostas no documento.

A primeira seria realizar a apresentação no festival com sérias dificuldades em várias áreas, principalmente financeira. Já a segunda possibilidade seria efetivar o pagamento de todos os recursos humanos envolvidos na construção do boi. Diante do cenário e das alternativas, Antônio afirma que a diretoria opta pela segunda opção.

“Fomos obrigados a seguir pela segunda opção, ou seja, pagar todos os funcionários do bumbá. Isso implica a ausência de condições de nos apresentarmos nas três noites do festival. Objetiva-se, assim, não só o pagamento dos trabalhadores, mas também evitar o colapso que se aproxima em caso de não cumprimento do acordado com nossos artistas em geral”, relata o presidente na nota.

O presidente afirma que a situação trata-se de uma calamidade iminente, “com direito a ameaças de morte e cenário de caos social” que pode afetar não apenas o Garantido. Antônio destaca, ainda, que caso haja interesse por parte do Governo do Amazonas em ajudar com mais algum recurso, o auxílio deve ser repassado até essa terça-feira, 20.

“Comunicamos Vossa Senhoria, entendendo que, em caso de algum auxílio de sua parte, para que possamos sair da situação narrada, ele deve ser feito entre hoje, 19, e amanhã, 20, caso contrário não teremos mais tempo para quaisquer providências“, diz o texto.

Intervenção à vista

No início da noite desta segunda, o governador do Amazonas, Wilson Lima (UB), criticou Antônio Andrade e disse que o presidente do Boi Garantido tem o compromisso de colocar o boi na arena do Bumbódromo para a disputa com o Caprichoso.

“Não tem essa de colocar a faca no pescoço do governo”, afirmou o chefe do Executivo, durante entrevista à rádio Rios FM. “Essa questão de intervenção não compete ao Governo do Estado e nem mesmo acionar a Justiça. Quem tem que fazer isso são os sócios”, complementou.

Nas redes sociais, torcedores e associados ao boi vermelho e branco pedem que o Governo do Amazonas destitua Andrade da presidência e indique uma nova diretoria, temporária, para cuidar dos recursos, até o fim do festival.

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