Bancos vão negar crédito a frigoríficos que comprarem gado de áreas desmatadas da Amazônia

Norma só passa a valer em 2025, mas já teve adesão dos maiores bancos brasileiros associados à Febraban (Reprodução/Estadão)
Iury lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) –  Segundo as novas regras do financiamento da cadeia de carne bovina, estabelecidas pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), na terça-feira, 30, os frigoríficos e matadouros que compram gado criado em áreas do desmatamento ilegal, na Amazônia Legal, terão crédito e financiamento negados pelas instituições financeiras públicas ou privadas.

A norma só vale a partir de 2025, mas já teve adesão dos maiores bancos associados à Febraban. Para as instituições que aderirem à autorregulação, como o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), deverão solicitar dos frigoríficos a execução de um sistema de rastreabilidade que demonstre que o gado não pertence a áreas desmatadas ilegalmente, mesmo de fornecimento indireto.

Fazenda de criação de gado localizada no Estado de Mato Grosso (Reprodução/PCSA)

Na prática

As empresas só terão acesso a crédito se apresentarem as seguintes informações no sistema de rastreabilidade:

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  • Existência de embargos do Ibama;
  • Documentação de compra e venda;
  • Cadastro Ambiental Rural das propriedades em dia;
  • Origem do gado;
  • Informar se há trabalhadores em condições análogas à escravidão.

Pelo menos 21 bancos já assinaram o protocolo para monitorar a cadeia de abastecimento de frigoríficos, entre eles, Itaú, Bradesco, Santander e Caixa. O Banco do Brasil, maior fornecedor de crédito para o setor do agronegócio, também integra o grupo.

Fachada do edifício Banco do Brasil, na Asa Norte, Brasília. Banco é o maior financiador do agro no País (Fernando Bizerra/Agência Senado)

Medida oportuna

Para a economista e ex-vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Denise Kassama, a norma é muito oportuna em tempos atuais. “Já está mais do que na hora de alguém começar a pagar a conta de todo esse estrago ambiental”, afirmou Kassama à REVISTA CENARIUM.

“Acredito que, a longo prazo, é uma medida importante não só para a economia, mas para a preservação da Amazônia. E a gente faz votos de que outras atividades primárias também tenham esse tipo de medida. Só temos um planeta, então, temos que cuidar dele. Consertar sai muito caro do que preservar”, destacou.

A economista e vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Denise Kassama (Reprodução/Acervo Pessoal)

Frigoríficos reagem

A decisão da Febraban não repercutiu bem entre as empresas do setor de frigoríficos. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) comparou as novas regras a uma terceirização de responsabilidade.

A associação afirmou, por meio de nota, que os frigoríficos são vistos como um elo fundamental para o ordenamento da cadeia pecuária. Afirmou também que as empresas do ramo aceitam as responsabilidades, mas não que “outros setores terceirizam as suas responsabilidades para os frigoríficos”. A Abiec representa as três maiores empresas do ramo no País: JBS, Minerva e Marfrig.

Hoje, o Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo; 28% de tudo o que é produzido no País vai para o exterior. Na avaliação da ex-vice-presidente do Conselho Federal de Economia, “os produtores choram de ‘bucho cheio”. “Com certeza, eles não vão pagar essa conta sozinhos, esse custo vai acabar sendo diluído em toda a cadeia produtiva“, criticou Denise Kassama.

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