Beleza negra é celebrada em concurso que elege rainha de bloco de Carnaval

Candidatas do concurso 'Deusa do Ébano' do Ilê Aiyê (Heitor Salatiel/Reprodução)
Da Revista Cenarium*

SALVADOR – A “Noite da Beleza Negra” que elege a rainha do Carnaval do bloco afro Ilê Aiyê de Salvador é mais do que um concurso de beleza tradicional. Os jurados avaliam o figurino, mas também quem dança e representa melhor a cultura afro-brasileira. Isso significa que a deusa do ébano não leva em conta estatura, medidas esguias ou traços europeizados. Pelo contrário, aqui os cabelos e penteados são para o alto, as mulheres são escuras e a dança é afro.

A beleza negra do palco irradia no público que se monta com trajes e penteados dignos de Wakanda para aquela que é considerada “a noite mais esperada e estrelada”, como canta a música “Negras Perfumadas”. Tanto que um público fiel esteve na Senzala do Barro Preto, no Curuzu, sede do Ilê, mesmo o vento concorrendo com uma programação potente no Festival de Verão, no mesmo dia e horário. A espera, aliás, foi grande, já que o último concurso foi em 2020, na pré-pandemia.

Dalila Oliveira é a vencedora do concurso ‘Deusa do Ébano’ (Heitor Salatiel/Reprodução)

O tema do Ilê Aiyê neste ano é Agostinho Neto (1922-1979), médico que foi o primeiro presidente de Angola e parte importante do processo de libertação do País africano de Portugal. As cores da bandeira de Angola são as mesmas da estampa do bloco: vermelho, preto, amarelo e branco. Búzios, palhas e itens como berimbau completam o visual das candidatas.

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A entrada no palco é cadenciada e muitas trazem faixas ou peças que remetem ao tema do ano. Quando os tambores tocam é hora de mostrar uma dança mais pujante. Em sua 42ª edição, o concurso teve, em 2023, sua primeira candidata trans, Laís Ferreira, que ressaltou que sua participação abriu espaço para outras mulheres trans. “Podemos fazer o que quisermos”.

Já Caroline Xavier de Almeida foi vítima de racismo religioso ao ser recusada, em uma corrida, por um motorista de transporte de aplicativo, alegando “não transportar pessoas da macumba” ao ver a candidata montada tentando ir para um dos ensaios. Ela ficou em segundo lugar no concurso.

A vencedora da noite foi Dalila Oliveira, 20 anos, moradora de Pernambués e filha de Oxum. “Há muito tempo queria, quando fiz 18 anos não pude concorrer por conta da pandemia. Agora, consegui, me sinto realizada, em refazer a história dos meus ancestrais e contribuir para elevar a autoestima das mulheres negras”.

O criador do concurso, Sergio Roberto, faleceu no último domingo, 22, e foi homenageado durante a noite com a entrega de um troféu para sua sobrinha que, hoje, é secretária de Promoção da Igualdade Racial da Bahia, Ângela Guimarães.

O presidente do Ilê Aiyê, Antônio Carlos Vovô, lembrou da dificuldade dos blocos afros que ainda não recebem a atenção e o investimento que merecem. Mesmo sendo estrelada, a “Noite da Beleza Negra”, por exemplo, recebeu o patrocínio apenas de Bahia Gás, governo do Estado da Bahia e da Avon. Vovô, como é conhecido, ressaltou também que o local do evento é uma ressignificação do que é uma senzala: “educação, entretenimento e empoderamento”, ressaltou, lembrando que entre as atrações da noite estiveram Nara Couto, Afrocidade e Banda Aiyê.

No próximo domingo, 5, o Ilê faz ensaio para o Carnaval, com participação de Daniela Mercury. Já a nova deusa será coroada no sábado de Carnaval, 18, pela figurinista Dete Lima, quando ocorre a tradicional saída do bloco pelo bairro do Curuzu. Como bem canta o Ilê: “42 anos de história não são 42 dias” e esse concurso faz todos nós nos sentirmos “o mais belo dos belos”.

(*) Com informações da Folhapress
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