‘Botão do pânico’ em ônibus não garante segurança pública, diz especialista

Imagem interna de um ônibus do transporte público (Divulgação)
Pricila de Assis – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – O Projeto de Lei (PL) N° 262/202 da Câmara Municipal de Manaus (CMM), que obriga a implementação do “Botão do Pânico” no transporte coletivo, aguarda a sanção do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), mas tem gerado diversos impasses não apenas entre os vereadores, mas na sociedade. A Revista Cenarium consultou um especialista em segurança pública, um profissional de transporte urbano e a população para comentar sobre o PL.

O “Botão do Pânico” terá como funcionalidade indicar à central de monitoramento on-line, disponibilizada pela empresa detentora do veículo, a localização em tempo real dos transportes públicos. Além de emitir um discreto sinal luminoso, na parte externa do veículo, indicando qualquer movimento suspeito em andamento.

De acordo com o especialista em segurança pública Fábio Magalhães Candotti, é uma medida que tenta fortalecer a mesma lógica de sempre, de garantir a presença ostensiva da polícia durante os assaltos. “Esse tipo de proposta não soluciona o problema, como as câmeras não solucionaram. Pior, pode inclusive colocar motoristas em risco ou, ainda, responsabilizá-los por algo que não são responsáveis (caso não acionem o botão)”, afirma.

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Candotti ressalta a importância de ter projetos de lei e políticas de segurança pública dedicados a apoiar as vítimas dos crimes. “O problema é coletivo e envolve cuidar de quem está causando problemas, tanto quanto das pessoas que são vítimas, que não só perdem bens valiosos como convivem com traumas por muito tempo. Muita gente acha que apontar soluções pela via de políticas sociais não têm efeito a curto prazo. Eu diria o contrário. As soluções, via segurança pública, são utópicas. Como diz um ditado: “não tem alarme bom, quando o bom ladrão quer”, analisa o especialista.

Policiais em abordagem de vistoria em transporte público (Divulgação)
Opinião dividida

Para a motorista de transporte público Cristiane Silva, que tem 15 anos de profissão, a implementação do botão de pânico pode causar mais insegurança no coletivo. “Os motoristas de ônibus, cobradores e passageiros ficam em situações diárias do medo de serem as próximas vítimas, porque quando eles vêm para assaltar não querem saber de nada, e ainda sabendo que existem esses dispositivos instalados nos ônibus vão colocar mais em ricos as nossas vidas”, comenta.

A estudante de enfermagem Bianca Alves relata que ainda não teve experiência de vivenciar assalto no transporte urbano, mas questiona se o botão nos ônibus é vantajoso. “Acredito que não adiantaria muita coisa, porque os assaltos sempre são bem rápidos e quem sofre mesmo, na maioria das vezes, a pressão na hora, é o motorista. Penso que até a chegada da Polícia Militar (PM) não sei se adiantaria alguma coisa, geralmente, os casos de assalto nos coletivos são rápidos”, disse.

Estratégia para evitar assalto

A jornalista Maxsuellen Torres, há um ano, evita sair de casa para pegar o transporte coletivo com o celular na mochila. “Não uso o meu celular durante o período que saio de casa para ir trabalhar. Sofri assalto duas vezes e, nele, fui abordada com arma de fogo. Ter esse botão do pânico pode dar mais segurança, principalmente à noite, nos ônibus, facilitando acionar as forças de segurança”, pontua.

Redução de assalto em 2023

Conforme os dados do Centro Integrado de Estatística de Segurança Pública (Ciesp), da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), registrou-se que no primeiro bimestre do ano houve uma queda de 8% no número de roubo a ônibus se comparado ao ano de 2022.

Contudo, os dados do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas (Sintram) apresentaram que houve 1.663 assaltos de janeiro a novembro do ano passado.

Leia também: Associação ‘Manas’ disponibiliza ‘botão do pânico’ para mulheres vítimas de violência acolhidas pela iniciativa
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