‘Brasil é exemplo para a América Latina’, afirma embaixador do Japão sobre importância de eleições no País

Teiji Hayashi, embaixador do Japão no Brasil (Reprodução/Internet)
Com informações do Infoglobo

JAPÃO – Hayashi Teiji estava, na semana passada, em Tocantins, onde foi conversar com o agronegócio. O objetivo do embaixador do Japão, no Brasil, em Brasília, desde dezembro, é garantir o fornecimento de alimentos ao seu País. Porém, essa não é a única preocupação dele, que vê o Brasil como um exemplo para a região.

Em entrevista ao GLOBO, Teiji sugeriu o envio de novos observadores eleitorais ao País, repetindo 2018. O diplomata ainda disse que o Brasil é imprescindível como fornecedor de produtos agrícolas e pecuários para seu País, em um momento de insegurança alimentar causado pela guerra na Ucrânia.

Entendo que o Brasil, depois da redemocratização, tem sua democracia muito firmemente estabelecida. O sistema eleitoral do País é decidido pelo povo brasileiro e, eu, pessoalmente, penso que, em geral, uma eleição livre e altamente transparente é uma das bases importantes desse sistema.

PUBLICIDADE

Sendo assim, na última eleição presidencial, o governo japonês enviou, através da OEA (Organização dos Estados Americanos), um diplomata observador, cujo objetivo era apoiar os esforços para estabelecer a democracia no Brasil e na América Latina. Também, neste sentido, se houver uma possível cooperação do Japão, na próxima eleição, estaremos dispostos a analisar a possibilidade.

O Brasil fez algum convite ao Japão nesse sentido?

Damos muita importância à democracia mais estável e sólida no Brasil. Mas convidar observadores internacionais é uma decisão do povo brasileiro ou do governo brasileiro. Há quatro anos, mandamos um observador para as eleições como contribuição do governo japonês. Desta vez não recebemos nenhum convite, mas se o povo brasileiro quiser, estamos dispostos a considerar seriamente.

O senhor tem tido contato com as campanhas?

Como é uma embaixada, obviamente, temos contatos com vários políticos, não só candidatos, mas também senadores, deputados, ministros.

O senhor tem conversado com outros embaixadores sobre o cenário político no Brasil? Eles acham que a democracia está firme? É possível que, no dia da eleição, troquem informações e reconheçam o resultado rapidamente?

Francamente falando, alguns embaixadores estão um pouco preocupados em ter uma situação complicada após abrirem as urnas. Essa mesma coisa aconteceu em outros países, como nos EUA, há dois anos. Uma eleição livre e transparente é importante não só para o povo brasileiro, mas para a democracia da América do Sul e de outros países. O Brasil é sempre é um exemplo.

O Brasil, sob Bolsonaro, não tem sido chamado para as reuniões do G7. Como o senhor vê isso?

A presidência do G7 (grupo dos países mais industrializados do mundo, incluindo o Japão, atualmente, presidido pela Alemanha) é que decide qual País é convidado como observador, conforme a sua agenda e outros fatores. Em âmbito internacional, o Brasil é um parceiro importante. Por exemplo, aprecio muito que tenha sido o Brasil o único País do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) a votar a favor da resolução, condenando a invasão da Rússia à Ucrânia no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral da ONU. Em 2023, Brasil e Japão vão ocupar assentos não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Queremos aproveitar, intensamente, essa oportunidade, dando continuidade à parceria em diversas áreas.

Como Japão vê o debate ambiental? O Japão pode contribuir com recursos para a redução do desmatamento da Amazônia?

O Japão tem apoiado o Brasil nesse sentido, cooperando em vários projetos da área ambiental. Atualmente, estamos apoiando o Brasil na construção do sistema de detecção e predição de atividades ilegais de desmatamento na Amazônia, no qual se utilizam satélites de radar e tecnologia de IA (Inteligência Artificial).

Ademais, o Japão é o segundo maior doador para GCF (Fundo Verde para o Clima, em português). Além disso, as empresas japonesas estão animadas com a expectativa de negócios de descarbonização, que incluem a preservação da Amazônia.

O Japão está preocupado com a segurança alimentar? Que caminhos podem ser seguidos para evitar risco de desabastecimento?

O Japão importa uma variedade de produtos, como insumos agropecuários e fertilizantes, de vários países do mundo. Por isso, visando garantir o fornecimento de alimentos, sempre está observando situações que possam influenciar na sua segurança alimentar.

Por enquanto, estamos conseguindo evitar o risco de desabastecimento. Mas, para isso, é imprescindível continuar cooperando com os países fornecedores, incluindo o Brasil. Por exemplo, entre os alimentos que o Japão importou, em 2021, 68% do frango e 14% da soja e do milho foram produzidos no Brasil.

Há negociação com o Brasil para aumentar as compras de produtos agrícolas?

O Brasil é um fornecedor de produtos agropecuários atrativos para o Japão. Em relação a alguns produtos, inclusive, as frutas, as autoridades dos dois países já estão analisando a possibilidade da liberação de importações pelo Japão. Por outro lado, dizem que, no Brasil, a venda de saquê japonês está aumentando anualmente.

Mas ainda há vários produtos atrativos no Japão que o povo brasileiro não conhece. Por exemplo, conhece o shōchū? É uma bebida alcoólica tradicional japonesa, destilada, feita de arroz, batata ou trigo. Ou já provaram carne wagyu de shimofuri? Quero introduzir produtos do Japão para os brasileiros e ativar ainda mais o comércio em ambos os lados.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.