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Cartunistas comentam os 40 anos do ‘Curumim’, personagem icônico dos quadrinhos da Amazônia
Após quarenta anos de criação, o Curumim segue como o mais conhecido personagem das histórias em quadrinhos da Amazônia (Reprodução)
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06 de janeiro de 2023
Mencius Melo – Da Revista Cenarium
MANAUS – Curumim, O Último Herói da Amazônia, completa 40 anos em 2023. O personagem foi criado em 1983. A idade avançada não é motivo para que a figura mais conhecida dos quadrinhos amazonenses e uma das mais festejadas criações das HQ’s amazônicas perdesse o vigor juvenil. Artistas dos quadrinhos e cartunistas comentaram sobre as quatro décadas de existência do “filho mais velho” do jornalista Mário Adolfo.
O quadrinista Marlon Brandão, autor da HQ “Titãs da Amazônia” e do mangá “Koutakusseis – A Saga na Vila Amazônia”, relembrou como conheceu o personagem. “Na minha infância, em Parintins, conheci o personagem adquirindo, nas antigas bancas próximas ao mercado municipal Mundico Barbosa, quando nas ocasiões de sua chegada à ilha. Eu os comprava assim que eu via algum exemplar ou via nas tiras de jornais que vinham de Manaus, à época”, disse.
Marlon comenta a dimensão alcançada pela personagem no universo dos quadrinhos. “Na era de ouro dos quadrinhos brasileiros, o Curumim chegou ao auge dos mais conhecidos personagens indígenas do mundo infantojuvenil brasileiro. Tamanha foi sua fama por protagonizar uma criança indígena na Amazônia. O Curumim foi além das nossas fronteiras“, avaliou.
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Referências e história
O cartunista Regi Cartoon conta que o Curumim fez parte de seu crescimento profissional e foi uma das suas influências na construção e descoberta de seus próprios traços como artistas dos desenhos. “O Curumim foi muito importante porque quando eu estava começando, passei a buscar referências de quadrinhos, charges e caricaturas. Era a pesquisa para que eu me tornasse um profissional de verdade, e nisso o Curumim contribuiu bastante”, relembrou.
Criado pelo jornalista Mário Adolfo, em 1983, o jornalista relembra a história. “Quando fazia faculdade de jornalismo, na Ufam, respondia algumas questões das provas com charges. O professor Ribamar Bessa, da coluna ‘Taquiprati’, me convidou para colaborar com o jornal Porantim, em defesa da causa indígena. Era só charge batendo na Funai e denunciando o genocídio das nações indígenas”, contou.
Os exercícios nas aulas do professor Ribamar surtiram efeito: “Quando comecei a estagiar no ‘A Crítica’, em 1976, aos 19 anos, colaborava com o ‘A Crítica Infantil’, desenhando a capa que era editada pela Cristina Calderaro. Até que um dia, seu Umberto Calderaro chegou e me desafiou: — Segura um jornal infantil sozinho? Semanal? Seguro, ora se seguro, respondi, corajosamente, sem ao menos saber o que era editar”, recordou com humor.
Personagem próprio
Mário Adolfo fez uma surpresa ao dono do jornal. “Ele (Calderaro) pensava que eu apresentaria um projeto à base de quadrinhos enlatados, como Hanna Barbera, Disney, Mauricio de Sousa. E eu apareci com a ‘boneca’ de um jornalzinho tabloide, todo regional, e com um personagem próprio. O indiozinho Curumim, o Último Herói da Amazônia. E mais! Com uma proposta de defesa da causa indígena, quando ecologia ainda não era moda“, rememorou.
Ao longo de 40 anos, o Curumim virou ícone e ganhou reconhecimento. Foi tombado como Patrimônio Cultural do Estado do Amazonas pela Assembleia Legislativa, apresentado na Academia Real de Ciência Sueca, em Estocolmo, durante palestra do governador Amazonino Mendes. “Ele contou a história da ópera, na Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, nos anos 2000, e está virando um musical com obras assinadas por mim e pelo meu parceiro Zeca Torres“, salientou Adolfo.
Após quatro décadas, Mário Adolfo é grato ao pequeno indígena: “Ele é o segredo da minha juventude. Nunca deixei morrer a criança que existe em mim e também nunca deixei o velho entrar. Quando desenho tirinhas do Curumim me sinto o próprio, andando entre árvores, conversando com bichos e pulando de cabeça nas águas dos rios e igarapés. Ganhei dois Essos, CNT, Caixa Econômica/revista Imprensa, Massey Ferguson, mas certa vez, um jornalista amigo meu, lá em 1983, disse que minha obra maior seria o Curumim. Parece que ele estava certo”, finalizou.
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