Casais homoafetivos proibidos de casarem na China celebram união por Zoom em cartório de Utah

Casais do mesmo sexo aguardam para se casar em Salt Lake City, Utah (Jim Urquhart/Reuters)

THE WASHINGTON POST – Hongjian Duan e Zhenyu Yang queriam se casar havia mais de dois anos, desde que começaram a namorar, na Província de Chongqing, na China, onde vivem. “Ficamos completamente obcecados um pelo outro desde que nos conhecemos”, afirmou Duan, de 29 anos. “Mas não existe a possibilidade de (pessoas LGBTQIAP+) se casar na China”.

Casamentos entre pessoas do mesmo sexo são ilegais na China, mas Duan afirmou que ele e Yang, de 23 anos, se surpreenderam ao saber que um oficiante do Condado de Utah, um dos mais conservadores dos Estados Unidos, poderia casá-los via Zoom.

Apesar de sua união não ser reconhecida legalmente na China, o casamento realizado pelo Escritório de Licenças Matrimoniais do Condado de Utah, em Provo, forneceria um reconhecimento formal de seu amor, afirmou Duan.

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Então, em 10 de outubro, eles vestiram suas camisas favoritas e se casaram à meia-noite, em seu apartamento, atrás de uma luminária feita nas letras da expressão “I do” (Eu aceito), enquanto seus pais agiram como testemunhas na videochamada.

Ilustração de um casal homoafetivo (Reprodução/Freepik)

“Desde que nos encontramos, não ficamos mais que um centímetro longe um do outro”, afirmou Yang, em língua chinesa, por meio de um intérprete. “Sabíamos que era impossível nos separar”.

Duan respondeu em inglês: “Amarei você até o fim dos tempos. Estarei aqui, não importa o que acontecer. Fique comigo — transforme todos os nossos sonhos em realidade. Diga-me que você será só meu”.

Depois que Duan e Yang trocaram alianças e beijos com alegria, eles foram declarados casados por Ben Frei, oficiante do Condado de Utah que já realizou dúzias de casamentos de pessoas LGBTQIAP+ chinesas.

Crenças pessoais

Desde o primeiro semestre de 2020, o escritório matrimonial do Condado de Utah casou pela internet milhares de casais estrangeiros, 585 deles chineses, afirmou Russ Rampton, oficiante de serviços de licenças matrimoniais digitais do condado. Cerca de 150 desses casamentos entre chineses foram de pessoas do mesmo sexo, como Duan e Yang, afirmou ele.

Desde o primeiro semestre de 2020, o escritório matrimonial do Condado de Utah casou pela internet milhares de casais estrangeiros (Reprodução/Freepik)

O Condado de Utah é densamente povoado por membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que se opõe ao casamento gay. Mas crenças pessoais não devem atrapalhar a lei, afirmou Rampton.

“Se você acredita em liberdade individual, o casamento entre pessoas do mesmo gênero é uma consequência natural disso”, afirmou ele. “O amor transcende nações, culturas e línguas. O casamento entre pessoas do mesmo sexo é legal nos EUA, portanto, seguimos a lei”.

O Condado de Utah já havia decidido fazer casamentos por meio do Zoom antes da pandemia de Covid-19 irromper, afirmou ele, notando que o escritório de licença matrimonial funcionava a todo vapor antes que a sociedade fechasse por semanas nos EUA. “Inicialmente, havíamos estabelecido o serviço para residentes do Condado de Utah, para que não tivessem de vir ao nosso escritório para casar”, afirmou Rampton. “Então, durante a pandemia, até Las Vegas fechou”.

Habitantes de todo o Oeste americano começaram a viajar para Provo, afirmou ele, porque o Condado de Utah manteve seu escritório matrimonial aberto para casamentos presenciais. “Também oferecíamos casamentos pelo Zoom, então, quando as restrições a viagens passaram a vigorar, as pessoas das outras regiões começaram a nos procurar”, acrescentou ele.

Casais LGBTQIAP+ de países como Rússia, Filipinas e China, que não reconhecem casamentos entre pessoas do mesmo sexo, logo descobriram que poderiam se casar, legalmente, por meio do serviço do Condado de Utah, no Zoom, afirmou Rampton.

Casais LGBTQIAP+ de países como Rússia, Filipinas e China não reconhecem casamentos entre pessoas do mesmo sexo (Reprodução/Freepik)

Qualquer pessoa se qualifica para casar desde que apresente documento comprovando sua maioridade, preencha on-line todos os formulários requeridos e pague uma taxa de US$ 35, afirmou ele.

O condado também permite que outros oficiantes matrimoniais licenciados de Utah realizem casamentos por Zoom. O apresentador de rádio Michael Foley, de St. George, Utah, afirmou que casou cerca de uma dúzia de casais LGBTQIAP+ chineses e expediu suas licenças matrimoniais por meio do Condado de Utah.

“Seus casamentos não são reconhecidos na China, mas são reconhecidos aqui”, afirmou Foley, notando que, normalmente, veste calça de pijama quando realiza casamentos via Zoom às 3h, em Utah, em fins de semana.

“Adoro isso, é como o filme de Natal do Hallmark Channel, toda vez”, afirmou ele. “É uma coisa maravilhosa abrir meu laptop e olhar nos olhos de pessoas, claramente, apaixonadas e comprometidas uma com a outra”.

Para Duan e Yang, que trabalham como assistentes de escritório em Chongqing, deparar-se com um anúncio on-line informando que eles poderiam se casar, remotamente, com a ajuda de um oficiante de Utah, mudou suas vidas, afirmaram eles.

“Pedi a mão de Zhenyu, e soubemos que casar seria, extremamente, fantástico para nós”, afirmou Duan. “É uma experiência totalmente nova, que nunca tivemos, então, estamos realmente muito animados”.

Tempos mudam

Precisamente à meia-noite na China, Frei iniciou o procedimento matrimonial no escritório do Condado de Utah, a mais de 11 mil quilômetros do casal. “Vocês estão escolhendo um ao outro porque se amam”, disse o frei a Duan e Yang. “Vocês se completam e se complementam, e estou certo de que farão coisas maravilhosas juntos, por causa de suas experiências e do amor em seus corações”.

Quando o frei perguntou a Duan e Yang se eles queriam ser chamados de esposos, parceiros ou maridos, durante a cerimônia, Duan respondeu prontamente: “Eu quero ser a mulher, e Zhenyu será o marido”, afirmou ele. Frei não se opôs.

“Ok, vamos em frente”, afirmou ele. “Quero que vocês coloquem as alianças nos dedos mindinhos, para que possam colocá-las no dedo do outro depois”.

Frei passou as recomendações de costume, para que o casal “permaneça unido em tempos de doença e saúde, riqueza e pobreza, obesidade e magreza, ‘Covid-22′ e guerras, insurreições e desastres naturais, alegrias e tristezas, celebrações e triunfos; nas suas famílias, entre seus amigos e vizinhos — até que morte os separe”.

“Sim, meritíssimo, aceitamos”, responderam ambos.

Depois que o casal se beijou e se abraçou, Duan expressou a esperança de que sua união seja algum dia reconhecida em seu País. “Tempos mudam, e pessoas mudam também”, afirmou ele. “A era antiga acabou, e a nova era torna-se cada vez mais acolhedora e compreensiva”.

“Amor é amor”, disse Duan.

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