Caso Grande Vitória: ‘Testemunhas mentiram’, diz advogado de PM acusado

Tribunal do Júri deve ir até a quinta-feira (Divulgação/ TJAM)
Jessika Caldas – da Revista Cenarium

Manaus (AM) – Esta semana, foi retomado o julgamento dos sete policiais militares acusados de matar três jovens no bairro Grande Vitória, zona Leste de Manaus. Os jovens desapareceram em 2016, após abordagem policial naquele bairro. As audiências acontecem no Fórum de Justiça Ministro Henoch Reis, no bairro São Francisco, zona sul de Manaus.

A sessão foi presidida pelo juiz Eliezer Fernandes Júnior e os acusados são os policiais militares que estavam a época na 4ª Companhia Interativa Comunitária (Cicom), José Fabiano Alves da Silva, Edson Ribeiro da Costa, Ronaldo Cortez da Costa, Eldeson Alves de Moura, Cleydson Enéas Dantas, Denilson de Lima Corrêa e Isaac Loureiro da Silva e Luiz da Silva Ramos (este último teve extinta a punibilidade em razão de sua morte no ano passado). Consultado pela CENARIUM, o juiz Eliezer afirmou que o julgamento tem previsão de quatro dias de duração – de segunda a quinta-feira 4.

O primeiro dia de julgamento iniciou às 09h40 com a chamada dos jurados para compor o júri e as considerações iniciais de acusação e durou até as 23h, quando foi suspensa para ser retomada durante esta terça-feira 2,3. Neste primeiro dia de julgamento foram ouvidas 11 testemunhas apontadas pelo Ministério Público do Amazonas (MP-AM). 

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Entre acusação e defesa dos réus, 21 testemunhas deverão ser ouvidas ao longo dos quatro dias em Plenário, incluindo os peritos que atuaram no caso. Algumas das testemunhas participam por videoconferência. No total, sete advogados estão atuando na defesa dos réus e dois promotores, José Augusto Palheta Taveira Júnior e Lilian Nara Pinheiro de Almeida, atuaram na acusação, pelo Ministério Público.

O advogado de defesa de um dos réus, Diego Gonçalves, refletiu sobre o primeiro dia de julgamento, e afirmou que muitas testemunhas do caso mentiram sobre os fatos e segundo avaliação do magistrado o primeiro dia de julgamento tem sido difícil.

‘Avalio este julgamento como um verdadeiro desastre para a acusação. Várias testemunhas de acusação mentiram e se contradisseram, sendo que várias têm envolvimento comprovado com o tráfico de drogas, homicídio e inclusive teve uma que deu esclarecimentos presa no Pará. Agora os peritos estão mostrando as várias deficiências que existem por falta de investimento por parte do Estado. Os peritos até tentam fazer um bom trabalho, mas possuem limitações por falta de investimentos. Até agora nada foi apresentada contra meu cliente José Fabiano’, explicou

O processo foi pautado para ser julgado em 6 de novembro de 2023, mas o júri foi adiado a pedido do Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE/AM) e da defesa de um dos réus. O júri voltou à pauta em 29 de janeiro deste ano, mas foi adiado novamente, para a segunda-feira, 1º de abril, a pedido do Ministério Público.

Alex Júlio Roque de Melo, 25, Rita de Cássia, 19 e Everton Marinho, 20, foram mortos em 2016 . Reprodução/Redes Sociais

Uma fonte ligada a família afirmou à CENARIUM, que os advogados de defesa dos réus estavam tentando descredibilizar o trabalho realizado pela perícia do Ministério Público do Amazonas

‘A gente pode avaliar que esse primeiro dia de julgamento como sendo, um dia muito longo e cansativo. Nós percebemos que a defesa dos acusados, dos sete policiais que são acusados de ter feito desaparecimento forçado das três vítimas e do feminicídio de estado, estavam completamente desestabilizados, tentaram a todo custo adiar mais uma vez o julgamento e foram contra laudos policiais. O saldo positivo de hoje, é que algumas testemunhas de acusação puderam ser ouvidas e durante a semana iremos ver o que vai acontecer’, concluiu

Trâmites Legais

A Ação Penal começou a tramitar no Tribunal de Justiça do Amazonas em 7 de novembro de 2016 e, em 7 de fevereiro de 2017, após a conclusão da fase de Inquérito Policial, o Ministério Público ofereceu a denúncia. Em 24 de setembro de 2019, após a etapa de instrução, o Juízo da 3.ª Vara do Tribunal do Júri publicou a sentença de pronúncia determinando que todos os réus fossem a julgamento popular, seguindo os termos da denúncia apresentada pelo MPE/AM.

Relembre o caso

As vítimas identificadas como Alex Júlio Roque de Melo, 25, Rita de Cássia, 19 e Everton Marinho, 20, desapareceram no sábado, dia 29,10,2016 após serem abordados pelos policiais militares, enquanto voltavam de um pagode no bairro Armando Mendes.

À época do crime, o delegado que estava como titular da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), Ivo Martins, afirmou que um dos jovens, identificado como Alex Júlio, tinha passagem na polícia por roubo e homicídio.

Um vídeo registrado por uma câmera de segurança flagrou a ação dos policiais. No momento em que eles mandam o trio entrar no carro da PM. Desde então eles nunca mais foram vistos.

Durante investigações da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), os agentes encontraram evidências que comprovaram que os militares se comunicaram e andaram com as vítimas para outros bairros da cidade.

Conforme o órgão, um estojo de munição teria sido encontrado em um campo de futebol próximo ao ramal do Quixito, no bairro Distrito Industrial II, e teria sido deflagrado da arma de fogo que estava sendo utilizada pelo ex -tenente Luiz Ramos, que faleceu em janeiro deste ano. Outra prova encontrada nas imediações foi o par de sandálias que estavam encobertas de sangue em uma área de mata do bairro Distrito II, que pertenciam à vítima Alex.

Leia também: Caso Água Branca: Justiça vai ouvir réus e testemunhas de chacina no AM
Edição: Hector Muniz
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