Cidades na Amazônia têm contaminação da água por agrotóxicos acima do permitido

Análise de água; empresas de abastecimento de água são as responsáveis por realizar os testes e publicar os resultados no Sisagua. (Reprodução/Internet)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS – As cidades de Marcelândia e Matupá, ambas no Mato Grosso, assim como Augustinópolis e Paranã, no Tocantins, apresentaram níveis de contaminação da água por agrotóxicos acima do recomendado em 2022, de acordo com um levantamento do Repórter Brasil com dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde.

Os dados foram extraídos em 8 de agosto deste ano, e os resultados podem ser atualizados diariamente pelos Estados e municípios. Além dos quatro municípios mencionados, outros 24 também excederam os valores permitidos pelo Ministério da Saúde (veja a lista abaixo). O total representa 0,02% de todos os exames válidos realizados.

Foram realizados 306.521 testes consistentes em 2.445 cidades no ano passado. Ainda há o risco de que os números estejam subnotificados, porque a maior parte dos testes realizados no País para essas substâncias apresentava erros e foi classificada como inconsistente. As empresas de abastecimento de água são as responsáveis por realizar os testes e publicar os resultados no Sisagua.

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Agrotóxicos

Segundo o levantamento, o agrotóxico com mais testes acima do limite foi o Endrin, com dez registros em municípios de Goiás, Minas Gerais, Tocantins e São Paulo. Logo depois está o Aldrin, considerado um Poluente Orgânico Persistente, pois não se degrada facilmente e se acumula nos tecidos dos organismos vivos. Ambas as substâncias são proibidas no Brasil.

Outro agrotóxico detectado em concentração acima do que é considerado seguro para a saúde foi a Atrazina. Ela é encontrada em municípios de Goiás, Mato Grosso e São Paulo. Um dos municípios onde a atrazina foi encontrada acima do limite foi Marcelândia.

Ainda de acordo com os dados publicados no Sisagua, a cidade com mais registros de água contaminada no ano passado foi Aruanã, em Goiás. São 17 testes ao todo, incluindo para Endrin e Aldrin.

As empresas de abastecimento de água são responsáveis por realizar os testes e publicar os resultados no Sisagua. Cabe aos municípios, Estados e ao próprio ministério fiscalizar os casos e cobrar das empresas medidas para impedir que as substâncias ultrapassem os limites fixados.

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Danos à saúde

O Mato Grosso é o maior produtor do agronegócio no País, e o alto número de uso de agrotóxicos no Estado tem relação com o aumento da incidência de câncer, aponta o estudo “Ambiente, saúde e agrotóxicos: desafios e perspectivas na defesa da saúde humana, ambiental e do(a) trabalhador(a)”, realizado pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).

A pesquisa estabeleceu uma relação entre a doença e o uso de agrotóxicos pelo agronegócio em vários municípios do Mato Grosso. Os pesquisadores ressaltaram que a maioria dos municípios mato-grossenses é produtora de commodities agrícolas para exportação e concentra um grande contingente de pessoas envolvidas na agricultura e pecuária.

Já o estudo “Câncer infantojuvenil: nas regiões mais produtoras e que mais usam agrotóxicos, maior é a morbidade e mortalidade no Mato Grosso” indicou que ao longo dos oito anos, Mato Grosso registrou mais de 10,9 mil internações por câncer infantojuvenil, sendo que 30% são crianças de 0 a 4 anos. Além disso, 406 pessoas de 0 a 19 anos morreram por câncer, dos quais 30,7% foram adolescentes e jovens de 15 a 19 anos. As leucemias foram os tipos de câncer mais presentes entre os pacientes internados, correspondendo a 50,2% dos casos. 

Edição: Eduardo Figueiredo

Revisão: Gustavo Gilona

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