‘Colecionador de polêmicas’, Sérgio Camargo é exonerado da presidência da Fundação Palmares

Sérgio Camargo ocupava o cargo desde 2019, onde colecionou polêmicas (Sérgio Lima/Poder360 06.05.2020)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS — Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, onde colecionou polêmicas, foi exonerado do cargo pelo Governo de Jair Bolsonaro, que ainda não nomeou substituto à pasta. O ato foi publicado nesta quinta-feira, 31, no Diário Oficial da União (DOU) e assinado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. Ao lado dele, Alexandre Ramagem e Mário Frias deixam, respectivamente, os cargos de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo.

À frete da fundação, Camargo colecionou polêmicas. Em junho do ano passado, ele chamou de “viciado” o neurocientista americano Carl Hart, 54, renomado especialista que relaciona a dependência química a fenômenos sociais e que, em reportagem publicada pela Folha, defendeu que usar drogas é parte do processo individual no direito pela busca pela felicidade.

“Alguma dúvida de que o negro que a Folha escalou para defender a liberação das drogas é um viciado, não um neurocientista? Não tenho dúvida alguma!”, disse Camargo, à época. “Parem de usar negros para defender o que não presta! É um insulto aos negros e acirra o preconceito racial”, declarou o ex-presidente da Fundação Palmares em 2021.

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No mês de outubro do ano passado, a Justiça determinou que Camargo fosse afastado das atividades relacionadas à gestão de pessoas da instituição, o que fez ele ficar proibido de nomear e exonerar servidores.​ A decisão foi do juiz Gustavo Carvalho Chehab, da 21ª Vara do Trabalho de Brasília, em ação do Ministério Público do Trabalho (MPT) que pediu o afastamento do ex-titular da fundação por denúncias de assédio moral, perseguição ideológica e discriminação contra funcionários da instituição.

Na metade de fevereiro deste ano, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu tirar da Justiça do Trabalho e enviar para a Justiça Federal uma ação civil pública contra Camargo. Mendes, no entanto, manteve a medida cautelar que afastou Sergio da função de gestor de recursos humanos da fundação.

Moïse Kabagambe

Em fevereiro deste ano, Sérgio Camargo atacou o congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, assassinado em um quiosque no Rio de Janeiro, dizendo que não houve racismo no caso. Em publicação nas redes sociais, Camargo afirmou que o homem “andava e negociava com pessoas que não prestam” e que “foi um vagabundo morto por vagabundos mais fortes”.

Veja também: Presidente da Fundação Palmares ataca congolês assassinado no Rio de Janeiro: ‘vagabundo’

“Moïse andava e negociava com pessoas que não prestam. Em tese, foi um vagabundo morto por vagabundos mais fortes. A cor da pele nada teve a ver com o brutal assassinato. Foram determinantes o modo de vida indigno e o contexto de selvageria no qual vivia e transitava”, escreveu o presidente da Palmares no Twitter.

Veja também: ‘Moïse não era um vagabundo’; líderes do movimento negro criticam fala de Sérgio Camargo sobre congolês

Segundo a família, o congolês foi morto após cobrar uma dívida de R$ 200 referente a diárias de trabalho, no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da capital fluminense. Um vídeo compartilhado nas redes sociais, no momento do assassinato, mostra três suspeitos espancando Moïse. À polícia, os suspeitos negaram que a execução tivesse motivação racista e disseram que as agressões começaram após Moïse abrir uma geladeira do estabelecimento para pegar cervejas.

As falas do então presidente da Fundação Palmares causaram revolta. “Inacreditável”, “vergonhosa”, “grotesca”, “inaceitável” foi como definiram líderes do movimento negro, políticos e o presidente da Comunidade Congolesa no Brasil, Fernando Mupapa, em críticas a Sérgio Camargo. Para o jurista militante da causa racial e presidente do Instituto Nacional Afro Origem (Inaô), Christian Rocha, Moïse foi vítima do racismo estrutural que existe no Brasil.

“Se para um brasileiro o mercado de trabalho é difícil, você imagina para um africano nato. O Moïse não era um vagabundo, ele só é o resultado de todo esse processo do racismo estrutural que existe em nosso País. Quer um exemplo? Depois que aconteceu isso [o assassinato dele], rapidinho a família dele ganhou um quiosque”, destacou Christian Rocha em entrevista à REVISTA CENARIUM no mês passado.

Nomes

Nas redes sociais, o agora ex-titular da pasta comunicou que vai disputar uma vaga na Câmara Federal pelo Estado de São Paulo. Camargo é filiado ao PL, partido de Bolsonaro. “Depois de libertar a Palmares, quero ajudar o presidente Bolsonaro a mudar o Brasil. Se eleito, defenderei uma pauta antivitimista, de negro de direita. Chega de ‘mimimi'”, escreveu Sérgio Camargo no Twitter.

A vaga para a Abin também não foi informada. Para a secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo, o governo federal nomeou Hélio Ferraz de Oliveira, até então secretário nacional do audiovisual e número dois da pasta.

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