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Colômbia deixa aliança antiaborto e amplia isolamento de Bolsonaro na América Latina
Colombianas comemoram decisão da Corte Constitucional que descriminalizou o aborto até a 24ª semana no país - (Luisa González - 21.fev.22/Reuters)
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25 de agosto de 2022
Com informações Folha de S.Paulo
MANAUS – O governo do recém-empossado presidente Gustavo Petro na Colômbia anunciou na noite de segunda-feira, 22, que se retirou da chamada Declaração do Consenso de Genebra. O texto é uma espécie de libelo multilateral contra o aborto e em defesa da família baseada em casais heterossexuais.
O Brasil, no governo de Jair Bolsonaro (PL), aderiu ao documento em outubro de 2020, numa cerimônia na qual se fez representar pelos então ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), expoentes da propalada ala ideológica da gestão.
Os Estados Unidos, à época com Donald Trump na Presidência, copatrocinaram a declaração, ratificada por governos ultraconservadores a exemplo de Egito, Hungria, Indonésia e Uganda. A Colômbia aderiu a ela mais recentemente, em maio deste ano, ainda sob o direitista Iván Duque, aliado de Bolsonaro.
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A decisão do primeiro esquerdista no poder na Colômbia foi anunciada justamente em uma carta da chancelaria de Bogotá para o Itamaraty, recheada com recados não necessariamente sutis.
O texto afirma que o governo local “reconhece, respeita e protege os direitos das meninas e mulheres” e lista que a Constituição e a jurisprudência da Suprema Corte veem “o direito ao aborto legal e seguro como parte integral dos direitos sexuais e reprodutivos e da saúde da mulher”.
Em fevereiro, a Corte Constitucional descriminalizou a interrupção voluntária da gravidez até a 24ª semana de gestação —o que, de certa forma, tornou a adesão colombiana ao pacto, posterior à fixação dessa decisão, uma contradição.
“A Colômbia continuará comprometida com a promoção e a atenção às necessidades de saúde da mulher”, diz a nota do Ministério das Relações Exteriores de Petro. Em outros recados, o texto ainda destaca que “em diferentes sistemas culturais, sociais e políticos, existem diferentes formas de família, para as quais a promoção de políticas que fortaleçam seu papel na sociedade é de extrema importância”.
O comunicado, por fim, alerta que casos de violência contra as mulheres têm efeito pronunciado na saúde feminina.
A Declaração do Consenso de Genebra ainda tem 36 signatários, que, na América Latina, incluem Paraguai e Guatemala —além de países como Omã, Paquistão, Polônia e Líbia. A saída da Colômbia da declaração amplia, portanto, o isolamento a que Bolsonaro tem sido exposto na região. Os EUA, quando da posse de Joe Biden, já tinham deixado de referendar o texto e representar sua liderança.
O Itamaraty não se pronunciou sobre o comunicado colombiano.
O documento ressalta que “as mulheres desempenham um papel fundamental na família” e se compromete a “permitir que as mulheres passem com segurança a gravidez e o parto”.
Também enfatiza que “em nenhum caso o aborto deve ser promovido como método de planejamento familiar” e que “quaisquer medidas ou mudanças relacionadas ao aborto dentro do sistema de saúde só podem ser determinadas em nível nacional ou local de acordo com o processo legislativo nacional”.
O acordo não possui força de tratado nem é vinculante, ou seja, países não ficam obrigados a seguir as orientações. Defensores de direitos humanos e das mulheres críticos aos termos, porém, sempre o viram como mais um passo para tentar quebrar consensos internacionais já existentes sobre o tema.
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