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Crescimento de igrejas reforça necessidade de contrapartida social, apontam analistas
Igreja evangélica (Reprodução/Universal)
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12 de fevereiro de 2024
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium
MANAUS (AM) – O grande número de templos religiosos na Região Norte, em comparação com a quantidade de escolas e unidades de saúde, acendeu o alerta sobre de que forma essas organizações podem contribuir de maneira mais positiva na sociedade, para além da questão religiosa. Segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas nesta região foram identificados 79.650 templos, 29.494 escolas e 10.861 unidades de saúde.
O teólogo, historiador e cientista da Religião, professor doutor Daniel Lima, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), analisa que é surpreendente que a maior incidência de templos religiosos seja na Região Norte e considera que muitos não têm nenhuma relevância social, pois são construídos visando apenas o poder capital.
“Arrisco-me a afirmar que a grande maioria dessas igrejas não possui qualquer relevância no tecido social de nossa cidade e Estado. Existe um número expressivo de pessoas e lideranças sem preparo e sem a vocação devida que entram nisso apenas pelo dinheiro, pelo poder do capital, pelo mercado da fé e, lamentavelmente, pela ignorância da grande maioria de fiéis que não sabem discernir o falso pastor do verdadeiro”, explica.
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Por outro lado, Daniel Lima enfatiza que há igrejas com um trabalho social muito forte. Estas, segundo ele, conseguem equilibrar o social, o econômico e o cultural, focando no bem comum e não apenas para os seus membros.
“Não se pode negar que a contrapartida já tem sido dada nas últimas décadas por parte de algumas igrejas (uma minoria) que possuem a compreensão de que o discurso religioso transcendente deve tocar coisas imanentes, isto, o mundo concreto, o discurso que encarna neste mundo sob variadas dimensões“, afirma.
O sociólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Marcelo Seráfico, analisa que uma contribuição considerável dos templos religiosos, principalmente igrejas, para a sociedade poderia ser uma distância relativa dos processos políticos eleitorais. Ele cita a doutrinação que costuma ocorrer quando essas duas áreas se relacionam.
“A maior contrapartida que as igrejas poderiam dar para a sociedade brasileira não tem a ver propriamente com a educação. Quando desejam isso, elas fundam suas escolas confessionais e privadas e seguem adiante. No caso brasileiro, acredito que seria uma grande contribuição não utilizar e abusar do poder religioso, do qual desfrutam principalmente as lideranças. Essas lideranças deveriam ou poderiam liderar debates importantes, e não doutrinar as pessoas. Porque essa doutrinação, como temos acompanhado no país, se opõe à democratização”, explica.
Para o Censo, estabelecimentos religiosos podem ser igrejas, templos, sinagogas ou terreiros, por exemplo. Essa foi a primeira vez que o órgão captou esses dados para os domicílios do País. No ranking dos Estados da Região Norte, o Pará liderou, com 37.758 estabelecimentos religiosos, enquanto que o número de unidades escolares fica em 14.150 e de saúde, 1.927.
Em segundo lugar, apareceu o Amazonas, com 19.134 igrejas, bem como 7.052 escolas, além de 2.738 centros hospitalares. Veja o ranking abaixo:
Para explicar a relação entre igrejas e política, Seráfico cita a construção político-social do País. Ele lembra que tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, as instituições educacionais e a própria organização política do Estado foram estruturadas a partir de movimentos sociais. No Brasil, essa mesma construção teve oposição das igrejas e do Estado.
“No caso do Brasil, os movimentos da sociedade aconteceram. Todavia, a igreja, o Estado, em geral, se opuseram a esses movimentos. Portanto, essas instituições no País, ao invés de ecoarem, na verdade, determinadas expressões populares, desejos, vontades, elas acabam sendo formas de conter esses movimentos dentro de critérios muito estritos, relacionados, muitas vezes, com interesses bastante específicos vinculados a grupos, em geral, ultra-reacionários“, acrescentou.
‘Explosão’ de templos
Além dos templos religiosos, o Censo 2022 identificou diversos outros endereços no Amazonas, incluindo 1.305.348 domicílios particulares, 2.058 domicílios coletivos, 61.722 estabelecimentos agropecuários, 7.052; 194.050 estabelecimentos para outras finalidades, 66.868 edifícios em construção, entre outros.
Os dados do Censo 2022 divulgado na sexta-feira, 2, revelam que, no Brasil, existem 579,7 mil unidades religiosas, em comparação com os 264,4 mil estabelecimentos de ensino e 247,5 mil unidades de saúde.
Porém, em algumas unidades federativas, como São Paulo, Piauí e os três Estados da região Sul, a soma de estabelecimentos de ensino e saúde supera o número de estabelecimentos religiosos, apontando para variações nas prioridades de investimento e recursos entre as regiões do país.
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