Menos escolas e mais igrejas: Região Norte é líder em templos religiosos

Religious cult (Thiago Gomes/Folhapress)
Ricardo Chaves – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – Na Região Norte há mais templos religiosos do que escolas ou hospitais. A informação consta em dados divulgados no Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado na sexta-feira, 2. É a primeira vez que o órgão capta esse dado para os domicílios do País. 

O Pará lidera o ranking na região com 37.758 estabelecimentos religiosos, enquanto que o número de unidades escolares fica em 14.150 e de saúde, 1.927. Se somar a quantidade de instituições escolares e centros de saúde (16.077), é possível identificar que o número de igrejas é 134% maior.

Em segundo lugar, no levantamento do IBGE, aparece o Amazonas, com 19.134 igrejas, bem como 7.052 escolas, além de 2.738 centros hospitalares. O número de templos de prática religiosa chega a ser 95% maior em relação à soma.

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Completam o ranking os Estados de Rondônia (7.670), Tocantins (5.151), Acre (4.600), Amapá (3.187) e Roraima (2.150).

Ranking de estabelecimentos de ensino, saúde e religiosos na Região Norte (Composição Paulo Dutra/Revista Cenarium)
Influência na política

Para o doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia e sociólogo Israel Pinheiro, os números expressam como os grupos influenciados pela religião estão definindo as pautas políticas, na última década, em conjunto com o setor do agronegócio.

“Justamente, são esses grupos que estão definindo as pautas políticas nos últimos 10-15 anos. É um indicativo de que a tendência é que se tenha, cada vez mais, estruturas que garantam que essa política funcione dessa maneira”, diz o pesquisador.

Israel Pinheiro é pesquisador e doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) (Reprodução/Arquivo Pessoal)

O doutor em Sociedade e Cultura refere-se aos últimos anos em que esses setores se movimentaram para viabilizar uma agenda contra direitos individuais, como a questão da diversidade sexual e a identificação de gênero que atacam, também, direitos sociais como a questão ambiental. 

“Não à toa, temos dificuldade para atingir metas de emissão de carbono, de proteção e conservação da Amazônia. Tudo isso tem a ver também com esse conjunto de forças da sociedade que se mobiliza em uma direção. Vamos ter muita dificuldade no futuro com isso”, afirma o sociólogo.

Crescimento ostensivo

A REVISTA CENARIUM mostrou, em janeiro deste ano, o crescimento, principalmente, de grupos pentecostais e neopentecostais e como eles vêm ganhando adeptos em todo o País. Um movimento tem chamado a atenção: o de utilizar em seus cultos referências historicamente ligadas às religiões de matriz africana.  

Uma nota técnica intitulada “Crescimento dos Estabelecimentos Evangélicos no Brasil nas Últimas Décadas”, publicada no fim do ano passado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela um expressivo crescimento desse grupo nos últimos 20 anos.

Entre os 124.529 estabelecimentos existentes no País, em 2021, 52% são evangélicos pentecostais ou neopentecostais, liderando o resultado, seguidos por 19% de evangélicos tradicionais e 11% de católicos. Entre os evangélicos pentecostais, a Assembleia de Deus é a que possui o maior número de estabelecimentos, 14%. 

Leia mais: Entenda como igrejas usam religião de matriz africana para ‘indústria da demonização’
Editado por Adrisa De Góes
Revisado por Adriana Gonzaga
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