Crônicas do Cotidiano: A insanidade da guerra

Noam Chomsky, mais que um linguista, é um pensador atuante do nosso tempo. Norte-americano,
filho de pai de origem judaica, crítico ferrenho da beligerância dos Estados Unidos da América do
Norte (EUA), afirma que, para “atingir os objetivos de sua elite doméstica”, Estados que aspiram a
condição de potência mundial se aparelham para incutir nos cidadãos um “valor marcial”, próprio de
uma sociedade violenta (doente), e usar essa violência mundo afora.

E para promover guerras, afirma ele, com veemência, “é necessário, também, falsificar a história. Essa é outra maneira de superar as tais restrições doentias: passar a impressão de que, quando atacamos e destruímos alguém, na verdade, estamos nos protegendo e nos defendendo de agressores e monstros perigosos, e assim por diante” (Mídia: propaganda política e manipulação. S. Paulo: WMF/Martins Fontes, p. 35-36, 2013).

Ele está se referindo ao nosso mundo contemporâneo, com uma quantidade inumerável de pessoas que, em saber o motivo, estão envolvidas em guerras, mutilando-se ou mutilando os outros e perdendo entes queridos, desde a Segunda Guerra Mundial, passando pela Guerra do Vietnã, e podemos acrescentar, seguindo esse raciocínio, as guerras no século 21, as já findas e as guerras em andamento.

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A propaganda tem a função de emular e estimular os ânimos guerreiros e o ódio pelo outro para que se digladiem sem motivação racional. Somente ao término de tais guerras é que os contendores são capazes de chegar à conclusão de que tudo foi uma estupidez. Os poderosos decidem quando e como farão a guerra, falsificam a história para justificá-la e ganham com seus resultados, sejam eles quais forem.

Enquanto guerreiam, enriquecem a indústria bélica e, “feita a paz”, entregam às empreiteiras mundiais e ao capital financeiro a reconstrução, sem memória, do que vandalizaram. Os americanos custaram a convencer-se de que os milhares de jovens seus, mortos no Vietnã, lutaram contra um povo que não os agrediu, que nada fez para justificar tamanho conflito e as “bandeiras de guerra” – as razões que a desencadearam – nada tinham de verdadeiras.

Quando imagens realistas, sem maquiagem, começaram a chegar às televisões em tempo real, deram-se conta de tanta iniquidade, de tanta covardia, de tanta inutilidade nas mortes de americanos e do massacre imposto pelo poderio bélico dos EUA a um povo tão vulnerável, mas altivo, que apenas se defendia contra uma loucura, o tal delírio de salvar um povo de um “tal comunismo”, que nem existia ainda no País.

Os prejuízos da guerra para os dois lados foram incalculáveis. E, por cima de tudo, o glorioso exército de guerra americano foi derrotado e humilhado. Há pouco, foi a vez da Ucrânia e a guerra infeliz desencadeada pela Rússia, ainda sem solução.

Como podemos nos colocar como um palestino, em meio à multidão de crianças de colo e de todos os tamanhos, mulheres, idosos em geral, deslocando-se em direção ao alvo de um possível aniquilamento coletivo, a mando de seu algoz, com apenas alguns trapos ou poucos pertences, famintos e sem nenhuma arma na mão, prova de que são, apenas, vítimas da destruição de sua pátria, de suas casas, de suas escolas, de seus hospitais, de seus locais de trabalho, reduzidos a escombros? São as imagens que nos chegam a todo momento do Campo de Guerra em Gaza.

Vencidos, sem que tenham tido, pelo menos, o direito de lutar! Tudo é desproporcional aos atos terroristas, também condenáveis, que serviram de motivo para uma guerra que já estava preparada, ou melhor, que nunca parou, apenas, arrefeceu.

A trégua, tão esperada, finalmente anunciada, para troca de prisioneiros, ainda não é pausa para reflexão. Alguns poucos vão comemorar, uma infinidade vai continuar sofrendo e os interessados no conflito continuarão ameaçando, matando.

A Cidade de Gaza, milenar e histórica, tal qual a Cartago, destruída por Romanos e a espanhola Granada, pelos Reis Católicos – reerguida e quase destruída por Franco –, e onde tombou Garcia Lorca, com quem encerro, “está sendo profanada em seu sepulcral encanto”.

(*) Walmir de Albuquerque Barbosa é jornalista profissional, graduado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e professor emérito da Ufam.
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(*)Jornalista Profissional, graduado pela Universidade do Amazonas; Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo; Professor Emérito da Universidade Federal do Amazonas.

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