Descendo o pódio: ex-atleta do handebol feminino amazonense relembra época de ouro

Regina Kanawati despontou como atleta de alto rendimento no handebol amazonense na década de 1970 (Composição de Paulo Dutra/Revista Cenarium)
Jessika Caldas – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – Aos 16 anos de idade, ainda estudante do Ensino Médio na década de 1970, a amazonense Regina Kanawati conheceu e começou a praticar a modalidade esportiva do handebol. Em meio aos estudos e treinos na quadra da Escola Técnica Federal do Amazonas, ela passou a cultivar o sonho de disputar competições nacionais.

Em 1977 e 1978, Kanawati participou dos Jogos Estudantis do Amazonas (Jeas). O desempenho nas competições a fez despontar como atleta de alto rendimento e, nesse período, foi convocada para integrar a Seleção Amazonense Estudantil de Handebol Feminino. Com a equipe, ela representou o Estado em uma série de jogos nacionais, participando dos Jogos Escolares Brasileiro (JEBs).

Atualmente com 62 anos, Kanawati relembra os “tempos de ouro” que viveu no esporte. À REVISTA CENARIUM, ela conta os momentos que passou para subir ao lugar mais alto do pódio no tão sonhado campeonato brasileiro de handebol. Na época, as conquistas foram históricas para o Estado do Amazonas, que se mostrou uma potência na modalidade.

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A ex-atleta profissional de handebol feminino Regina Kanawati exibe medalha de ouro conquistada em 1978 (Evandro Seixas/Revista Cenarium)

“Em 1978, eu compus a equipe do Bancrévea Clube. Depois, fui para o time do Atlético Rio Negro Clube, chamada pelo técnico Walmir Alencar. Nesse período, tive a oportunidade de ser convocada para fazer parte da seleção de handebol adulta, onde se encontravam as melhores jogadoras de handebol do Amazonas. Disputamos o Campeonato Adulto de Handebol e conquistamos o primeiro lugar da competição na cidade de Belo Horizonte”, recorda.

No ano seguinte, em 1979, o time de Kanawati conquistou o segundo lugar nos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs), no Distrito Federal. Em 1980, no Estado de Sergipe, o terceiro lugar veio na Taça Brasil de Clubes Campeões, pelo Atlético Rio Negro Clube. No ano de 1984, também subiu o pódio no terceiro lugar pelos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs), em Goiás.

Amazonas e Rio Grande do Sul em disputa nos Jogos Escolares Brasileiros, em 1979 (Reprodução/YouTube)

“Foram anos dedicados à paixão pelo esporte que renderam inúmeras conquistas e aprendizados e após essa fase, a vida esportiva parecia não ter outra saída. Os esforços e as ambições em busca de estar sempre em alto rendimento eram constantes. Tudo foi intenso. As marcas históricas na minha vida são enormes, pois tive a oportunidade de alcançar o pódio como atleta mais de uma vez. Tudo isso realizado com muita dedicação e esforço”, ressalta.

Mulheres no esporte

A conquista do Campeonato Brasileiro de Handebol foi um momento célebre, que contou com a participação da eterna camisa 9 da seleção do Amazonas, Magaly Barroso. À CENARIUM, ela afirma que esperou iniciar o Ensino Médio, anteriormente chamado de Ginásio, para iniciar os treinos na modalidade esportiva.

“Em 1972, o handebol no Amazonas era fraco em relação a outros Estados. Então, comecei a treinar, alguns times começaram a me chamar. Com a ajuda do técnico Walmir Alencar, conseguimos trazer títulos para o Amazonas. Em 1976, fomos campeões brasileiros e, nesse ano, fui escolhida como melhor atleta da competição. Em 1979, fomos bicampeões, trazendo esse feito para nossa sociedade”, relembra Barros.

A arremessadora de seis metros da Liga Amazonense de Handebol em 1978, Dorivânia do Carmo, afirmou à reportagem que a paixão pelo handebol nasceu de maneira inusitada, em uma época em que o esporte de embate era proibido para mulheres no Brasil, segundo a legislação brasileira.

Da esquerda para direita: Regina Kanawati, Dorivânia do Carmo e Magaly Barroso (Evandro Seixas/Revista Cenarium)

“A nossa geração fez algo inédito. Na época, a mulher não tinha essa visibilidade, essa representatividade toda que tem hoje em dia. A partir do momento em que o Amazonas foi bicampeão, atingimos, ali, o pioneirismo, abrimos espaço para as novas gerações. Essa é a maior representatividade que uma mulher do Norte conseguiu no esporte naquele período”, contou do Carmo.

‘Descendo o Pódio’

Formada em Educação Física, atualmente Regina Kanawati trabalha no Departamento de Políticas e Programas Educacionais do Estado e utiliza o esporte como instrumento de mobilização social. A ex-atleta de alto rendimento também é aluna do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Na academia, ela desenvolve o projeto “Descendo o Pódio: Protagonismo de Mulheres Ex-atletas de Handebol em Manaus”. O estudo tem como mote analisar a figura da mulher amazonense, atleta e ex-atleta de handebol master, a fim de verificar a influência do esporte na qualidade de vida e também como instrumento de integração sociocultural em Manaus.

Regina Kanawati é mestranda em Sociedade e Cultura na Amazônia (Evandro Seixas/Revista Cenarium)

Pretendo destacar a presença e contribuição dessas mulheres enquanto esportistas e seres humanos, sabendo que muitos atletas inspiram uma parcela da população, principalmente os mais jovens, reforçando a representatividade social dessas mulheres (…) Este estudo também abordará o conhecimento sobre a força e a garra da mulher ao se insurgir diante de um sistema patriarcal que a impediu por séculos de contar sua própria história“, destacou Kanawati.

A ex-atleta ressalta, ainda, que o esporte possui áreas de investigação que vão além do aspecto físico, estético e saudável, porém não dissociáveis, e uma dessas áreas corresponde às relações socioculturais que se manifestam por meio da cultura corporal.

Assista à reportagem na TV Cenarium:
Leia mais: Mulheres atletas criam plataforma de mídia e comércio eletrônico com objetivo no esporte feminino
Editado por Adrisa De Góes
Revisado por Gustavo Gilona
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