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‘Desinformação que Mata’: ‘Modelo logístico foi erro grave’, dizem pesquisadores sobre segunda onda da Covid-19
O estudo foi publicado por um grupo de oito pesquisadores (Hugo Moura/Revista Cenarium)
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28 de maio de 2023
Paula Litaiff – Da Revista Cenarium
MANAUS (AM) – O estudo sobre a desinformação na segunda onda da pandemia da Covid-19, no Amazonas, publicado no Journal of Racial and Ethnic Health Disparities, que confrontou as informações divulgadas no boletim Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Atlas Amazonas (ODS Atlas Amazonas), coordenado pelo pesquisador Henrique Pereira, rebateu a teoria do modelo logístico, e não epidemiológico, para prever taxas de crescimento de casos e de óbitos causados pelo novo coronavírus, em junho de 2020.
“O modelo criado pelos autores do ODS Atlas Amazonas foi um erro grave que pode ter contribuído para decisões equivocadas das autoridades de suspender o confinamento e afrouxar as medidas sanitárias na segunda onda da pandemia da Covid-19”, apontou o coordenador da pesquisa publicada no Journal of Racial and Ethnic Health Disparities, Lucas Ferrante.
Em matéria publicada na edição de junho de 2020, da REVISTA CENARIUM, intitulada “O fantasma da Covid-19 na Amazônia – Risco de segunda onda é real”, o pesquisador Henrique Pereira declarou, com base em estudos do ODS Atlas Amazonas, que não haveria possibilidades de um segundo ápice de contaminação do novo coronavírus a curto prazo, “fato” que, segundo ele, faria a capital amazonense ser “a primeira cidade do País a superar a crise”.
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“Todos os vírus estão competindo para se reproduzir, os menos virulentos ganham vantagem porque se transmitem em maior frequência e, depois de certo tempo, interagindo com a população hospedeira, se tornam maioria”, defendeu Henrique, em junho de 2020.
Para chegar a essa conclusão, Henrique Pereira usou o modelo logístico, e não epidemiológico, para prever taxas de crescimento de casos e de óbitos. A projeção estimava que 97% das mortes por Covid-19 deveriam ocorrer até o dia 17 de junho de 2020. Pereira explicou ainda, à época, que a hipótese, não deveria ser confundida com a imunização de rebanho, onde quase toda a população já teria tido contato com o vírus.
Na avaliação do Atlas, se o modelo adotado estivesse corretamente ajustado para a curva de cada um dos municípios examinados, as projeções feitas até o marco de 97% dos óbitos previstos indicariam que Boa Vista, Macapá, Rio Branco e Porto Velho seriam as últimas capitais localizadas na bacia amazônica a controlarem a pandemia. Essa hipótese, segundo os pesquisadores, estaria relacionada com a data do início da transmissão comunitária nessas capitais.
“A aceleração da transmissão começou primeiro em Manaus; 4 dias após, em Belém e Rio Branco, depois em Macapá, após 6 dias, e, finalmente, em Porto Velho, em 8 dias após o início em Manaus. Porém, essas pequenas diferenças em dias não seriam suficientes para explicar o fato de, em Porto Velho, a curva de óbitos ainda não ter atingido sequer o ponto de inflexão, previsto para 18 de junho”, informava o boletim do Atlas ODS Amazonas, em junho de 2020.
Na época, na mesma reportagem publicada pela CENARIUM, Lucas rebatia o estudo do ODS Atlas Amazonas. Ele disse que o declínio do número de internações era resultante do isolamento social, que, apesar de não ter sido mais rigoroso, suavizou a curva projetada anteriormente.
“A teoria não apontava para o fim da pandemia, mas para uma espécie de trégua, o que, infelizmente, ficou comprovado”, concluiu Ferrante. O grupo de pesquisadores coordenado por Ferrante foi o primeiro a dar o alerta de que Manaus passaria por uma segunda onda da Covid-19, por meio de uma publicação, no dia 7 de agosto de 2020, no periódico Nature Medicine, um dos mais prestigiados do mundo. O estudo do Journal of Racial and Ethnic Health Disparities ainda destacaque a segunda onda poderia ter sido contida, se os alertas tivessem sido ouvidos pelas autoridades.
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